domingo, 1 de novembro de 2015

Alice no pais das Maravilhas Capítulo 4 O coelho manda Bill O Lagarto.


Capítulo 4
O coelho manda Bill O Lagarto.

Era o Coelho Branco, voltando vagarosamente, olhando ansiosamente para trás, como se tivesse perdido algo. Alice ouvia-o resmungando consigo mesmo, “A Duquesa! A Duquesa! Oh, minhas queridas patas! Oh minha pele e bigodes! Ela irá me executar, tão certo quanto os furões são furões! Onde posso tê-los derrubado, eu queria saber!”
Alice adivinhou no mesmo momento que o Coelho estava procurando pelo leque e o par de luvas brancas, e ela muito naturalmente começou a ajudá-lo na procura, mas os objetos não estavam por lugar nenhum à vista... tudo parecia ter mudado desde que ela nadara no lago; e o grande salão, com a mesa de vidro e a pequena porta desaparecera completamente.
Logo o Coelho percebeu Alice, que procurava pelas luvas. Ele disse em tom enraivecido: “O que, Mary Ann, você está fazendo aqui fora? Vá já para casa, já, e traga-me um par de luvas e um leque! Rápido, já!”
E Alice estava tão assustada que correu na direção que ele apontava, sem tentar explicar-lhe o erro cometido.
“Ele tomou-me por sua empregada”, a menina dizia para si mesma enquanto corria.
“Como ele vai ficar surpreso quando descobrir quem eu sou! Mas seria melhor pegar seu leque e luvas... isto é, se eu puder encontrá-los.” Ao falar estas palavras, Alice chegou numa bonita casinha, na porta da qual havia uma placa de latão bem brilhante com o nome “C. BRANCO” gravado. Ela entrou sem bater, e subiu apressadamente as escadas, com muito medo de que pudesse encontrar a Mary Ann verdadeira e ser expulsa da casa antes de encontrar o leque e as luvas.
“Que estranho isso parece”, Alice disse para si mesma, “receber ordens de um coelho! Imagine Dinah dando-me ordens!”, e ela começou a imaginar o que poderia acontecer.
“Miss Alice! Venha cá e apronte-se para sua caminhada.” “Já vou em um minuto, ama! Mas eu tenho que cuidar desse buraco de rato até Dinah voltar, e ver se o rato não foge.”.
“Eu acho”, Alice continuou, “que eles não iriam deixar Dinah ficar em casa se ela começasse a dar ordens desse jeito.”
Nesse instante a menina percebeu que estava dentro de um pequeno quarto arrumado com uma mesa em uma vitrine e sobre ela (como Alice desejara), um leque e dois ou três pares de luvas brancas limpas. Ela apanhou o leque e um par de luvas e já estava deixando o quarto quando seus olhos caíram sobre uma garrafa que estava perto da janela. Não havia nenhuma etiqueta desta vez com as palavras “BEBA-ME”, mas, no entanto, ela desarrolhou e colocou-a nos lábios.
“Eu sei que algo interessante vai certamente acontecer”, ela disse para si mesma, “sempre que eu bebo ou como alguma coisa por aqui. Então, vou ver o que esta garrafa faz. Eu espero que me faça crescer novamente, eu estou realmente cansada de ser essa coisinha.”
E a bebida fez efeito de verdade, e muito mais rápido do que Alice esperava: antes que ela tivesse bebido metade da garrafa, percebeu sua cabeça pressionando contra o teto, e então teve que parar para salvar seu pescoço de ser quebrado. Ela rispidamente deixou de lado a garrafa, dizendo para si mesma: “É o suficiente... eu espero não crescer mais, porque se isso não acontecer, eu não vou poder sair pela porta... eu queria não ter bebido tanto!”


Nossa! Era muito tarde para desejar isso! Ela continuou crescendo e crescendo, e logo precisou ajoelhar-se no chão. Em outro minuto não havia nem mesmo um quarto para isso, e ela tentou deitar-se com um cotovelo contra a porta e o outro braço sobre a cabeça! Alice continuava a crescer e, como último recurso, ela colocou um braço para fora da janela e um pé para dentro da chaminé, dizendo para si mesma “Agora eu não posso fazer mais nada, o que quer que seja que aconteça. O que vai ser de mim?”
Felizmente para Alice, a pequena garrafa mágica já fizera todo seu efeito, e ela não cresceu mais: ainda era bem desconfortável e parecia não haver nenhum tipo de chance de ela sair do quarto novamente. Não admira que se sentisse infeliz.

