quarta-feira, 6 de abril de 2016

O Desenho na formação infantil.

Muitas vezes acabamos por praticidade nossa, falta de tempo, passando para as crianças desenhos já prontos e acabados; escolhidos por nós.

Revendo jeitos e conceitos, vamos refletir sobre?

1) Qual o papel do desenho nas nossas aulinhas?
1. a) Meramente de fixar aulinha?
1. b) Ou podemos utilizá-lo para algo mais?
2) Estamos bem utilizando essa fonte de expressão?

Vamos repensar esta questão?


Texto de apoio:

O Desenho e a Aprendizagem.

Teresinha Véspoli de Carvalho.

Desenho, primeira manifestação da escrita humana. Continua sendo a primeira forma de expressão usada pala criança.
"Garatujas", "girinos", "sóis", desenhos "transparentes", e cada vez mais próximos da forma que podemos chamar de "real", são as representações de como a criança lê o mundo, enxerga a vida, expressa o que sente.
À medida que vai sendo alfabetizada, a escola se encarrega de afastar a criança desta forma de expressão e ela, como muitos de nós, vai dizendo que "não sabe desenhar".
Trabalho há mais de quinze anos com crianças de quatro a sete anos, como professora e, mais recentemente como psicopedagoga e, muitas vezes, senti grande tristeza em ouvir professoras de crianças em idade pré-escolar dizerem: "vou dar desenho mimeografado para meus alunos porque eles não sabem desenhar".
E eu pergunto: o que é este saber?
Por que proibir a criança de se expressar graficamente da forma como ela consegue?
Como querer que a criança use símbolos gráficos estipulados pelo adulto, que são as letras, se ela não elaborar sua ideia usando símbolos que ela conhece?
Expressar - se através do desenho é colocar sua vida no papel, com toda a emoção.
Através do desenho livre, a criança desenvolve noções de espaço, tempo quantidade, sequência, apropriando- se do próprio conhecimento, que é construído respeitando seu ritmo.
Aprende também a função social da escrita, pois sua comunicação, feita através do desenho, pode ser compreendida por outras pessoas antes que ela aprenda a usar a escrita convencional para se comunicar.
Quando a criança se sentir madura, usará com mais facilidade os símbolos gráficos com os quais já vem tendo contato nas ruas, nos ônibus, nas propagandas que ela vê todos os dias e também na escola onde os usa formalmente.
Segundo Emília Ferrero, "aprendemos a ler lendo, a escrever escrevendo", e, como afirma Jean Piaget , quando aprendemos algo novo, temos que recorrer ao
que já sabemos e nós nos apropriamos do desenho como forma de representação gráfica desde a primeira vez que temos contato com lápis e papel e
conseguimos coordenar os movimentos do braço e da mão segurando o lápis e riscando o papel (o que pode acontecer por volta dos 2(dois) anos ou às
vezes até antes desta idade).
Mesmo que estes desenhos não possam ser interpretados com significado pelo adulto. Mesmo que a criança mude de ideia cada vez que perguntarmos o que
ela desenhou.
Gostaria de ressaltar que é por isso que não devemos escrever no desenho da criança. Além da "obra" ser dela, ela muda de ideia a cada instante,
principalmente antes dos 5 (cinco) anos de idade. Portanto, a escrita do adulto é uma "invasão" sem proveito pois quando outra pessoa for olhar o mesmo desenho ele poderá ter outro significado.
O desenho precisa e deve ser sempre valorizado pelos educadores e a importância desta valorização deve ser compreendida e compartilhada pelos pais, uma vez que toda aprendizagem tem seu valor e o desenho é uma forma de aprendizagem.
Quando a criança é valorizada naquilo que sabe, sente prazer em aprender.
As letras demoram a ter significado para ela e nós teimamos em atropelá-la.
Se ela não consegue simbolizar da forma como sabe, como conseguirá se apropriar de algo que, algumas vezes, ainda não lhe atingiu?
É claro que a criança deve ler e escrever muito, desde quando comece a demonstrar interesse. Aliás, esse interesse pode se manifestar antes do que se espera.
Já nos primeiros estágios, na escola de educação infantil, ela começa a identificar o próprio nome e o dos colegas, e deve ter a oportunidade de escrever palavras da forma como ela acha que devem ser escritas, testando, assim, suas hipóteses, como nos mostra Emília Ferrero, através de seus estudos amplamente divulgados.
Mas, a criança requer um tempo para diferenciar o desenho da escrita, e elaborar suas hipóteses e esse tempo deve ser respeitado.
É necessário, porém, que seu "saber" seja legitimado pelo adulto, isto é, é preciso que o adulto valorize as produções da criança como um "saber" legítimo, real e, para isso, a escola deve estar integrada com os pais e a comunidade.
As pessoas que fazem parte do universo da criança e de quem ela busca respeito e aprovação devem compreender o processo pelo qual ela passa e o que os professores estão fazendo nesse sentido valorizando, também, seus progressos na forma de expressão.
Se esse progresso não for valorizado, a criança pode se retrair sentindo-se inferiorizada e incapaz.
E ninguém é incapaz, todos temos capacidades e , quando somos valorizados naquilo que sabemos, desenvolvemos cada vez mais capacidades, pois nos
sentimos autorizados a alçar voos cada vez mais altos.
Mas, se formos sempre julgados pelo que não sabemos nos sentiremos cada vez mais fracos e incompetentes, permanecendo presos ao ninho, sem ousar alçar voo para lugar algum.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Bossa, Nadia A e Vera Barros de Oliveira (orgs.). Avaliação psicopedagógica da criança de sete a onze anos 3a edição 1997 Ed. Vozes Petrópolis.
- Fernandez, Alicia A inteligência aprisionada abordagem psicopedagógica
Clínica da criança e sua família 2a reedição 1991 Artes Médicas Porto Alegre.
- Ferrero, Emilia & Teberosky, Ana psicogênese da língua escrita Trad. Diana.
Myriam Lichtenstein, Liana Di Marc o e Mário Corso Supervisão da tradução:
Alfredo Néstor Jerusalinsky- psicanalista 3a edição 1990 Ed. Artes Médicas, Porto Alegre.
-Moreira, Ana Angélica Albano o espaço do desenho coleção espaço ed. Loyola São Paulo.
- Furt, Hans G. Piaget e o Conhecimento: fundamentos teóricos; trad.: Valerie - Runjanek, 1974, ed. Forense Universitária, Rio de janeiro.
(fonte: Site da Psicopedagogia online)


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