domingo, 31 de julho de 2016

Contos brasileiros - O BICHO MANJALÉU.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/pr%C3%ADncipe-princesa-fada-castelo-1503345/

Uma vez existia um velho casado, que tinha três filhas muito bonitas; o velho era muito pobre e vivia de fazer gamelas para vender. Quando foi um dia, chegou à sua porta um moço muito formoso, montado num belo cavalo e lhe falou para comprar uma de suas filhas.
O velho ficou muito magoado e disse que, por ser pobre,
não havia de vender sua filha. O moço disse-lhe que, se não lhe vendesse, o mataria; o velho intimidado vendeu-lhe a moça e recebeu muito dinheiro.
Retirando-se o cavaleiro, o pai da família não quis mais
trabalhar nas gamelas, por julgar que não o precisava mais de então em diante; mas a mulher instou com ele para que não largasse o seu trabalho de costume, e ele obedeceu.
Quando foi na tarde seguinte, apresentou-se um outro
moço, ainda mais bonito, montado num cavalo ainda mais bem aparelhado, e disse ao velho que queria comprar uma de suas filhas.
O pai ficou incomodado; contou-lhe o que tinha sucedido no dia antecedente, e recusou-se ao negócio. O moço o ameaçou também de morte, e o velho cedeu.
Se o primeiro deu muito dinheiro, este ainda deu mais
e foi-se embora.
O velho de novo não quis continuar a fazer as gamelas
e a mulher o aconselhou, até ele continuar. Pela tarde seguinte, apareceu outro cavaleiro ainda mais bonito, e melhor montado, e, pela mesma forma, carregou-lhe a filha mais moça, deixando ainda mais dinheiro.
A família cá ficou muito rica; depois apareceu a velha
pejada e deu à luz a um filho, que foi criado com muito luxo e mimo.
Quando chegou o tempo de o menino ir para a escola,
um dia brigou com um companheiro, e este lhe disse:
— Ah! Tu cuidas que teu pai foi sempre rico!... Ele hoje está assim, porque vendeu tuas irmãs!...
O rapazinho ficou muito pensativo e não disse nada em casa; mas quando foi moço, lá num dia se armou de um
alfanje e foi ao pai e à mãe e lhes disse que lhe contassem a história de suas três irmãs, senão os matava. O pai lhe teve mão, e contou o que se tinha passado antes de ele nascer. O moço então pediu que queria sair pelo mundo para encontrar suas irmãs, e partiu. Chegando a um caminho, viu numa casa três irmãos brigando por causa de uma bota, uma carapuça e uma chave. Ele chegou e perguntou o que era aquilo, e para que prestavam aquelas coisas.
Os três irmãos responderam que àquela bota se dizia
"Bota, me bota em tal parte!" e a bota botava; à carapuça se dizia: "Esconde-me, carapuça!" e ela escondia a pessoa que ninguém a via; e a chave abria qualquer porta.
O moço ofereceu bastante dinheiro pelos objetos, os irmãos aceitaram, e ele partiu. Quando se encobriu da casa, disse: "Bota, me bota na casa de minha irmã primeira".
Quando abriu os olhos, estava lá. A casa era um palácio
ornado e rico, e o moço mandou pedir licença para entrar e falar com a irmã que estava feita rainha. Ela não queria aparecer, porque dizia que nunca tinha tido irmão. Afinal, depois de muita instância, deixou o estrangeiro entrar; ele contou toda a sua história, a irmã acreditou e o tratou muito bem.
Perguntou-lhe como poderia ter chegado ali àquelas brenhas, e o irmão disse-lhe ter o poder da bota. Pela tarde, a rainha se pôs a chorar e o irmão lhe indagou a razão, ao que ela respondeu que seu marido era o rei dos peixes e, quando vinha jantar, era muito zangado, em termos de acabar com tudo, e não queria que ninguém fosse ter ao seu palácio...
O moço disse-lhe que por isso não se incomodasse, que tinha com que se esconder e não ser visto, e era com a
carapuça. Pela tarde veio o rei dos peixes, acompanhado de uma porção de outros, que o deixaram na porta do palácio e se retiraram. Chegou o rei muito aborrecido, dando pulos e pancadas, dizendo: "Aqui me fede a sangue real!" do que a rainha o dissuadia; até que ele tomou banho e se desencantou num belo moço.
Seguiu-se o jantar, no qual a rainha perguntou-lhe:
— Se aqui viesse um irmão meu, cunhado seu, você o
que fazia?
— Tratava e venerava como a você mesma; e se está
aí, apareça.
Foi a resposta do rei. O moço apareceu e foi muito
considerado. Depois de muita conversação, em que contou sua viagem, foi instado para ficar ali, morando com a irmã, ao que disse que não, porque ainda lhe restavam duas irmãs a visitar.
O rei lhe indagou que préstimo tinha aquela bota, e
quando soube do que valia, disse:
— Se eu a apanhasse ia ver a rainha de Castela.
O moço, não querendo ficar, despediu-se e, no ato da saída, o cunhado lhe deu uma escama, e disse-lhe:
— Quando você estiver em algum perigo, pegue nesta
escama, e diga: "Valha-me o rei dos peixes'".
O moço saiu e quando se encobriu do palácio, disse:
"Bota, me bota em casa de minha irmã segunda"; e, quando abriu os olhos, lá estava. Era um palácio ainda mais bonito e rico do que o outro. Com alguma dificuldade da parte da irmã, entrou e foi recebido muito bem. Depois de muita conversa a sua irmã do meio pôs-se a chorar, dizendo que era "por ele estar aí, e, sendo seu marido o rei dos carneiros, quando vinha jantar, era dando muitas marradas, em termos de matar tudo".
O irmão apaziguou-a, dizendo que tinha onde se esconder. Com poucas, chegou uma porção de carneiros com um carneirão muito alvo e belo na frente; este entrou e os outros voltaram.