“Era bem melhor em casa”, pensou a pobre Alice, “ninguém fica crescendo e diminuindo, e recebendo ordens de ratos e coelhos. Eu quase desejo não ter entrado na toca do coelho... mas, mas, é tão curioso, sabe esse tipo de vida! Eu queria saber o que pode ter acontecido comigo. Quando eu lia contos de fada, ficava imaginando que esse tipo de coisas nunca acontece e agora estou aqui no meio de um! Deveria haver um livro escrito sobre mim, deveria sim! E quando eu crescer, eu vou escrever um... mas... eu já cresci...”, ela continuou com uma vozinha triste, “não há mais espaço para eu crescer aqui.”
“Mas então”, pensou Alice, “eu não vou nunca ficar mais velha do que sou agora? Isso é um conforto, de qualquer maneira... nunca ficar velha... e então... ter sempre que estudar. Oh! eu não gostaria disso!”
“Ah, sua bobinha”, ela respondeu para si mesma. “Como você quer estudar aqui? Afinal esse quarto já está tão pequeno para você, quanto mais para livros de escola!”
E então ela continuou, fingindo que perguntava de um lado e respondia do outro até que alguns minutos depois ela ouviu uma voz lá fora e ficou atenta.
“Mary Ann! Mary Ann!”, dizia a voz. “Traga-me minhas luvas imediatamente!”. Então se ouviu passadas na escada. Alice sabia que era o Coelho vindo procurar por ela. A menina tremia tanto que começou a chacoalhar a casa, quase esquecendo que ela agora era quase mil vezes maior que o Coelho e não havia razão para temê-lo.
O Coelho chegou até a porta e tentou abri-la. Mas como a porta abria para dentro e o cotovelo de Alice estava contra ela, nada conseguiu. A menina ouviu uma vozinha dizendo baixinho:
“Então eu vou dar a volta e entrar pela janela.”
“Isso você não vai fazer”, pensou Alice e, depois de esperar que o Coelho pudesse estar embaixo da janela ela repentinamente esticou a mão e tentou apanhá-lo fazendo um movimento no ar. Ela não pegou nada, mas ouviu um pequeno grito e uma queda, e um barulho de vidro quebrado, de onde ela concluiu que provavelmente o Coelho caíra em uma estufa ou algo do tipo.


