sábado, 17 de outubro de 2015

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS. Um pouco de teoria. - MARAVILHOSO!!!!!!

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/livro-leitura-relax-lil%C3%A1s-banco-759873/


“... a contação estimula o imaginário, toca o coração e alimenta o espírito.”

(Maria Ignês de Araújo Mendes)

Relembrando: Contar histórias...

·       Desenvolve a linguagem, a memória e o raciocínio;
·       Desperta o interesse e a busca pelos livros;
·       Promove a aprendizagem;
·       Proporciona divertimento, satisfação e alegria;
·       Melhora a concentração;
·       Desperta o imaginário e as emoções;
·       Amplia, transforma, enriquece a nossa experiência de vida;
·       Sensibiliza, acalma, amplia o conhecimento;
·       Estimula a criatividade e o senso artístico

Crianças abaixo de 12 anos ainda não são capazes de raciocinar sobre o abstrato, então a transmissão de valores morais é melhor compreendida e assimilada através de histórias, nas quais elas possam se identificar.

“Contar histórias não é um ato apenas intelectual, mas espiritual e afetivo.”

(Eva L. Trierveiler do Nascimento)

Passos para chegar à narração:

1 – Escolhendo a história:

·       Saber o que escolher, o que vai contar considerando para quem e com que objetivo.
Para orientar a escolha dos textos úteis é importante saber exatamente os assuntos preferidos relacionados às faixas etárias:

Até 3 anos: histórias de bichinhos, de brinquedos, de animais com características humanas (falam, usam roupas, tem hábitos humanos), histórias cujos personagens sejam crianças.
Entre 3 e 6 anos: histórias com bastante fantasia, histórias com fatos inesperados e repetitivos, cujos personagens são crianças ou animais.

7 anos: Aventuras no ambiente conhecido (a escola, o bairro, a família, etc.) histórias de fábulas, fadas.

8 anos: histórias que utilizam a fantasia de forma mais elaborada, histórias vinculadas à realidade.

9 anos: aventuras em ambientes longínquos (selva, oriente, fundo do mar, outros planetas), histórias de fadas com enredo mais elaborado, histórias humorísticas, aventuras, narrativas de viagens, explorações, invenções.

10 a 12 anos: narrativas de viagens, explorações, invenções, mitos e lendas.
(Vania Dohme)
·       Conhecer em profundidade e detalhadamente a história que contará.  Ler várias vezes, de modo despretensioso. Divertir-se com ela, captar a mensagem nela implícita, e identificar seus elementos essenciais. (o narrador deve estar sensibilizado para o que quer narrar, se identificar, apreciar a história, para que consiga transmiti-la com satisfação e emoção).
·       Observar o vocabulário, se está de acordo com a idade e o contexto vivenciado pelas crianças.

2 – Estudo da estrutura da história:

·       Não decorar. Destacar: 1 – personagens e suas características; 2 – estrutura do enredo do conto (introdução, acontecimentos principais e secundários, clímax e desfecho); 3 – diálogos; 4 – ambientação. Preparar como começar e finalizar o momento da contação e narrá-lo no ritmo e tempo que cada narrativa exige.
·       Evitar descrições imensas e com muitos detalhes, para que o campo fique mais favorável ao imaginário da criança.

3 – Preparação para a contação:
·       Escolha de recursos auxiliares:
Usar o próprio livro, gravuras, cenário, fantoches, dobraduras, cineminha, objetos, dedoches.
“É importante não abusar de recursos visuais na contação, com excesso de estimulação sensorial que resulte no desvio da atenção do fio da narrativa.”
(Regina Machado, 2004)

“O uso de objetos durante a contação deve ocorrer de forma que não impeça o jogo imaginativo e sem levar o narrador a se transformar em um ator.” (Cléo Busatto).

·       Quanto ao espaço físico, é sugerido ambientes fechados, que evitem a dispersão e aconselha-se o aconchego e a proximidade.

“CONTAR HISTÓRIAS É UMA ARTE... E TÃO LINDA!!! É ELA QUE EQUILIBRA O QUE É OUVIDO COM O QUE É SENTIDO, E POR ISSO NÃO É NEM REMOTAMENTE DECLAMAÇÃO OU TEATRO... ELA É O USO SIMPLES E HARMÔNICO DA VOZ.” (Fanny Abramovich).

“Narrar significa a capacidade de traduzir oralmente as imagens contidas no texto e, assim, encontrar o melhor caminho para suscitá-la.” (Cléo Busatto)

Para tanto, aponta três vias: ritmo, intenção e imagens, que podem ser verbais, sonoras e corporais.

IMAGENS VERBAIS: detecção das descrições que suscitam no ouvinte imaginar sobre as características físicas e psicológicas dos personagens e os espaços onde a narrativa acontece. Ex: “mas a menor era tão linda que até o sol que já vira tanta coisa se alegrava ao iluminar seu rosto” (Rei Sapo) – essa descrição leva o ouvinte a imaginar a aparência física da princesa.

IMAGENS SONORAS: são os sons onomatopaicos a sugerir visualizações da narrativa. Ex: “e a princesa ouviu uns ploc, ploc, ploc nas escadarias de mármore do castelo” (Rei Sapo) – os ploc, ploc, ploc estimulam a imaginação, que tenta identificar quem está produzindo esse ruído.