Chegou o rei muito aborrecido, dando pulos e pancadas, dizendo: "Aqui me fede a sangue real!" do que a rainha o dissuadia; até que ele tomou banho e se desencantou num belo moço.
Seguiu-se o jantar, no qual a rainha perguntou-lhe:
— Se aqui viesse um irmão meu, cunhado seu, você o que fazia?
— Tratava e venerava como a você mesma; e se está aí, apareça.
Foi a resposta do rei. O moço apareceu e foi muito
considerado. Depois de muita conversação, em que contou sua viagem, foi instado para ficar ali, morando com a irmã, ao que disse que não, porque ainda lhe restava uma irmã a visitar.
Na despedida, o rei dos carneiros deu ao cunhado uma
lãzinha, dizendo:
— Quando estiver em perigo, diga: "Valha-me o rei dos carneiros".
Também disse, depois de saber a virtude da bota:
— Se eu pegasse esta bota, ia ver a rainha de Castela.
O moço foi reparando nisto e formou-se logo consigo o plano de ir vê-la. Saiu, e pela mesma forma foi à casa de sua irmã mais moça. Era um palácio ainda mais bonito e rico do que os outros dois. O que lá sucedeu foi o mesmo do que nos palácios das suas irmãs mais velhas. Era o palácio do rei dos pombos, e este, na despedida, deu ao cunhado uma pena, com as palavras:
— Quando se vir nalgum perigo, diga: "Valha-me o rei
dos pombos".
Na despedida, sabendo o rei do préstimo da bota, mostrou também desejos de ir visitar a rainha de Castela.
Logo que o moço se viu longe do palácio, disse: "Bota, bota-me agora na terra da rainha de Castela". Assim foi.
Chegado lá, ele indagou e soube que "era uma princesa que o pai queria casar, e que era tão bonita que ninguém passava pela frente do palácio que não olhasse logo para cima para vê-la na janela; mas a princesa tinha dito ao rei que só casava com o homem que passasse sem levantar a vista."
O estrangeiro foi passar, atravessou toda a distância sem olhar, e a princesa casou com ele.
Depois de casados, ela indagou pela significação daqueles objetos que seu marido sempre trazia consigo; ele tudo lhe contou, e a princesa prestou muita atenção ao prestígio da chave.
O rei, seu pai, tinha em palácio um quarto que nunca se abria, e neste quarto, onde era proibido a todos entrar,
estava, desde muito tempo, trancado um bicho Manjaléu,
muito feroz, que sempre o rei mandava matar e sempre revivia.
A moça tinha muita curiosidade de o ver e, aproveitando a saída do pai e do marido para uma caçada, pegou a chave encantada e abriu o quarto. O bicho pulou de dentro, dizendo: "A ti mesmo é que eu queria!..." e fugiu com ela para as brenhas.
Quando voltaram, os caçadores deram por falta da
princesa, e ficaram muito aflitos. O rei foi ao quarto do Manjaléu, e achou-o aberto e vazio, e o novo príncipe conheceu a sua chave... Ao depois se valeu de sua bota e foi ter onde estava sua mulher. Esta, quando o viu, estando ausente o Manjaléu ficou muito alegre, e quis ir-se embora com ele. Mas o marido não o consentiu, dizendo que ela ficasse para indagar ao monstro onde estava a sua vida, para assim dar cabo dele.
O príncipe foi-se embora. Quando o Manjaléu voltou,
conheceu que ali tinha estado bicho homem; a moça o
dissuadiu, e quando ele se acalmou, ela lhe perguntou onde estava a sua vida. O monstro zangou-se muito, e disse:
— Ah! Tu queres saber de minha vida mais o teu marido, para darem cabo de mim!... Não te digo, não...
Passaram-se dias, sempre a moça instando. Afinal, ele foi amolar um alfanje, dizendo:
— Eu te digo onde está minha vida; mas se eu sentir
qualquer incômodo, conheço que ela vai em perigo e, antes que me matem, mato a ti primeiro, queres?!
A princesa respondeu que sim. O Manjaléu amolou o
alfanje, e disse-lhe:
— Minha vida está no mar; dentro dele há um caixão, dentro do caixão uma pedra, dentro da pedra uma pomba, dentro da pomba um ovo, dentro do ovo uma vela; assim que a vela se apagar, eu morro.
O bicho saiu e foi procurar frutas; chegou o príncipe, soube de tudo e foi-se embora. O Manjaléu veio e deitou-se no colo da moça com o alfanje ali perto. O príncipe chegou com sua bota à praia do mar num instante; lá pegou na escama que tinha, e disse: "Valha-me o rei dos peixes" de repente uma multidão de peixes apareceu, indagando o que ele queria.
O príncipe perguntou por um caixão que havia no fundo do mar; os peixes disseram que nunca o tinham visto, e só se o peixe do rabo coto soubesse. Foram chamar o peixe do rabo coto, e este respondeu:
— Neste instante dei uma encontroada nele.
Todos os peixes foram e botaram o caixão para fora.
O príncipe o abriu e deu com a pedra; aí pegou na lãzinha e disse: "Valha-me o rei dos carneiros" De repente apareceram muitos carneiros e entraram a dar marradas na pedra.
O Manjaléu lá começou a sentir-se doente, e dizia:
— Minha vida, princesa, corre perigo!
E pegou no alfanje; a moça o foi dissuadindo e engambelando. Os carneiros quebraram a pedra e voou uma pomba. O príncipe pegou na pena e disse: "Valha-me o rei dos pombos!" Chegaram muitos pombos e correram atrás da pomba, até que a pegaram. O príncipe abriu-a e achou o ovo. Quando estava nisto, lá o Manjaléu estava muito desfalecido, pegou no alfanje e ia dando um golpe na princesa.
Foi quando cá o príncipe quebrou o ovo, e apagou a vela; aí o bicho caiu sem ferir a moça. O príncipe foi ter com ela, e levou-a para o palácio, onde houve muitas festas.