Em seguida uma voz irada, do Coelho: “Pat! Pat! Onde está você?” E então uma voz que ela não ouvira ainda disse:
“Eu estou aqui! Colhendo maçãs, meu senhor.”
“Colhendo maçãs, certamente”, retrucou o Coelho nervosamente. “Aqui, venha me livrar disso” (Sons de mais vidros quebrados.) “Agora me diga, Pat, o que é isso na janela?”
“Com certeza é um braço, meu senhor!” (Ele pronunciava “Arrum.
 “Um braço, seu ganso burro! Quem já viu um desse tamanho? Ele toma toda a janela!”
“Com certeza, meu senhor! Mas que é um braço, isso é!”
“Bem, de um jeito ou de outro, vá e tire-o de lá.”
Houve um grande silêncio depois disso, com alguns cochichos de vez em quando, tipo “Certo, eu não gosto disso, meu senhor, nadinha, nadinha!” “Faça o que eu mando seu covarde!”. No fim de uns minutos Alice esticou sua mão novamente e fez outro movimento no ar. Dessa vez foram dois gritinhos e mais som de vidro quebrado.
“Quantas estufas têm lá!”, pensou Alice. “Eu gostaria de saber o que eles vão fazer”! Para puxar-me para fora da janela, o que será que eles vão poder! Tenho certeza que eu não quero ficar aqui muito tempo!
Ela esperou por algum tempo sem ouvir nada mais. Por fim, ouviu um barulhão de rodas de uma carroça e o som de muitas vozes falando juntas. Ela conseguiu compreender as palavras: “Onde está a outra escada... Por quê?... Eu só trouxe uma. Bill pegou a outra... Bill! Traga-me a escada aqui rapaz... Aqui, coloque-as num canto. Não, amarre-as juntas primeiro.”
“Oh! eles irão fazer bem o bastante. Não seja curioso... Aqui Bill! Agarre esta corda! O teto aguentará! Cuidado com a telha solta... Lá vem ela! Oh! está caindo! Abaixem as cabeças! (um barulho de coisa quebrada) Agora, o que aconteceu? Foi Bill, eu acho... Quem vai entrar na chaminé? Eu não! Vai sim! Eu não vou também! Bill foi escolhido para descer. Aqui, Bill! O patrão diz que você é quem vai descer pela chaminé.”
“Oh! Então o Bill vai descer pela chaminé, certo?” pensou Alice consigo mesma. “Eles colocam tudo pra cima do pobre Bill. Eu não gostaria de estar no lugar dele, esta lareira é estreita. Mas para dizer a verdade eu acho que posso chutar um pouco.”
Ela puxou seu pé o mais longe possível da chaminé e esperou até ouvir o pequeno animal (Alice não conseguia imaginar que tipo ele seria) entrando no buraco da lareira. Então, dizendo para si mesma “Este é Bill”, ela deu um brusco chute e esperou para ver o que acontecia a seguir.
O que ela ouviu foi um coro geral de “Aí vai Bill” e depois a voz do Coelho... “Segure ele, você aí na cerca!”, então silêncio e depois uma confusão de vozes...“Suspenda a cabeça dele...Brandy agora...Não o estrangule...Como foi isso companheiro? O que aconteceu com você? Conte-nos sobre isso!”
Por último veio uma vozinha débil, chiada (“Este é o Bill”, pensou Alice) “Bem, eu não sei muito bem... Quero mais não... Estou melhor agora... mas um bocado confuso pra contar para vocês... tudo o que eu sei é que alguma coisa veio até mim como se fosse um boneco de mola e eu fui pra cima como um foguete!”
“Você fez isso mesmo, velho companheiro”, disseram os outros.
“Nós precisamos derrubar a casa”, disse a voz do Coelho.
E Alice gritou tão alto quanto pôde: “Se vocês fizerem isso, eu mando a Dinah atrás de vocês!”
Houve um silêncio de morte no mesmo instante e Alice pensou consigo mesma: “Eu gostaria de saber o que eles vão fazer a seguir! Se eles tiverem algum juízo vão tirar o teto da casa.”
Depois de um minuto ou dois eles começaram a se movimentar novamente, e Alice ouviu o Coelho dizer:
“Um carrinho cheio é o suficiente!”
“Um carrinho cheio de quê?”, pensou Alice. Mas ela não teve tempo para ficar na dúvida, pois no momento seguinte uma chuva de pequenos seixos veio bater na janela, alguns dele machucando seu rosto.
“Eu vou dar um basta nisso”, ela pensou. Alice gritou: “É melhor vocês não fazerem isso novamente”, o que produziu outro silêncio de morte.
Alice percebeu, com alguma surpresa, que os seixos estavam todos se transformando em pedaços de bolo ao caírem no chão, e uma brilhante ideia veio à sua mente.
“Se eu comer um desses pedaços do bolo”, ela pensou, “com certeza acontecerá alguma mudança em meu tamanho, e, como não vai poder me fazer ficar ainda maior, deve me fazer diminuir, eu suponho.”
Então ela engoliu um dos pedaços, e foi maravilhoso descobrir que começara a diminuir instantaneamente. Tão logo ficou pequena o suficiente para passar pela porta, Alice saiu correndo da casa, encontrando um grupo de pequenos animais e pássaros esperando lá fora. O pobre pequeno lagarto, Bill, estava no meio, sendo seguido por dois porquinhos-da-índia que lhe davam algo em uma garrafa. Todos correram em direção a Alice, mas ela fugiu o mais depressa que pôde, e logo se encontrou salva em uma densa floresta.
“A primeira coisa que eu tenho que fazer”, disse Alice para si mesma, enquanto vagueava pela floresta, “é crescer até meu tamanho normal outra vez, e a segunda coisa é encontrar o caminho para aquele jardim adorável. Acho que este é o melhor plano.”
Soava como um excelente plano, sem dúvida, bem arrumado e arranjado com simplicidade: a única dificuldade era que ela não tinha a menor ideia de como fazer isso, e enquanto Alice espreitava ansiosamente por entre as árvores, um pequeno latido agudo sobre sua cabeça a fez olhar para cima com um sobressalto.

