Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/casa-palafita-%C3%A1rvore-889223/
Houve, uma
vez, um pobre lenhador que morava, com a mulher e três filhas, numa pequena
choupana, na orla de espessa floresta. Certa manhã, antes de sair para o
trabalho, disse à mulher:
- Manda
nossa filha mais velha levar-me o almoço, do contrário não poderei acabar o
trabalho; mas, para que ela não perca o caminho, levarei comigo um saquinho de
sementes que irei largando pelo chão.
Assim, pois,
quando o sol chegou a pique na floresta, a moça encaminhou-se, levando uma
marmita de sopa. Mas, aconteceu que os pássaros da colina, os pardais e as
cotovias, tinham comido as sementes que o pai deixara cair pelo caminho e a
moça não conseguiu descobrir a pista. Contudo, foi andando sempre para a
frente, até que o sol se pôs e caiu a noite. Na escuridão crescente, as
folhagens das árvores sussurravam entre si, as corujas piavam e, então, a moça
começou a tremer de medo.
Subitamente,
ela avistou, à distância, uma luz brilhante entre as árvores.
- Deve morar alguém lá, - pensou ela, -
que me dará pousada por esta noite.
E
encaminhou-se na direção da luz. Não demorou muito, chegou a uma casa que tinha
todas as janelas iluminadas. Bateu na porta e ouviu uma voz rouca gritar de
dentro:
- Entra!
A moça
entrou no corredor escuro e foi bater na porta da sala.
- Entra, pois! - tornou a gritar a voz.
A moça abriu
a porta e viu um velho encanecido, sentado diante de uma mesa, com o rosto
mergulhado nas mãos; a longa barba branca deslizava por sobre a mesa e ia parar
no chão. Junto à lareira estavam três animais: uma franguinha, um franguinho e
uma vaca malhada. A moça contou ao velho o que lhe havia acontecido e pediu que
lhe desse agasalho por aquela noite. O velho então perguntou aos bichos:
Bela vaca
malhada!
E tu, minha
franguinha,
meu belo
frangote de crista,
dizei-me:
que achais disto?
- Co, co, co, ro, co; tuc! - responderam
os animais; naturalmente isso queria dizer: "Não temos nada com
isso!," porque o velho disse à moça:
- Aqui não falta nada: vai à cozinha e
prepara a ceia para nós.
Na cozinha,
a moça encontrou tudo em quantidade e preparou uma deliciosa ceia, mas não se
lembrou dos animais. Uma vez pronta, levou para a mesa uma bela terrina cheia
e, sentando-se ao lado do velho, comeu até fartar-se. Aí perguntou:
- Estou tão cansada! onde é que há uma
cama para que possa deitar-me e dormir?
Os animais
responderam:
Com ele
sozinha comeste,
sozinha com
ele bebeste,
de nós não
te lembraste;
nos dirás
amanhã se é boa
a cama em
que te deitaste!
O velho
disse-lhe:
- Sobe aquela escada e encontrarás um
quarto com duas camas. Ajeita bem o colchão e põe lençóis limpos; daqui a pouco
irei dormir também.
A moça subiu
e, depois de ter arrumado bem as camas, deitou-se sem se lembrar do velho. Daí
a pouco, porém, o velho subiu; aproximou-lhe do rosto sua vela acesa para
melhor contemplá-la e meneou a cabeça. Certificando-se de que ela dormia
profundamente, abriu um alçapão e deixou-a cair na adega subterrânea.
Ao
anoitecer, o lenhador chegou em casa e ralhou muito com a mulher por o ter
deixado sem comida o dia inteiro.
- Não é minha culpa, - respondeu a
mulher. - Nossa filha saiu com o almoço, mas acho que se perdeu no caminho;
voltará amanhã.
Na manhã
seguinte, o lenhador levantou-se muito cedo para ir à floresta e recomendou que
a segunda filha lhe levasse o almoço.