(Versão de Sergipe, coletada por Sílvio Romero) - Domínio Público.

sábado, 30 de julho de 2016

O Riacho.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/ribeiro-prado-ermo-angra-lago-1031675/

Um riacho da montanha, esquecendo-se de que devia sua água à chuva e a pequenos córregos, resolveu crescer até ficar do tamanho de um rio.
Pôs-se então a atirar-se violentamente de encontro às suas margens, arrancando terra e pedras a fim de alargar seu leito.
Mas quando a chuva acabou a água diminuiu. O pobre riacho viu-se preso entre as pedras que arrancara de suas margens e foi forçado a, com grande esforço, encontrar outro caminho para descer até o vale.

Moral: 

Quem tudo quer tudo perde.

Leonardo da Vinci.


Trabalhando o texto.

Explicar que riacho nada mais é que um pequeno rio. 
Como o rio ele depende das chuvas para manter o seu tamanho e sua saúde.
Para aprender a cuidar das águas clique http://www.smartkids.com.br/trabalho/ecologia

Perguntas:

Porque o riacho não era feliz?

Você não acha que ele já estava em um lugar muito bonito junto à natureza?

O que ele queria ser?

Será que ele agiu corretamente?

Assim somos nós. Cada um de nós tem o corpo perfeito para sua evolução, devendo então cuidar do seu corpo sem desejar ser diferente, pois na natureza, tudo tem seu valor assim como na humanidade, cada um é importante do jeito que é, devendo valorizar o que tem para poder lutar por um mundo melhor.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Lobisomem. Lenda Brasileira.

A lenda do lobisomem é europeia e conta que, da mulher que tiver sete filhas, o sétimo, se for menino, virá com a maldição da lua cheia, quando ele se transforma num animal semelhante a um grande lobo, mas que caminha nas patas traseiras e corre como um cão, tendo o corpo peludo. Quando ataca uma vítima, caso essa não morra, passa a transformar-se, também, em lobisomem. Volta ao normal ao cantar do galo, com as roupas rasgadas, o corpo cansado e gosto de sangue na boca.
Existe, no folclore, o termo licantropia, que designa a maldição que recai sobre um homem quando ele se transforma em lobisomem, visto que a metamorfose não pode ser controlada.

No Brasil, a lenda varia de acordo com a região e, certamente, chegou até nós através dos imigrantes europeus. Em algumas versões é idêntica à versão europeia, em outras, acredita-se que a sucessão de filhos deve ser do mesmo sexo para que a maldição recaia sobre o sétimo filho. Há a versão em que diz que casais com mais de seis filhos, o sétimo, se do sexo masculino, será lobisomem, se do sexo feminino, será bruxa. Outra diz que apenas o sétimo filho varão de um sétimo filho varão carrega a maldição. Quanto à transformação, também varia, sendo que umas dizem que a fera se transforma numa encruzilhada, outras que acontecem quando vê a lua cheia, e que deve procurar um cemitério antes do raiar do sol para voltar ao normal. Em algumas regiões, afirma-se que lobisomem tem preferência por atacar crianças não batizadas, daí a pressa dos pais pelo batismo.

ELITA DE MEDEIROS

A LENDA DO LOBISOMEM. - Domínio Público.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

As borboletas. Vinicius de Moraes - Leia poesia para suas crianças.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=40351&picture=summer-garden-flores


Brancas
Azuis
E pretas

Brincam na luz

As belas borboletas.



Borboletas brancas

São alegres e francas.

Borboletas azuis

Gostam muito de luz.



As amarelinhas

São tão bonitinhas!

E as pretas, então.
..
Oh, que escuridão!



Vinicius de Moraes.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

JOÃOZINHO-SEM-MEDO.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=85182&picture=menino-que-joga

Era uma vez um menino chamado Joãozinho-sem-medo, pois não tinha medo de nada. Andando pelo mundo pediu abrigo em uma hospedaria.
— Aqui não tem lugar — disse o dono. — Mas, se você não tem medo, posso mandá-lo para um palácio.
— Por que eu sentiria medo?
— Porque ali todo mundo sente. Ninguém saiu de lá, a não ser morto. De manhã, a Companhia leva o caixão para carregar quem teve a coragem de passar a noite lá.
Imaginem Joãozinho! Levou um candeeiro, uma garrafa, uma linguiça, e lá se foi.
À meia-noite, estava comendo sentado à mesa quando ouviu uma voz saindo da chaminé:
— Jogo?
E Joãozinho respondeu:
— Jogue logo!
Da chaminé desceu uma perna de homem. Joãozinho bebeu um copo de vinho.
Depois a voz tornou a perguntar:
— Jogo?
E Joãozinho:
— Jogue logo!
E desceu outra perna de homem. Joãozinho mordeu a linguiça. De novo:
— Jogo?
— Jogue logo!
E desceu um braço. Joãozinho começou a assobiar.
— Jogo?
— Jogue logo!
Outro braço.
— Jogo?
— Jogue!
E caiu um corpo, que se colou nas pernas e nos braços, ficando em pé um homem sem cabeça.
— Jogo?
— Jogue!
Caiu a cabeça e pulou em cima do corpo. Era um homenzarrão gigantesco, e Joãozinho levantou o copo
dizendo:
— À saúde!
O homenzarrão disse:
— Pegue o candeeiro e venha.
Joãozinho pegou o candeeiro, mas não se mexeu.
— Passe na frente! — disse Joãozinho.
— Você! — disse o homem.
— Você. — disse Joãozinho.
Então, o homem se adiantou e, de sala em sala, atravessou o palácio, com Joãozinho atrás, iluminando o caminho. Embaixo de uma escadaria havia uma portinhola.
— Abra! — disse o homem a Joãozinho.
E Joãozinho:
— Abra você!
E o homem abriu com um empurrão. Havia uma escada em caracol.
— Desça — disse o homem.
— Primeiro você — disse Joãozinho.
Desceram a um subterrâneo, e o homem indicou uma laje no chão.
— Levante!
— Levante você! — disse Joãozinho. E o homem a ergueu como se fosse uma pedrinha.
Embaixo da laje havia três tigelas cheias de moedas de ouro.
— Leve para cima! — disse o homem.
— Leve para cima você! — disse Joãozinho. E o homem levou uma de cada vez para cima.
Quando foram de novo para a sala da chaminé, o homem disse:
— Joãozinho, quebrou-se o encanto!
E arrancou-se uma perna, que saiu esperneando pela chaminé.
— Destas tigelas, uma é sua.
Arrancou-se um braço, que trepou pela chaminé.
— Outra é para a Companhia, que virá buscá-lo pensando que está morto.
Arrancou-se também o outro braço, que acompanhou o primeiro.
— A terceira é para o primeiro pobre que passar.
Arrancou-se outra perna e ele ficou sentado no chão.
— Pode ficar com o palácio também.
Arrancou-se o corpo e ficou só a cabeça no chão.
— Porque se perdeu para sempre a estirpe dos proprietários deste palácio.
E a cabeça se ergueu e subiu pelo buraco da chaminé.
Assim que o céu clareou, ouviu-se um canto:
— Miserere mei, miserere mei.
Era a Companhia com o caixão, que vinha recolher
Joãozinho morto. E o viram na janela, fumando cachimbo.
Joãozinho-sem-medo ficou rico com aquelas moedas de ouro e morou feliz no palácio. Até um dia em que, ao se virar, viu sua sombra e levou um susto tão grande que morreu.

Alfabetização: livro do aluno / Ana Rosa Abreu – Domínio Público.

Entendendo a história:

Por que o personagem principal da história era chamado de Joãozinho-sem-medo?

Você acha que um menininho normal, com todos os medos que um menino pequeno sente sairia sozinho pelo mundo? Por quê?

Por que você acha que o menino acreditava que ele não tinha medo de nada?

Quais os mantimentos e equipamentos o personagem levou para o castelo? Por que ele teria levado esses itens?

Diga com suas palavras o que aconteceu no palácio.

O que disse o homem quando foram de novo para a sala da chaminé?

No momento em que Joãozinho sem medo passou uma noite no palácio e não teve medo, quebrou-se o encanto que fazia com que o dono do palácio ali morasse e fosse rico, ficando assim Joãozinho com o palácio e uma fortuna.

Como você entende que Joãozinho morreu ao enxergar sua sombra?

A sombra para algumas pessoas que estudam o comportamento humano significa o lado frágil que temos, nossos defeitos e limitações que muitas vezes não queremos admitir.
Joãozinho não tinha medo porque sempre se recusou a admitir que tivesse medo como todo o mundo, então, quando viu a sua sobra, enxergou ali o medo que não queria ver, por isso morreu apavorado.

Moral da história:


Todas as pessoas têm medos e imperfeições, mas ao invés de não admitir isso e não aceitar devemos entender que faz parte do ser humano e trabalhar para aperfeiçoá-las, trocando por bons sentimentos e boas ações.

Atividade: 

Dramatização da história com os personagens principais e algumas crianças que vão interpretar as emoções, como medo, raiva, tristeza, alegria, utilizando máscaras. 

terça-feira, 19 de julho de 2016

O PRÍNCIPE CANÁRIO.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=98516&picture=epalhun

Era uma vez um rei que tinha uma filha. A mãe da menina morrera e a madrasta sentia muito ciúme da enteada; sempre falava mal dela para o rei.
A moça vivia a se desculpar e a se desesperar; porém, a madrasta tanto falou e tanto fez que o rei, embora afeiçoado à filha, acabou dando razão à rainha e decidiu expulsá-la de casa. Contudo, disse que ela deveria ficar em um lugar no qual se instalasse bem, pois não admitiria que fosse maltratada.
— Quanto a isso — disse a madrasta —, fique tranquilo, não pense mais no caso.
E mandou encerrar a moça num castelo no meio do bosque.
Destacou um grupo de damas da corte e as mandou para lá, a fim de fazer companhia a ela, com a recomendação de que não a deixasse sair, e nem mesmo se aproximar da janela. Naturalmente, lhes pagava salários da casa real.
A moça recebeu um aposento bem montado, podendo beber e comer tudo que quisesse: só não podia sair. Todavia, as damas, muito bem pagas e com tanto tempo livre, nem se preocupavam com ela.
De vez em quando, o rei perguntava à mulher:
— E nossa filha, como vai? O que fez de bom?
A rainha, para mostrar que se interessava pela jovem, foi visitá-la. No castelo, assim que desceu da carruagem, foi recebida pelas damas, dizendo-lhe que ficasse tranquila, que a moça estava muito bem e era muito feliz. A rainha subiu um momento até o quarto da moça.
— E então, está realmente bem? Não lhe falta nada, não é? Está com uma bela cor, vejo que a aparência é boa.
Mantenha-se alegre, hein? Até a próxima. — E foi embora.
Chegando ao castelo, disse ao rei que jamais vira sua filha tão contente.
Mas na verdade, sempre sozinha naquele aposento, pois as damas de companhia jamais lhe davam atenção, a princesa passava os dias tristemente debruçada na janela.
Debruçava-se com os braços apoiados no balcão e teria feito um calo nos cotovelos, se não tivesse lembrado de colocar uma almofada embaixo deles.
A janela dava para o bosque e a princesa, durante o dia inteiro, só via os cimos das árvores, as nuvens e a trilha dos caçadores.
Um dia, passou por ali o filho de um rei, que perseguia
um javali. Ele sabia que aquele castelo havia muito tempo estava desabitado, e se admirou ao ver sinais de vida: panos estendidos entre as ameias, fumaça nas chaminés, vidraças abertas.
Observava tudo, quando viu, em uma janela lá do alto, uma bela moça debruçada, e sorriu para ela. A moça também viu o príncipe, vestido de amarelo e com polainas de caçador e espingarda, que olhava para cima e sorria para ela; então, ela também sorriu para ele.
Ficaram assim uma hora, olhando-se e rindo, e também fazendo gestos e reverências, pois a distância que os separava não permitia outras comunicações.
No dia seguinte, aquele filho de rei vestido de amarelo, com a desculpa de ir caçar, estava lá de novo, e ficaram se olhando por duas horas. Dessa vez, além dos sorrisos, gestos e reverências, puseram também uma das mãos no coração e acenaram lenços durante um bom tempo.
No terceiro dia, o príncipe ficou três horas e eles chegaram até a mandar um beijo, um para o outro, na ponta dos dedos.
No quarto dia, ele estava lá como sempre quando, de trás de uma árvore, apareceu uma bruxa que começou a zombar:
— Uah!Uah!Uah!
— Quem é você? De que está rindo? — Disse energicamente o príncipe.
— Onde é que já se viu dois namorados tão estúpidos a ponto de ficar tão distantes!
— Se soubesse como fazer para alcançá-la, avozinha...
— disse o príncipe.
— Acho os dois simpáticos — disse a bruxa — e vou ajudá-los.
E, indo bater à porta do castelo, deu às damas de companhia um velho livro ressequido e besuntado, dizendo que era um presente para a princesa, para que se distraísse lendo.
