Imagem Google.
Dentro de um
sonho tudo parece real...
Não podemos
mensurar o valor de uma coisa, se a esta já se atribui um valor...
Naquele dia,
um pouco antes do amanhecer artificial, ele percebeu que havia alguma coisa
estranha, estranha por não ser capaz de compreender sozinho. Mas, tinha
certeza, um algo mais estava presente no ambiente. Abriu a janela virtual do
seu quarto e olhou para o lado de fora, e viu que a definição da imagem da rua
não estava muito clara. As cores estavam um pouco esmaecidas, embaçadas,
desfocadas e instáveis, e em alguns pontos quase opacas. Fechou a janela
virtual e virtualmente sentou em sua cama, tentando pensar um pouco.
Como não
conseguia pensar sozinho, resolveu acessar um banco de memórias remoto para ver
se lá já existia alguma ideia pronta que servisse de base para o pensamento que
não era capaz de elaborar por si só, naquele momento. Não era uma pesquisa
simples, pois sequer sabia o que procurar. Mas, de fato, algo estranho estava
acontecendo, pois não conseguia acessar o banco de memórias.
Por alguma
razão desconhecida, o servidor estava fora do ar. Ficou desesperado, pois
acabara de se dar conta de que era incapaz de pensar, que dependia
completamente dos pensamentos que pegava emprestado da Central de Pensamentos.
Percebeu naquela hora, que sua vida psicológica e emocional dependia
inteiramente de um servidor, um computador remoto, de uma simples máquina, que
sequer sabia onde estava.
Olhou à sua
volta, no ambiente virtual onde se encontrava, e percebeu que o cenário
construído de acordo com suas preferências, começara e se diluir, dando espaço
para que um cenário padrão ficasse em seu lugar. Aquilo era um sinal claro de
que alguma anomalia estava acontecendo no Centro de Controle de Mentes. Viu que
o amanhecer artificial mostrava-se instável, mais parecendo uma tarde, um
indício claro de que todo sistema passava por problemas.
Acomodou-se
melhor em sua cama virtual, tentando pensar em alguma coisa sozinho. Mas era
dependente demais, jamais pensara sozinho antes, não sabia como fazer, não
sabia como pensar. Naqueles tempos, era mais prático e comum, pegar um
pensamento já pronto, existiam tantos, até se podia escolher.
Na escola,
todos recebiam links com os endereços dos pensamentos que poderiam usar nas
diversas situações do dia a dia, e desse modo, era só copiar e colar, não
precisava pensar, nem desligar a máquina de simulação de mundo virtual que já
recebiam como implantes em seus cérebros, desde o nascimento.
Lembrou de
um dia quando a bateria que mantinha o mundo virtual permanentemente ligado,
deu pane. Felizmente fora um problema passageiro, que não durou mais que alguns
segundos, mas a visão de realidade que tivera foi horrível. Viu-se de repente
num imenso recinto fechado, sem janelas, com uma aparência horrível, que não
conseguia compreender, e viu também dezenas de outros iguais a ele, na mesma
situação. Mas, como o sistema voltou a funcionar logo, como num piscar de olhos,
tudo aparentemente, não passara de um breve sonho, ou pesadelo para ser mais
preciso.
Mas agora, o
servidor do mundo virtual onde vivia, estava com problemas operacionais, e um
novo modelo de mundo estava se sobrepondo ao modelo onde já estava acostumado a
viver. Se no outro, sempre acordava com um dia ensolarado, de uma natureza
viçosa e exuberante, no novo, no alternativo, este iniciava com uma tarde
chuvosa, com ruas alagadas e ventos frios. E havia outro problema: Ele não
sabia pensar, e assim não tinha a menor ideia do que fazer numa situação
daquela natureza.
Nesse
momento ele escutou uma voz conhecida, era do gerenciador do sistema
operacional, e dizia: “Atenção à todos os conectados, o sistema nesse momento,
apresenta instabilidade temporária, e enquanto realizamos os ajustes
necessários, todos viverão durante algumas horas, num mundo virtual
alternativo. Logo, um Avatar, um Orientador ou Guru virtual, se apresentará
para guiá-los nesse novo mundo, e esperamos voltar ao normal em algumas horas,
ou dias...”.
O seu quarto
com janela para um jardim florido à beira mar, logo fora substituído por uma
paisagem melancólica, um entardecer nublado, com pouca luz, o que indicava que
o sistema procurava com isso economizar energia. Correu para a cozinha e lá
encontrou uma simples mesa com torradas de pão amanhecido e chá frio sem
açúcar, um cenário muito diferente da exuberante variedade de outros dias, onde
quase não existia espaço para tamanha diversidade de alimentos frescos.
Sua Mente
virtual de última geração, com banda ultra-larga de recepção, fora substituída
por um modelo simples, com baixa resolução gráfica e conexão discada sem filtro
para eliminar ruídos. O padrão para demonstrar desespero ele ainda lembrava
claramente, por isso não precisou acessar o banco de pensamentos para simular
tal sentimento. Se ao menos soubesse pensar poderia encontrar uma solução
alternativa menos traumática, mas, seu cérebro se recusava a fazer isso, estava
atrofiado, fossilizado demais por falta de uso.
Gritou pela
sua mãe virtual e esta não respondia. Dirigiu-se ao seu quarto e a porta estava
trancada por dentro. Bateu na porta virtual e nem o som do toque na madeira
conseguia escutar.
Escreveu num
pedaço de papel virtual a frase: “Mãe, você está ai?”, e colocou por baixo da
porta. Mas como a conexão estava lenta a espera parecia uma eternidade. Por fim
ela respondeu, foi uma resposta automática, um simples “Positivo!”, uma
resposta pré-gravada. “A coisa parece muito séria”, concluiu desolado.
O que fazer
diante de tal caso? E se o sistema perdesse a identidade virtual de cada um dos
conectados, ele deixaria de existir, perderia seus amigos virtuais, seu emprego
virtual, sua vida pessoal virtual, sua família. Percebeu que já se sentia
diferente. Isso estava acontecendo porque, certamente, devido ao problema, o
sistema trocara sua personalidade original em 3D com gráficos, sons e
sensibilidade de ultima geração, por uma mais simples.
Era um
modelo alternativo, uma mente ainda primitiva, sem imagens em alta definição,
que insistia em querer rezar e fazer promessas, do tipo pagar penitências, dar
oferendas aos santos, caso o problema fosse solucionado.
Então tudo
apagou, e apenas uma música ambiente se podia ouvir, e no fundo escuro do seu
quarto virtual, podia enxergar um pequeno ponto verde piscando alternadamente.
Depois viu uma mensagem luminosa no mesmo ponto: “Aguarde, sistema operacional
sendo reinicializado...”.
É tudo de
que lembra, além da sensação de que esquecera alguma coisa, pois ao acordar,
estava diante do seu quarto habitual, com janela de frente para a praia, foi
quando sua mãe virtual entrou e lhe perguntou: “Você também sentiu alguma coisa
estranha há pouco tempo atrás?”.
Moral da
História:
A realidade
é apenas um sonho lúcido de longa duração...
Autor:
Alberto J. Grimm
Fonte:http://sitededicas.ne10.uol.com.br/conto_reflexivo_a_evolucao.htm
Um comentário:
Olá, querida Jeanne!
Um texto mto bem escrito e k faz pensar. seu autor está bem por dentro das "tristes" realidades.
Incrível! Como é k o virtual está se sobrepondo ao real! não pode ser! Ah, isso, um dia, vai dar grande paneeeeeeeeeeeeeeee.
Novo post lá. Mto obrigada!
Beijos e dias de mta luz e paz mental.
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