- Levarei um saquinho cheio de
lentilhas, - disse ele. - São maiores do que as sementes e nossa filha poderá
vê-las facilmente; assim não perderá o caminho.
Ao meio-dia,
a jovem encaminhou-se para levar o almoço ao pai, mas as lentilhas haviam
desaparecido: os passarinhos as tinham comido, como no dia anterior, sem deixar
o menor vestígio. Tal como a irmã, andou vagando pela floresta até anoitecer;
também ela foi dar à choupana do velho, onde bateu e pediu comida e abrigo para
aquela noite. O velho de barbas brancas novamente se dirigiu aos animais:
Bela vaca
malhada!
E tu, minha
franguinha,
meu belo
frangote de crista,
dizei-me:
que achais disto?
- Co, co, co, ro, co; tuc! - responderam
eles.
E tudo correu como na noite precedente. A moça preparou uma boa ceia, comeu e bebeu com o velho, sem se preocupar com os animais.
E tudo correu como na noite precedente. A moça preparou uma boa ceia, comeu e bebeu com o velho, sem se preocupar com os animais.
Quando ela
perguntou onde era a cama, eles repetiram:
Com ele
sozinha comeste,
sozinha com
ele bebeste,
de nós não
te lembraste;
nos dirás
amanhã se á boa
a cama em
que te deitaste!
Quando ela
ferrou no sono, o velho chegou, olhou para ela meneando a cabeça e deixou-a,
também, cair para dentro da adega.
No terceiro
dia, o lenhador disse à sua mulher:
- Hoje tens que mandar a terceira filha
levar-me o almoço; ela sempre foi obediente e boazinha; tenho certeza que
seguirá o caminho certo e não ficará perambulando pela floresta como as
malandras das irmãs!
A mulher não
queria consentir, dizendo:
- Terei que perder, também, minha
predileta?
- Nada temas, - respondeu o marido, - a
menina não se perderá pelo caminho, pois é muito sensata e prudente. Ademais,
levarei um saco de grão-de-bico que irei espalhando pelo chão; são mais graúdos
do que as lentilhas e indicarão melhor o caminho.
Mas, quando
a moça saiu com o cestinho no braço para levar o almoço, as pombas-rolas haviam
dado cabo dos grãos-de-bicos e ela ficou sem saber que rumo tomar. Toda aflita
pensou em como o pai estaria com fome e não tinha o que comer e, também, no
desespero da mãe, quando não a visse voltar para casa. Assim caiu a noite e ela
avistou a luzinha brilhando na choupana do velho; foi até lá, bateu na porta e
pediu, gentilmente, um pouco de comida e pouso para aquela noite. O homem das
barbas brancas tornou a perguntar aos animais:
Bela vaca
malhada!
E tu, minha
franguinha,
meu belo
frangote de crista,
disei-me:
que achais disto?
Co, co, co,
ro, co; tuc! - responderam eles.
Então a moça
dirigiu-se para a lareira e acariciou os animais, alisando as penas da
franguinha e do belo franguinho e afagando o chifre da vaca malhada. Depois,
por ordem do velho, preparou uma excelente comida e, quando pôs a terrina na
mesa, disse:
- Enquanto eu mato a fome, estes pobres
animais nada comem? Na cozinha, há tanta fartura; tratarei primeiro deles.
Saiu da
sala, foi buscar milho, espalhando-o diante do franguinho e da franguinha e
para a vaca trouxe uma braçada de feno cheiroso.
- Bom apetite, queridos animaizinhos, -
disse ela; - se tiverem sede, aqui está água para beber.
Colocou
junto deles um balde cheio de água; o franguinho e a franguinha mergulharam os
bicos na água, erguendo em seguida a cabeça como fazem as aves quando bebem;
também a vaca malhada bebeu um bom trago. Depois de ter tratado dos animais, a
moça sentou-se à mesa com o velho e comeu o que havia sobrado para ela. Não
demorou muito, o franguinho e a franguinha meteram a cabeça em baixo da asa
para dormir e a vaca malhada começou a pestanejar de sono. Então a menina perguntou
ao velho:
- E nós? Não vamos também descansar?