As damas logo o levaram para a moça, que imediatamente o abriu e leu: “Este é um livro mágico”. Se virar as páginas no sentido certo, o homem se transforma em pássaro, e se virar as páginas ao contrário, o pássaro se transforma de novo em homem".
A moça correu até a janela, pousou o livro no balcão e começou a virar as páginas às pressas, enquanto observava o jovem vestido de amarelo, em pé no meio da trilha.
Ela viu quando o jovem vestido de amarelo mexia os braços, agitava as asas e se transformava em um canário. O canário alçava voo, eis que já era dono das alturas, acima das árvores, e eis que se dirigia a ela e pousava na almofada do balcão.
A princesa não resistiu à tentação de pegar aquele belo canário na palma da mão e beijá-lo; depois lembrou que ele era um jovem e se envergonhou; a seguir, lembrou-se disso de novo e já não se envergonhou. Mas não via a hora de transformá-lo em um jovem como antes.
Retomou o livro, folheou-o ao contrário, e eis que o canário arrepiava as penas amarelas, agitava as asas, mexia os braços e era outra vez o rapaz vestido de amarelo, com os trajes de caçador, que se ajoelhava aos pés dela e lhe dizia:
— Eu te amo!
Depois que declararam todo seu amor, já era noite.
Lentamente, a princesa começou a virar as páginas do livro.
O jovem, olhando-a nos olhos, se transformou outra vez em canário, pousou no balcão e depois nas telhas do beirai, entregou-se ao vento e desceu voando em grandes círculos, indo parar num ramo de árvore baixo.
Então, ela virou as páginas ao contrário, o canário voltou a ser príncipe, o príncipe pulou para o chão, chamou os cães com um assobio, mandou um beijo em direção à janela e se afastou pela trilha.
E, assim, todos os dias o livro era folheado para fazer o príncipe voar até a janela no alto da torre, folheado de novo para devolver-lhe forma humana, depois folheado outra vez para fazê-lo voar e folheado de novo para que pudesse voltar para casa. Os dois jovens nunca haviam sido tão felizes.
Um dia, a rainha foi visitar a enteada. Passeou pelo aposento, dizendo sempre:
— Você está bem, não? Acho que está um pouco magra, mas não é nada sério, não é verdade? Você nunca tão bem, não?
Entretanto, para certificar-se de que tudo estava sob controle, abriu a janela, olhou para fora e, na trilha lá embaixo, viu o príncipe vestido de amarelo que se aproximava com seus cães. "Se essa dengosa acha que pode bancar a sedutora na janela, vou lhe dar uma lição", pensou.
Pediu para a jovem ir preparar um copo de água com açúcar. Assim que se viu sozinha, arrancou cinco ou seis alfinetes do penteado e os espetou na almofada, de modo que ficassem com as pontas para cima, mas sem serem notados. "Ela vai aprender a ficar debruçada no balcão!"
A moça voltou com a água com açúcar, e ela disse:
— Hum, passou a sede, beba você, queridinha! Tenho que voltar para perto de seu pai. Não está precisando de nada, não é? Então, adeus. — E foi embora.
Logo que a carruagem da rainha se afastou, a moça virou rapidamente as páginas do livro, o príncipe se transformou em canário, voou até a janela e se lançou como uma flecha na almofada.
Imediatamente se ouviu um agudo trinado de dor. As penas amarelas se tingiam de sangue, pois o canário enfiara os alfinetes no peito. Ergueu-se com um desesperado bater de asas, confiou-se ao vento, mergulhou num esvoaçar incerto e pousou no chão com as asas abertas.
Assustada, sem saber exatamente o que acontecera, a princesa virou depressa as folhas ao contrário, esperando que,  se lhe devolvesse a forma humana, os ferimentos desaparecessem.
Porém, ai, ai, ai, o príncipe ressurgiu, jorrando sangue por profundas feridas que lhe dilaceravam no peito a roupa amarela. Jazia de bruços, cercado por seus cães.
O ulular dos cães atraiu os caçadores, que o socorreram e o carregaram numa liteira de galhos, sem que pudesse ao menos alçar os olhos para a janela de sua amada, ainda aterrorizada de dor e espanto.
Conduzido ao seu palácio, o príncipe não dava sinais de recuperação e os médicos não eram capazes de confortá-lo. As feridas não cicatrizavam e continuavam a doer.
O rei, seu pai, espalhou cartazes por todos os cantos,
prometendo tesouros a quem soubesse como curar o jovem; mas ninguém se apresentava.
Entretanto, a princesa se consumia por não poder chegar perto do amado. Começou a cortar os lençóis em tiras finas e a amarrá-las de modo a fazer uma corda comprida.
Com essa corda, certa noite, escapou da altíssima torre.
Saiu andando pela trilha dos caçadores. Mas, entre a escuridão de breu e os uivos dos lobos, achou que era melhor esperar o amanhecer e, tendo encontrado um velho carvalho com o tronco oco, entrou e se acomodou lá dentro, adormecendo logo, cansada como estava.
Quando despertou ainda era noite alta: pareceu-lhe ter ouvido um assobio. Apurou os ouvidos e escutou outro assobio, depois um terceiro e um quarto.
Logo distinguiu quatro chamas de vela que se aproximavam. Eram quatro bruxas, que vinham dos quatro cantos do mundo, e haviam marcado encontro embaixo daquela árvore.
Sem ser vista, a princesa espiava por uma fenda do tronco, vendo as quatro velhas com as velas nas mãos, que se faziam grandes festas e zombavam:
— Uah!Uah!Uah!
Acenderam uma fogueira junto à árvore e se sentaram para se aquecer e assar alguns morceguinhos para o jantar.
Depois de comer bastante, começaram a contar umas às outras o que tinham visto de interessante pelo mundo.
— Vi o sultão dos turcos que comprou vinte mulheres novas.
— Vi o imperador dos chineses que deixou crescer o rabo-de-cavalo até alcançar três metros.
— Vi o rei dos canibais que comeu o camareiro por engano.
— Vi o rei daqui de perto que tem o filho doente e ninguém sabe a cura, porque só eu sei.
— E qual é? — perguntaram as outras bruxas.
— No aposento dele há um taco solto. Basta erguer o taco e se encontra uma ampola; na ampola há um unguento que fará desaparecer todas as feridas dele.
De dentro da árvore, a princesa estava para dar um grito de alegria: teve de morder um dedo para ficar quieta.
Quando já tinham dito tudo que tinham para dizer, as bruxas se despediram cada uma seguiu seu caminho.
A princesa pulou para fora da árvore e, ao amanhecer, se pôs a andar em direção à cidade. Na primeira loja de coisas usadas que encontrou, comprou uma velha roupa de médico e uns óculos.
Assim, disfarçada, foi bater no palácio real. Vendo aquele doutorzinho mal-ajambrado, os serviçais não queriam deixá-lo entrar, mas o rei disse:
— De qualquer jeito não há de fazer mal a meu pobre filho, que pior do que está não pode ficar. Deixem este também tentar.
O falso médico pediu que o deixassem sozinho com o doente, o que lhe foi concedido.
Quando chegou à cabeceira do amado, que gemia inconsciente em sua cama, a princesa queria explodir em lágrimas e cobri-lo de beijos, mas se conteve, pois devia executar rapidamente as prescrições da bruxa.
Pôs-se a andar de um lado para outro, até encontrar um taco solto: levantou-o e encontrou uma pequena ampola cheia de unguento.
Com esse unguento, pôs-se a esfregar as feridas do príncipe; bastava passar a mão cheia de unguento em cima da ferida para que ela desaparecesse. Toda contente, chamou o rei, e o rei viu o filho sem feridas, com o rosto corado, que dormia tranquilamente.
— Pegue o que quiser, doutor — disse o rei. — Todas as riquezas do tesouro do Estado são para o senhor.
— Não quero dinheiro — disse o médico. - Dê-me apenas o escudo do príncipe com o brasão da família, a bandeira do príncipe e sua jaqueta amarela, aquela perfurada e cheia de sangue.
E tendo recebido os três objetos, foi embora.
Após três dias, o filho do rei saiu de novo para caçar.
Passou perto do castelo, em meio ao bosque, mas nem levantou os olhos para a janela da princesa. Mas ela pegou o livro, folheou-o, e o príncipe, mesmo contrariado, foi obrigado a se transformar em canário.
Voou até o aposento e a princesa o fez se transformar de novo em homem.
— Deixe-me ir embora — disse ele —, não lhe basta ter me ferido com seus alfinetes e ter me causado tanto sofrimento?
De fato, o príncipe perdera todo o amor pela moça, pensando que fosse ela a causadora de sua desgraça.
A moça estava a ponto de desmaiar.
— Mas eu o salvei! Fui eu quem o curou!
— Não é verdade — disse o príncipe. — Fui salvo por um médico forasteiro, que não pediu outra recompensa além do meu brasão, da minha bandeira e da minha jaqueta ensanguentada!
— Eis o seu brasão, eis a sua bandeira e eis a sua jaqueta! Era eu aquele médico! Os alfinetes foram uma crueldade da minha madrasta!
O príncipe, atordoado, olhou-a nos olhos por um momento.
Jamais lhe parecera tão linda. Caiu a seus pés, pedindo- lhe perdão e declarando toda sua gratidão e seu amor.
Na mesma noite, disse ao pai que queria casar com a moça do castelo do bosque.
— Você só pode desposar a filha de um rei ou de um imperador — disse o pai.
— Desposo a mulher que me salvou a vida.
E prepararam as núpcias, convidando todos os reis e as rainhas da região. Veio também o rei, pai da princesa, sem saber de nada. Quando viu se adiantar a noiva, exclamou:
— Minha filha!
— Como? — Disse o rei dono da casa. — A noiva de meu filho é sua filha? E por que não nos disse?
— Porque — disse a noiva — não me considero mais filha de um homem que me deixou ser aprisionada por minha madrasta. — E apontou o indicador para a rainha.
O pai, ao ouvir todas as desgraças da filha, foi tomado de pena por ela e de desdém pela sua pérfida mulher. Nem esperou voltar para casa para mandar prendê-la. E, assim, o casamento foi celebrado com satisfação e alegria por todos, exceto por aquela desgraçada.