Era um enorme cachorrinho que olhava para ela com grandes olhos redondos e debilmente lhe estendia uma patinha, tentando tocá-la.
“Pobre coisinha!”, disse Alice com um tom carinhoso, e tentou com força assobiar para ele; mas a menina estava tão terrivelmente assustada pensando que ele poderia estar com fome e querer comê-la a despeito de todo seu carinho.
Sem saber o que fazer ela apanhou um pedaço de pau e jogou para o cachorrinho: em consequência o cãozinho pulou no ar com um ganido de prazer, e investiu contra o pau como se o temesse. Alice mantinha-se escondida atrás de uma moita para evitar de ser avistada e, no momento que apareceu do outro lado, o filhote deu outra corrida contra o galho acabando por tropeçar nele mesmo na sua pressa de apanhá-lo. Então Alice, como se estivesse brincando com uma carroça e esperando a qualquer momento ser esmagada sob seus pés, correu para perto da moita novamente. Daí, o filhote começou uma série de pequenos ataques ao galho, correndo vários pouquinhos para frente de cada vez e voltando para trás bastante depois, latindo rouco todo o tempo, até que acabou sentando ofegante, com sua língua para fora da boca e seus grandes olhos semicerrados.
Aquela parecia uma boa oportunidade para Alice fazer sua escapada e ela então fugiu, correndo até estar muito cansada e sem ar, até que o latido do cãozinho soasse bastante fraco ao longe.
“Mesmo assim, que lindo filhotinho ele era!”, disse Alice enquanto apoiava-se em uma flor para descansar, abanando-se com uma das luvas. “Eu gostaria de ter-lhe ensinado alguns truques, se ao menos tivesse o tamanho certo para isso! Oh puxa! Eu quase esqueci que tenho que crescer novamente! Deixe-me ver — como é que se faz isso? Eu acho que deveria comer ou beber alguma coisa ou outra, mas a grande questão é ‘O quê?”
A grande questão certamente era “O quê?” E Alice olhou ao seu redor para as flores e a grama, mas não pôde ver nada que parecesse a coisa certa para comer ou beber nessa circunstância. Havia um grande cogumelo crescendo perto dela, quase a mesma altura de Alice e, ao dar uma olhada sob ele, de ambos os lados e ainda atrás dele, ocorreu-lhe que ela poderia também dar uma olhada sobre ele.

Ela esticou-se na ponta dos dedos e olhou sobre a margem do cogumelo, seus olhos imediatamente avistaram uma enorme lagarta azul, sentada no topo da planta, com os braços cruzados calmamente fumando um narguilé, não dando bola nem para ela nem para mais nada.

Alice no País das Maravilhas.
Lewis Carroll.

Ilustrações de John Tenniel.


Comentários e perguntas sobre o episódio:

O que aconteceu quando Alice bebeu da garrafa sem saber o conteúdo? – Ela cresceu.

O que aconteceu quando Alice comeu um pedaço de bolo? – Ela diminui de tamanho novamente.

Ela conseguiu sair da casa do coelho? – Sim.

Alice ficou do seu tamanho normal? – Ainda não, estava muito pequena, tinha que crescer mais.

“A primeira coisa que eu tenho que fazer”, disse Alice para si mesma, enquanto vagueava pela floresta, “é crescer até meu tamanho normal outra vez, e a segunda coisa é encontrar o caminho para aquele jardim adorável. Acho que este é o melhor plano.”

Então Alice encontra um cogumelo. O que tinha em cima do cogumelo? - Uma enorme lagarta azul, sentada no topo da planta, com os braços cruzados.

Será que Alice pretende comer o cogumelo para crescer?

Saiba no próximo capítulo o que vai acontecer.

O que acontece quando Alice come ou bebe as coisas sem conhecer?
E quando a gente toma atitudes sem pensar muito, corremos algum risco?
Às vezes devemos ouvir nosso coração, mas sempre avaliando as consequências de nossas atitudes, seguindo os conselhos dos pais e dos que tem mais experiência e nos amam.

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