O velho
perguntou aos animais:
Bela vaca
malhada!
E tu, minha
franguinha.
mau belo
frangote de crista.
disei-me:
que achais disto?
Os animais
responderam: Co, co, co, ro, co; tuc! Co, co, co, ro, co; tuc! Querendo com
isso dizer:
Com todos
nós comeste,
com todos
nós bebeste,
em nós todos
pensaste,
um bom
descanso mereceste!
A moça subiu
a escada, arrumou as camas e forrou-as com lençóis limpos. Quando ficaram
prontas chegou o velho e se deitou; a barba branca chegava-lhe aos pés.
A menina
disse as orações, deitou-se na outra cama e adormeceu.
Dormiu,
tranquilamente, até a meia-noite, quando foi acordada por um grande barulho na
casa. Ouvia-se a cabana estalar e chiar por todos os cantos, as portas abrindo
e fechando como se empurradas pelo vento, as vigas gemendo como se as
estivessem arrancando, a escada parecia ruir, por fim produziu-se um ruído como
se o telhado tivesse desabado. Logo, porém, restabeleceu-se o silêncio e a
menina, vendo que não lhe tinha acontecido nada, voltou a dormir
sossegadamente.
Mas, pela
manhã, foi acordada pela luz forte do sol e qual foi o espetáculo que se lhe
oferecia ao olhar? Viu- se deitada num salão enorme e, ao redor dela, tudo era
suntuoso como num palácio real. Nas paredes, viam-se representações de flores
de ouro desabrochando num campo de seda verde; a cama era de marfim e a colcha
de veludo escarlate; e, sobre uma banqueta aí porto, havia um par de
chinelinhos com pérolas. A moça julgou estar sonhando, mas nisso entraram três
criadas ricamente vestidas e perguntaram quais eram as ordens.
- Não vos incomodeis, - respondeu a
moça; - levanto-me já, e vou preparar o almoço para o velho e, em seguida, darei
comida também para o franguinho, para a franguinha e para a vaca malhada.
Assim
falando, pensou que o velho já tivesse levantado mas, olhando para a cama dele,
viu ali dormindo uma pessoa desconhecida. Enquanto ela o estava assim
contemplando, pois achava-o bonito e moço, ele despertou, levantou-se e disse:
- Eu sou príncipe, que uma bruxa
perversa transformou em velho caduco, condenado a viver solitário nesta
floresta, sem outra companhia além de uma galinha, um galo e uma vaca malhada,
que eram meus três criados assim transformados. O encanto só cessaria quando
aparecesse uma jovem de coração tão bondoso que se compadecesse dos animais
como de mim. E tu foste essa jovem. Graças a ti, esta noite, à meia-noite,
fomos todos libertados e a velha cabana da floresta voltou a transformar-se em
castelo real.
Depois de
vestir-se e arrumar-se, o príncipe mandou os três criados buscar, numa
carruagem, os pais da jovem, para que viessem assistir às núpcias. Mas a moça
perguntou:
- Mas, e minhas irmãs, onde estão?
- Prendi-as na adega. Amanhã, serão
reconduzidas à floresta e dadas como criadas a um carvoeiro, até modificarem o
mau gênio; até aprenderem a não deixar os pobres animais sofrerem fome.
Moral da história:
Só o bem prevalece. Quem é egoísta acaba colhendo as consequências de suas atitudes.
Perguntas:
O lenhador era pobre ou rico?
Quantas filhas ele tinha?
Qual delas era mais bondosa e por quê?
Ela foi recompensada por sua bondade?
E você costuma fazer o bem? Quando?
Atividade:
Desenhe a parte da história que você mais gostou e explique o motivo.
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