Alfabetização : livro do aluno / Ana Rosa Abreu - Domínio Público. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

domingo, 17 de julho de 2016

O Sol e a Lua. Historinha para trabalhar ecologia.

Nunca ninguém diria, quando o Sol e a Lua se conheceram, que seria um caso de amor à primeira vista. Mas a verdade é que assim foi.
Ainda o mundo não era mundo e já os dois trocavam olhares de enlevo, já os dois se iluminavam como candeias acesas na escuridão do universo.
Quando, de uma enorme explosão cósmica, a Terra surgiu, logo o Sol e a Lua decidiram velar por aquele pedaço de matéria, que não era mais do que uma massa disforme e sem vida.
O Sol encarregou-se de tratar dos solos. E não tardou que altas montanhas se erguessem, que árvores frondosas enfeitassem os vales e que planícies infindáveis se fizessem perder no olhar.
Depois nasceram as pedras e sempre soube o Sol colocá-las no local preciso: ora no cimo dos montes escarpados, ora dispersas, salpicando o solo fértil das terras planas, até se tornarem areia fina, escondida sob os leitos silenciosos dos rios.
À Lua coube a tarefa de criar as águas. Águas profundas que dividiram grandes pedaços da Terra e águas mais serenas que desciam das montanhas e se alongavam pelas planícies.
Tudo perfeito. Mas acharam, o Sol e a Lua, que alguma coisa faltava naquele mundo à medida. E como sempre se haviam entendido, a novas tarefas se propuseram.
Assim surgiram animais de toda a espécie: grandes, pequenos, uns mais dóceis, outros mais atrevidos, uns que caminhavam pelo chão, outros que se aventuravam pelos ares e ainda outros que só habitavam o reino das águas.
Agora, sim. Todos viviam em harmonia: o mundo do Sol e o mundo da Lua. E eles continuavam cada vez mais enamorados.
O Sol aquecia a Terra e dava-lhe a vida. A Lua embalava-a e dava-lhe sonhos repousantes e noites lindas, tão claras que até pareciam dia.
Mas ― todas as histórias têm um senão ― certa altura em que Sol e Lua andavam entretidos nas suas tarefas, vislumbraram, bem lá no meio de uma planície, uma espécie de animal que não se lembravam de ter colocado onde quer que fosse.
Não voava, não nadava, nem andava de quatro patas. Pelo contrário, erguia-se como o pescoço de uma girafa e parecia querer ser o rei dos animais.
Decidiram vigiá-lo, não fosse ele perturbar o encanto daquele mundo.
Vigiaram dia e noite, noite e dia, sem interferir. E, ao longo dos séculos, no correr dos milénios, não gostaram do que viram.
―Então que faz ele às árvores que eu ergui? ― interrogava-se o Sol.
―E que faz ele das águas que eu pus a correr? ― indignava-se a Lua.
De comum acordo combinaram assustá-lo. Mandaram fortes raios de luz sobre a Terra, mas o animal protegeu-se em quantas sombras havia.
Mandaram trombas de água infindáveis, mas ele fechou-se no seu covil e de lá não saiu enquanto os rios não voltaram ao normal.
E tudo o que Sol e Lua puderam fazer não foi suficiente para parar aquela espécie, que ainda hoje habita um planeta chamado Terra e de quem diz ser seu legítimo dono.
Vocês já ouviram falar dele?
Pois nunca esse bichinho reparou no trabalho do Sol, nem no labor da Lua. Nem em quanto eles são apaixonados um pelo outro. Nem em quanto eles querem bem a esse planeta perdido na imensidão do Universo.
E é por tudo isto que vos contei, acreditem, que a Lua tem aquele ar sempre tão triste, quando, nas noites em que está cheia, ela nos olha sempre como num queixume.
E é também por causa disso que o Sol por vezes se esconde atrás de nuvens sombrias: vai buscar conforto à Lua e lembrar-lhe, sim, que nunca é demais lembrar, o quanto ele é apaixonado por ela.

Livro: Histórias Que Acabam Aqui.

Texto: Teresa Lopes

Ilustrações: Sara Costa - Domínio Público.

Tema: Ecologia, a ação do homem sobre a natureza.

Explicar que o homem não é dono do planetinha, que recebemos de Deus a oportunidade de usarmos suas riquezas com muito cuidado e respeito à natureza que é tão generosa nos fornecendo frutos e tudo o que precisamos para viver, mas sem abusar nem destruindo o que não nos pertence. Perguntar como é o mundo em que queremos viver.
Através do diálogo concluir que temos que cuidar do planeta para as novas gerações poderem dele usufruir também.

Levar imagens de destruição e depois solicitar que façam um desenho do mundo onde eles querem viver.