Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/sereia-fantasia-recados-p%C3%A1gina-1301877/
Muito longe da terra, onde o mar é muito azul, vivia o povo do mar. O rei desse povo tinha seis filhas, todas muito bonitas, e donas das vozes mais belas de todo o mar, porém a mais moça se destacava, com sua pele fina e delicada como uma pétala de rosa e os olhos azuis como o mar. Como as irmãs, não tinha pés, mas sim uma cauda de peixe. Ela era uma sereia.
Essa
princesa era a mais interessada nas histórias sobre o mundo de cima, e desejava
poder ir à superfície; queria saber tudo sobre os navios, as cidades, as
pessoas e os animais.
— Quando você
tiver 15 anos — dizia a avó — subirá à superfície e poderá se sentar nos
rochedos para ver o luar, os navios, as cidades e as florestas.
Os anos se
passaram... Quando a princesa completou 15 anos mal pôde acreditar. Subiu até a
superfície e viu o céu, o sol, as nuvens... Viu também um navio e ficou muito
curiosa. Foi nadando até se aproximar da grande embarcação. Viu, através dos vidros
das vigias, passageiros ricamente trajados. O mais belo de todos era um
príncipe que estava fazendo aniversário, ele não deveria ter mais de 16 anos, e
a pequena sereia se apaixonou por ele.
A
sereiazinha ficou horas admirando seu príncipe, e só despertou de seu devaneio
quando o navio foi pego de surpresa por uma tempestade e começou a tombar. A
menina viu o príncipe cair no mar e afundar, e se lembrou de que os homens não
conseguem viver dentro da água. Mergulhou na sua direção e o pegou já desmaiado,
levando-o para uma praia.
Ao
amanhecer, o príncipe continuava desacordado. A sereia, vendo que um grupo de
moças se aproximava, escondeu-se atrás das pedras, ocultando o rosto entre os
flocos de espuma.
As moças
viram o náufrago deitado na areia e foram buscar ajuda. Quando finalmente
acordou, o príncipe não sabia como havia chegado àquela praia, e tampouco fazia
ideia de quem o havia salvado do naufrágio.
A princesa
voltou para o castelo muito triste e calada, e não respondia às perguntas de
suas irmãs sobre sua primeira visita à superfície.
A sereia
voltou várias vezes à praia onde tinha deixado o príncipe, mas ele nunca
aparecia por lá, o que a deixava ainda mais triste. Suas irmãs estavam muito
preocupadas, e fizeram tantas perguntas que ela acabou contando o que havia
acontecido.
Uma das
amigas de uma das princesas conhecia o príncipe e sabia onde ele morava. A
pequena sereia se encheu de alegria, e ia nadar todos os dias na praia em que
ficava seu palácio. Observava seu amado de longe e cada vez mais gostava dos
seres humanos, desejando ardentemente viver entre eles.
A princesa,
muito curiosa para conhecer melhor os humanos, perguntou a sua avó se eles
também morriam.
— Sim,
morrem como nós, e vivem menos. Nós podemos viver trezentos anos, e quando
“desaparecemos” somos transformadas em espuma. Nossa alma não é imortal. Já os
humanos têm uma alma que vive eternamente.
— Eu daria
tudo para ter a alma imortal como os humanos! — suspirou a sereia.
— Se um homem
vier a te amar profundamente, se ele concentrar em ti todos os seus pensamentos
e todo o seu amor, e se deixar que um sacerdote ponha a sua mão direita na tua,
prometendo-te ser fiel nesta vida e na eternidade, então a sua alma se
transferirá para o teu corpo. Ele te dará uma alma, sem perder a dele... Mas
isso jamais acontecerá! Tua cauda de peixe, que para nós é um símbolo de beleza,
é considerada uma deformidade na terra.
A
sereiazinha suspirou, olhando tristemente para a sua cauda de peixe e desejando
ter um par de pernas em seu lugar. Mas a menina não esquecia a ideia de ter uma
alma imortal e resolveu procurar a bruxa do mar, famosa por tornar sonhos de
jovens sereias em realidade... Desde que elas pagassem um preço por isso.