IMAGENS CORPORAIS: são os movimentos espontâneos que se traduzem em imagens e se relacionam com a narrativa, de modo a associar a linguagem corporal ao contexto narrativo.

Uma comunicação efetiva requer um conjunto de elementos para se concretizar. Cinco aspectos básicos compõem o aperfeiçoamento da expressividade da voz e fala:

1 – CORPO E IMPORTÂNCIA DO OLHAR:

·       postura corporal ereta e equilibrada;
·       musculatura relaxada;
·       o gesto, assim como qualquer outro movimento corporal, deve estar entrelaçado ao dito e cumpre o papel de complementação e não de protagonista da comunicação, lugar delegado à palavra dita.
·       Contato olho a olho: manutenção de interesse, envolve o ouvinte e o valoriza, preenche o silêncio, criando expectativa e interesse para o que está para ser dito.

2 – ARTICULAÇÃO:

·       deve ser realizada com precisão e clareza;
·       garantia de compreensão do conteúdo da história;
·       deve soar de forma simples e natural;
·       Treino: realizar a leitura do conto articulando bem cada sílaba das palavras.
“Os porquinhos Juca, Pipo e Lilo já são porquinhos adultos e resolveram cada um construir a sua própria casa, que seria o lar de sua família, no futuro.” (Será que o lobo é mau?)

3 – COORDENAÇÃO RESPIRAÇÃO-FALA:

·       coordenar o ato de respirar com a emissão das palavras;

·       Pausa (palavra mágica para o controle respiratório): 

não pode competir com a mensagem, aproveitar-se dos sinais de pontuação, aproveitar para criar um clima de suspense na narrativa (mas não pode ser muito prolongada), dar significado ao que se diz.

         “Pipo é um pouco mais organizado e resolveu fazer sua casa de madeira e galhos de árvores, para suportar ventos e chuvas. Assim que terminou a casa foi descansar, pois estava muito cansado.” (Será que o lobo é mau?)

4      – PROJEÇÃO DA VOZ NO AMBIENTE:

Reconhecimento da produção da voz e fala do narrador e o ambiente onde ocorrerá a narração.

5      – MODULAÇÃO:

Refere-se a variações na entonação da fala, concedendo a mesma sentido e vivacidade.

·       ENTONAÇÃO: 

confere a musicalidade na voz. Variações de frequência e de intensidade – importante o narrador conhecer sua própria voz e as diversas maneiras como ela pode se apresentar.
“Tudo ia muito bem, até que chegou a primavera, a mais bela das estações. Qual o problema? O problema é que Zoé, esse é o nome do lobo, é alérgico a pólen de flores. Ele costuma espirrar muito, tossir sem parar, ficar com os olhos vermelhos e ter coceiras no nariz e, às vezes, coçar todo o corpo sem conseguir parar.” (Será que o lobo é mau?)

·       RITMO: 

variamos a velocidade da fala de acordo com o que se quer enfatizar na narração.
“O lobo não conseguiu sequer pedir desculpas ao porquinho, muito menos explicar que precisava de ajuda, pois Juca fugiu apavorado e foi se esconder na casa de seu irmão Pipo.” (Será que o lobo é mau?)

·       É através da modulação que podemos transmitir as emoções e intenções da história.
“O lobo ficou muito chateado pelo que aconteceu, mas decidiu ir até a casa do porquinho Lilo, não apenas para que eles lhe ajudassem a trocar o remédio, mas para pedir desculpas e avisar que assim que melhorasse da alergia iria ajudar a reconstruir as casas dos dois porquinhos.”

·       Identificar palavras-chave fundamentais ao contexto narrativo e colocar ênfase nas mesmas.
“Juca construiu uma casa de palha e assim que terminou foi dormir, que é o que ele mais gosta de fazer. E Juca pretende dormir bastante, agora que não tem sua mãe por perto para lhe alertar sobre a preguiça.”

·       O clima de uma passagem do conto e as características de um personagem podem ser melhor introjetados pelos ouvintes se a voz do narrador apresentar flexibilidade e nuances variadas.
“Perto de onde foram morar Juca, Pipo e Lilo mora um lobo, que eles pensavam que era mau. Mas estavam enganados, pois o lobo já estava idoso, tinha orelhas e nariz muito grandes e apesar da aparência de mau era, na verdade, um lobo bom, quieto e sem muitos amigos.”

“Assim, era uma vez... de boca em boca, de boca para ouvidos... a palavra, protagonista principal da arte de contar histórias. Revestida de recursos (modulação, articulação, pausas, projeção), bem acompanhada do gesto, do movimento corporal, do olhar e moldada à estrutura da narrativa oral, melhor ainda pode continuar seu destino de desde sempre fazer imaginar e encantar e também pode contribuir de modo efetivo para a prática educativa.”

(Lúcia Helena F Neto, Klívia Nayá B. da Silva e Isabella F de Arruda)

Um comentário:

Gracita disse...

Boa noite Jeanne
Dicas excelentes e maravilhosas
Amo contar histórias
São nestes momentos que as relações de afetividade se consolidam
Um ótimo domingo
Beijos