Vocês sabem
a história dos três Reis Magos que viajaram do Oriente para Belém para adorar a
Jesus e Lhe ofertar as dádivas de ouro, incenso e mirra?
Vou-lhes
contar a história do quarto Rei Mago que também viu a estrela e resolveu segui-la
e do seu grande desejo de adorar o Rei Menino e Lhe oferecer as suas prendas.
Ele morava nas montanhas da Pérsia e o seu nome era Artaban. Era alto, moreno,
de olhos bem escuros: a fisionomia de um sonhador, a mente de um sábio. Um
homem de coração manso e espírito indominável.
Era um homem
de posses. A sua moradia era rodeada de jardins bem tratados com árvores de
frutas e flores exóticas. Suas vestes eram de seda fina e o seu manto da mais
pura lã. Era seguidor de Zoroastro e numa noite se reuniu em conselho com nove
membros da mesma seita. Eram todos sábios!
Artaban lhes
falou sobre a nova estrela que vira e o seu desejo de segui-la. Disse-lhes:
"- Como seguidores de Zoroastro aprendemos que os homens vão ver nos céus,
em tempo apontado pelo Eterno, a luz de uma nova estrela e nesse dia, nascerá
um grande profeta e Ele dará aos homens a vida eterna, incorruptível e imortal,
e os mortos viverão outra vez! Ele será o Messias, o Rei de Israel." E
continuou:
"- Os
meus três amigos Gaspar, Melchior, Baltazar e eu, vimos a grande luz brilhante
de uma nova estrela há vários dias e vamos sair juntos para Jerusalém para ver
e adorar o Prometido, o Rei de Israel. Vendi a minha casa e tudo o que possuo e
comprei estas joias: uma safira, um rubi e uma pérola para oferecer como
tributo ao Rei. Convido-os para virem comigo nesta peregrinação para juntos
adorarmos o Rei!"
Mas um véu
de dúvida cobriu as faces de seus amigos: "- Artaban! Isso é um sonho em
vão. Nenhum rei vai nascer de Israel! Quem acredita nisso é um sonhador!"
E um a um, todos o deixaram. "- Adeus amigo!"
Artaban
pesquisando os céus viu de novo a estrela. "- É o sinal!" Disse ele.
"- O Rei vai chegar e eu vou encontrá-Lo."
Artaban
preparou o seu melhor cavalo, chamado Vasda, e de madrugada saiu ás pressas,
pois, para encontrar no dia marcado com Gaspar, Melchior e Baltazar, que já
estavam a caminho, ele precisava cavalgar noite e dia. Já estava escurecendo e
ainda faltavam mais ou menos três horas de viagem para chegar ao sítio de
encontro e ele precisava estar lá antes de meia noite ou os três Magos não
poderiam demorar mais à sua espera!
"- Mas,
o que é isto?" Na estrada, perto de umas palmeiras, o seu cavalo Vasda,
pressentindo alguma coisa desconhecida, parou resfolegando, junto a um objeto
escuro perto da última palmeira.
Artaban
desmontou. A luz das estrelas revelou a forma de um homem caído na estrada. Um
pobre hebreu entre os muitos que moravam por perto. A sua pele estava seca e
amarela e o frio da morte já o envolvia. Artaban depois de examiná-lo deu-o por
morto e voltou-se com um coração triste, pois nada podia fazer pelo pobre
homem.
"- Mas
o que foi isto?" Um suspiro fraco, e a mão óssea do hebreu fechou-se
consultivamente no manto do sábio! Artaban, surpreso, sentiu-se frustrado!
"- Que devo fazer? Se me demorar, os meus amigos procederão sem mim.
Preciso seguir a estrela! Não posso perder a oportunidade de ver o Príncipe da
Paz só para parar e dar um pouco de água a um pobre hebreu nas garras da
morte!"
"- Deus
da Verdade e da Pureza dirige-me no teu caminho santo, o caminho da sabedoria
que só Tu conheces!" E Artaban carregou o hebreu para a sombra de uma
palmeira e tratou-o por muitos dias até que ele se recuperou.
"- Quem
és tu?" perguntou ele ao Mago.
"- Sou
Artaban e vou a Jerusalém à procura Daquele que vai nascer: O Príncipe da Paz e
Salvador de todos os homens. Não posso me demorar mais, mas aqui está o
restante do que tenho: pão, vinho, e ervas curativas." O hebreu erguendo
as mãos aos céus lhe disse: "- Que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó o
abençoe; nada tenho para lhe pagar, mas ouça-me: Os nossos profetas dizem que o
Messias deve nascer, não em Jerusalém, mas em Belém de Judá."
Assim, já
era muito mais de meia-noite e vários dias mais tarde quando Artaban montou de
novo o seu cavalo Vasda e num galope rápido prosseguiu ao encontro de seus
amigos.
Aos
primeiros raios do sol, checou ao lugar do encontro. Mas... Onde estavam os
três Magos? Artaban desmontou e ansioso, estudou todo o horizonte. Nem sinal da
caravana de camelos dos seus amigos! Então entre uma pilha de pedras achou um
pergaminho e a mensagem: "- Não pudemos esperar mais, vamos ao encontro do
Rei de Israel. Siga-nos através do deserto."
Artaban
sentou-se e cobriu a cabeça em desespero! "- Como posso atravessar o
deserto sem ter o que comer e com um cavalo cansado? Tenho mesmo que regressar
à Babilônia, vender a minha safira e comprar camelos e provisões para a viagem.
Só Deus, o misericordioso, sabe se vou encontrar o Rei de Israel ou não, porque
me demorei tanto ao mostrar caridade."
Artaban
continuou a via pelo deserto e finalmente chegou a Belém, levando o seu rubi e
a sua pérola para oferecer ao Rei. Mas as ruas da pequena vila pareciam desertas.
Pela porta aberta de uma casinha pobre, Artaban ouviu a voz de uma mulher
cantando suavemente. Entrou e encontrou uma jovem mãe acalentando o seu bebê.
Três dias
passados ela lhe falou sobre os três Magos que estiveram na vila a que disseram
terem sido guiados por uma estrela ao lugar onde José de Nazaré, sua esposa
Maria, e o seu bebê Jesus estavam hospedados. Eles trouxeram prendas de ouro,
incenso e mirra para o menino. Depois, desapareceram tão rapidamente quanto
apareceram. E a família de Nazaré também saiu à noite, em segredo, talvez para
o Egito.
O bebê nos
seus braços olhou para o rosto de Artaban e sorriu estendendo os bracinhos para
ele. "Não poderia essa criança, ser o Príncipe Prometido? Mas não! Aquele
que procuro já não está aqui e eu preciso encontrá-lo no Egito!"
A Jovem mãe
colocou o bebê no berço e preparou um almoço para o estranho hóspede que veio à
sua casa. Subitamente, ouviu-se uma grande comoção nas ruas: gritos de dor, o
chorar de mulheres, tocar de trombetas e o clamor: "- Soldados! os
soldados de Herodes estão matando as nossas crianças!"
A jovem mãe,
branca de terror escondeu-se no canto mais escuro da casa, cobrindo o filho com
o seu manto para que ele não acordasse e chorasse.
Mas Artaban
colocou-se em frente à porta da casa impedindo a entrada dos soldados. Um
capitão aproximou-se para afastá-lo. A face de Artaban estava calma como se
estivesse observando as estrelas. Fitou o soldado um instante e lhe disse:
"- Estou sozinho aqui, esperando para dar esta joia ao prudente capitão
que vai me deixar em paz." E mostrou o rubi brilhando na palma da sua mão
como uma grande gota de sangue.
Os olhos do
capitão brilharam com o desejo de possuir tal joia! "- Marchem, Avante!"
Gritou aos seus soldados. "- Não há criança aqui!" E Artaban olhando
os céus orou: "- Deus da Verdade perdoa o meu pecado! Eu disse uma coisa
que não era, para salvar uma criança. E duas das minhas dádivas já se foram.
Dei aos homens o que havia reservado para Deus. Poderei ainda ser digno de ver
a face do Rei?"
E Artaban
prosseguiu na sua procura entre as pirâmides do Egito, em Heliopólis, na nova
Babilônia às margens do Nilo... Numa humilde casa em Alexandria, Artaban
procurou o conselho de um velho rabi que lhe falou das profecias e do
sofrimento do Messias prometido e receitado pelos homens. "- E lembre-se,
meu filho: o Rei que procuras não o vais encontrar num palácio ou entre os
ricos e poderosos. Isto eu sei: os que o procuram devem fazê-lo entre os pobres
e os humildes, os que sofrem e são oprimidos."
E Artaban
passou por lugares onde a fome era grande. Fez a sua morada em cidades onde os
doentes morriam na miséria. Visitou os oprimidos nas prisões subterrâneas, os
escravos nos mercados de escravos... Em toda a população de um mundo cheio de
angústia ele não achou ninguém para adorar, mas muitos para ajudar! Ele
alimentou os que tinham fome, cuidou dos doentes, e confortou os
prisioneiros... E os anos passaram... 33 anos. E os cabelos de Artaban já não
eram pretos, eram brancos como a neve nas montanhas. Velho, cansado e pronto
para morrer, era ainda um peregrino à procura do Rei de Israel e agora em
Jerusalém onde havia estado muitas vezes na esperança de achar a família de Belém.
Os filhos de
Israel estavam agora na cidade santa para a festa da Páscoa do Senhor e havia
uma agitação e excitamento singular. Vendo um grupo de pessoas da sua terra,
Artaban lhes perguntou o que se passava e para onde o povo se dirigia.
"- Para
o Gólgota!" lhe responderam, "-... pois não ouviste? Dois ladrões vão
ser crucificados e com eles, um homem chamado Jesus de Nazaré, que dizem, fez
coisas maravilhosas entre o povo. Mas os sacerdotes exigiram a sua morte,
porque disse ser o Filho de Deus. Pilatos O condenou a ser crucificado porque
disseram ser Ele o Rei dos Judeus."
"Os
caminhos de Deus são mais estranhos do que o pensamento dos homens,"
pensou Artaban. "Agora é o tempo de oferecer a minha pérola para livrar da
morte o meu Rei!" Ao seguir a multidão em direção ao portal de Damasco, um
grupo de soldados apareceu arrastando uma jovem rapariga com vestes rasgadas e
o rosto cheio de terror.
Ao ver o
mago, a jovem reconheceu-o como da sua própria terra e libertando se dos
guardas atirou-se aos pés de Artaban: "- Tenha piedade!...", ela
implorou... E pelo Deus da pureza, me salva! Meu pai era mercador na Pérsia,
mas faleceu e agora vão me vender como escrava para pagar seus débitos! Me
salva!"
Artaban
tremeu. Era o velho conflito da sua alma entre a fé, a esperança e o impulso do
amor. Duas vezes as dádivas consagradas foram dadas para a humanidade. E agora?
Uma coisa ele sabia: "- Salvar essa jovem indefesa era um gesto de amor. E
não é o amor a luz da alma?"
Ele tirou a
pérola de junto ao seu coração. Nunca ela pareceu tão luminosa! Colocou-a na
mão da rapariga: '- Este é o teu pagamento, o último dos tesouros que guardei
para o Rei!"
Enquanto ele
falava uma escuridão profunda envolveu a terra que tremeu consultivamente!
Casas caíram, os soldados fugiram, mas Artaban e a rapariga protegeram-se de
baixo do telhado sobre as muralhas do Pretório.
"- O
que tenho a temer," pensou ele,... e para quê viver? “Não há mais
esperança de encontrar o Rei, a procura terminou, eu falhei.” Mas mesmo esse
pensamento lhe trouxe paz, pois sabia que viveu de dia a dia da melhor maneira
que soube. Se tivesse que viver de novo a sua vida não poderia ser de outra
maneira.
Mas um
tremor de terra e uma telha desprenderam-se do telhado e feriu o velho Mago na
cabeça. Repousou no chão e deitou a cabeça nos ombros da jovem com o sangue a
escorrer do ferimento.
Ao
debruçar-se sobre ele, ela ouviu uma voz suave, como música vinda à distância.
Os lábios de Artaban moveram-se como em resposta e ela escutou o que o velho
Mago disse na sua própria língua: "- Não meu Senhor! Quando Te vi com fome
e te dei de comer? Ou com sede e Te dei de beber? Ou quando Te vi enfermo ou na
prisão e fui te ver? Por 33 anos eu Te procurei, mas nunca vi a Tua face, nem
Te servi meu Rei!"
E uma voz
suave veio, mas desta vez dos céus. A jovem também compreendeu as palavras.
"- Em
verdade, em verdade vos digo que quando fizeste a um destes meus irmãos a mim o
fizeste!"
Uma alegria
radiante iluminou a face calma de Artaban.
Um suspiro
longo e aliviado saiu de seus lábios.
A viagem
para ele havia terminado.
O quarto
Mago, Artaban, compreendeu que havia encontrado o seu Rei durante toda a sua
vida!
Uma história
de Henry Van Dyke.
Sabe-se que eram três reis magos, portanto essa narrativa pode ser uma lenda, ou uma história do autor citado acima.
Fonte: http://www.searadomestre.com.br/evangelizacao/natalreimago.htm
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