O lugar onde
a bruxa do mar morava era horrível, e a princesa precisou de muita coragem para
chegar lá. A bruxa já a esperava, e foi logo dizendo:
— Já sei o
que você quer. É uma loucura querer ter pernas, isso trará muita infelicidade a
você! Mesmo assim vou preparar uma poção, mas essa transformação será dolorosa.
Cada passo que você der será como se estivesse pisando em facas afiadas, e a
dor a fará pensar que seus pés foram dilacerados.
Você está
disposta a suportar tamanho sofrimento?
— Sim, estou
pronta! — disse a sereia, pensando no príncipe e na sua alma imortal.
— Pense bem,
menina. Depois de tomar a poção você nunca mais poderá voltar à forma de sereia...
E se o seu príncipe se casar com outra você não terá uma alma imortal e morrerá
no dia seguinte ao casamento dele.
A
sereiazinha assentiu com a cabeça e, sem dizer uma palavra, ficou observando a
bruxa fazer a poção.
— Pronto,
aqui está ela... Mas antes de entregá-la a você, aviso que meu preço por este
trabalho é alto: quero a sua linda voz como pagamento. Você nunca mais poderá
falar ou cantar...
A princesa
quase desistiu, mas pensou no seu príncipe e pegou a poção que a bruxa lhe
estendia. Não quis voltar para o palácio, pois não poderia falar com suas irmãs,
sua avó e seu pai. Olhou de longe o palácio onde nasceu e cresceu, soltou um
beijo na sua direção e nadou para a praia.
Assim que
bebeu a poção, sentiu como se uma espada lhe atravessasse o corpo e desmaiou.
Acordou com o príncipe observando-a.
Ele a tomou docemente pela mão e a conduziu
ao seu palácio. Como a bruxa havia dito a cada passo que a menina dava sentia
como se estivesse pisando sobre lâminas afiadíssimas, mas suportava tudo com
alegria, pois finalmente estava ao lado de seu amado príncipe.
A beleza da
moça encantou o príncipe, e ela passou a acompanhá-lo em todos os lugares. À noite,
dançava para ele, e seus olhos se enchiam de lágrimas, tamanha dor sentia nos
pés.
Quem a visse
dançando ficava hipnotizado com sua graça e leveza, e acreditava que suas
lágrimas eram de emoção.
O príncipe,
no entanto, não pensava em se casar com ela, pois ainda tinha esperança de
encontrar a linda moça que ele vira na praia, após o naufrágio, e por quem se
apaixonara. Ele não se lembrava muito bem da moça, e nem imaginava que aquela
menina muda era essa pessoa...
Todas as
noites a princesinha ia refrescar os pés na água do mar. Nessas horas, suas
irmãs se aproximavam da praia para matar a saudade da caçulinha. Sua avó e seu
pai, o rei dos mares, também apareciam para vê-la, mesmo que de longe.
A família do
príncipe queria que ele se casasse com a filha do rei vizinho, e organizou uma
viagem para apresentá-los. O príncipe, a sereiazinha e um numeroso séquito
seguiram em viagem para o reino vizinho.
Quando o
príncipe viu a princesa, não se conteve e gritou:
— Foi você
que me salvou! Foi você que eu vi na praia!
Finalmente
encontrei você, minha amada!
A princesa
era realmente uma das moças que estava naquela praia, mas não havia salvado o
rapaz. Para tristeza da sereia, a princesa também se apaixonara pelo príncipe e
os dois marcaram o casamento para o dia seguinte. Seria o fim da sereiazinha.
Todo o seu sacrifício havia sido em vão.
Depois do
casamento, os noivos e a comitiva voltaram para o palácio do príncipe de navio,
e a sereia ficou observando o amanhecer, esperando o primeiro raio de sol que
deveria matá-la.
Viu então
suas irmãs, pálidas e sem a longa cabeleira, nadando ao lado do navio. Em suas
mãos brilhava um objeto.
— Nós
entregamos nossos cabelos para a bruxa do mar em troca desta faca. Você deve
enterrá-la no coração do príncipe. Só assim poderá voltar a ser uma sereia
novamente e escapará da morte. Corra, você deve matá-lo antes do nascer do sol.
A sereia
pegou a faca e foi até o quarto do príncipe, mas ao vê-lo não teve coragem de
matá-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário