sábado, 23 de fevereiro de 2019

Peter Pan e o caso da sombra.



Dona Benta sentou-se na sua cadeira de pernas serradas, subiu para a testa os óculos de aro de ouro e começou:
— Era uma vez uma família inglesa...
— Espere Sinhá! Não Comece ainda — gritou lá da copa tia Nastácia. — Eu também faço questão de conhecer a história desse pestinha.
Estou acabando de lavar as panelas e já vou.
Dona Benta esperou que a negra chegasse, apesar do protesto da Emília, que disse: — "Bobagem! Para que uma cozinheira precisa saber a história de Peter Pan?"
Tia Nastácia veio e escarrapachou-se no assoalho, entre o Visconde e a menina. Só então Dona Benta começou de verdade.
— Havia na Inglaterra uma família inglesa composta de pai, mãe e três filhos — uma menina de nome Wendy (pronuncia-se Uêndi), que era a mais velha; um menino de nome João Napoleão, que era o do meio; e outro de nome Miguel, que era o caçulinha. Os três tinham o sobrenome de Darling, porque o pai se chamava não sei quê Darling. Esses meninos ocupavam a mesma nursery numa linda casa de Londres.
— Nursery? — repetiu Pedrinho. — Que vem a ser isso?
— Nursery (pronuncia-se nârseri) quer dizer em inglês, quarto de crianças. Aqui no Brasil, quarto de criança é um quarto como outro qualquer e por isso não tem o nome especial. Mas na Inglaterra é diferente. São uma beleza os quartos das crianças lá, com pinturas engraçadas rodeando as paredes, todos cheios de móveis especiais, e de quanto brinquedo existe.
— Boi de chuchu, tem? — indagou Emília.
— Talvez não tenha, porque boi de chuchu é brinquedo de meninos da roça, e Londres é uma grande cidade, a maior do mundo. As crianças inglesas são muito mimadas e têm os brinquedos que querem. Os brinquedos ingleses são dos melhores.
— E os brinquedos alemães, vovó? Ouvi dizer que há na Alemanha uma cidade que é o centro da fabricação de brinquedos.
— E é verdade, meu filho. Nuremberg: eis o nome da capital dos brinquedos. Fabricam-nos lá de todos os feitios e de todos os preços, e exportam-nos para todos os países do mundo.
— E aqui, vovó?
— Aqui essa indústria está começando: Já temos algumas fábricas de bonecas e outras de carrinhos, cavalinhos de pau, trenzinhos de folha, patinhos de celuloide, gaitas de assoprar, etc. etc.
Pedrinho declarou que quando crescesse ia montar uma grande fábrica de brinquedos da maior variedade possível, e que lançaria no mercado bonecos representando o Visconde de Sabugosa, a Emília, o Rabicó etc. Todos gostaram muito da ideia e Dona Benta voltou ao assunto.
— Pois é isso. Aquela nursery era um encanto. Imaginem que quem tomava conta das crianças era a Nana.
Alguma criada?
Não. Uma cachorra muito inteligente. Era Nana quem dava banho nas crianças, quem as vestia para dormir e tudo mais — e muito direitinho.
Na noite em que a nossa história começa, Nana estava cochilando perto da lareira, com a cabeça entre as patas, enquanto no cômodo pegado o Senhor e a Senhora Darling se preparavam para uma visita a uns parentes.
Quando o casal saía de noite quem ficava tornando conta dos meninos era sempre a cachorra. Nisto o relógio bateu oito horas — bem, bem, bem, bem, bem, bem...
— A senhora errou, Dona Benta! — berrou logo Emília, que não deixava escapar coisa nenhuma. — A senhora só bateu seis bens.
Dona Benta riu-se.
— Não faz mal — disse ela. Os dois que faltam ficam subentendidos.
Mas o relógio bateu oito horas e Nana ergueu-se e espreguiçou-se, porque a ordem da Senhora Darling era fazer a criançada ir para a cama a essa hora justa. Depois Nana acendeu a luz elétrica.
— Como?
— Ela sabia agarrar com a boca a chave da luz e torcer. Estava acostumada a fazer isso. Acendeu a luz e foi ver os pijamas de cada um. E foi ao banheiro abrir a torneira de água quente e fria, experimentando a água com a pata para ver se-estava no ponto.
— Que danada! Por que a senhora não nos arranja uma cachorra assim, vovó?
— Porque vocês só querem saber de onças e rinocerontes e bichos esquisitos. Mas deixem estar que ainda ponho um Cachorrinho aqui em casa.
— E há de chamar-se Japi! — gritou Emília, que sempre fora a botadeira de nomes. — Mas continue Dona Benta. A Nana encheu a banheira e que mais?
— Preparou a água do banho e foi buscar o Miguel, que era o menorzinho, e Miguel veio montado nela, dando esporadas. Nana fê-lo apear-se e entrar n’água, e foi fechar a porta para que não houvesse corrente de ar. Depois de acabado o banho, deu o pijaminha para Miguel vestir e levou-o para a cama.
Nesse momento a mãe dos meninos entrou no quarto para ver se estava tudo em ordem. Animou a todos, um por um, prometeu um passeio ao jardim zoológico, para que vissem a enorme goela vermelha do hipopótamo e o pescoço que não acaba mais da girafa. Depois contou uma história linda.
— Que história ela contava? — quis saber Emília.
— Quantas existem. As mesmas que já contei a vocês e muitas outras. Depois distribuiu beijos, dizendo: — "Agora tratem de dormir." Acendeu uma lamparina de luz muito fraca, apagou a luz elétrica e ia saindo na ponta dos pés, quando notou uma sombra esquisita na parede — uma sombra que vinha da rua. Voltou-se de repente e viu do lado de fora o vulto dum menino.
Assustou-se, está claro, porque as boas mães se assustam por qualquer coisinha e correu a fechar a vidraça. Fez isso tão depressa que a sombra não teve tempo de retirar-se e foi guilhotinada. Por essa e outras é que as tais vidraças de subir e descer, como as nossas aqui do sítio, são chamadas "vidraças de guilhotina".
— E que é guilhotina? — perguntou Emília, que pela primeira vez ouvia essa palavra.
Dona Benta explicou que era uma certa máquina de cortar cabeça de gente, inventada por um médico francês de nome Guillotin. Isso durante o terrível período da Revolução Francesa, um tempo em que cortar cabeça de gente se tornou a preocupação mais séria do governo. E Pedrinho, já lido na História do Mundo, lembrou que o próprio Doutor Guillotin teve a sua cabeça cortada por essa máquina.
— Bem feito! — exclamou Emília. — Quem manda...
— Bom, chega de guilhotina — gritou Narizinho. — Continue vovó. A Senhora Darling guilhotinou a cabeça da sombra e que fez depois?
— Ao ver cair no chão a cabeça da sombra, como se fosse um pedaço de gaze negra, ela murmurou: — "Que fato estranho!" — Depois
abaixou-se, pegou a cabeça da sombra e examinou-a a luz da lamparina, com cara de quem diz: — "Nunca ouvi contar dum fato semelhante! São dessas coisas que até parecem invenção". Em seguida dobrou a sombra, bem dobradinha, guardou-a na gaveta de Wendy e retirou-se do quarto, pensativa.
— E os meninos? — indagou Narizinho. — Nada viram?
— Os meninos nada perceberam. Quando a Senhora Darling deu com a sombra na parede, eles já estavam caindo no sono.
O quarto ficou mergulhado em silêncio profundo. Todos dormiam, e até a chama da lamparina parecia cochilar, de tão quietinha. Mas de repente essa luz tremeu três vezes e apagou-se.
— Por quê? — indagou Narizinho.
— Algum besouro — sugeriu Emília.
— Não — disse Dona Benta. — É que havia entrado pela janela uma pequena bola de fogo.
— Como havia entrado pela janela, se a janela estava fechada? — berrou Emília.
— Isso não sei — disse Dona Benta. — O livro nada conta. Mas como fosse uma bola de fogo mágica, o caso se torna possível. Para as bolas de fogo mágicas tanto faz uma janela estar aberta como fechada. Ela acha sempre jeito de entrar. Do contrário não valia a pena ser bola mágica. Entrou e começou a esvoaçar em todas as direções, muito aflitazinha, como quem anda atrás de alguma coisa.
— Já sei — interrompeu Narizinho. — Estava procurando a cabeça da sombra.
— Talvez fosse isso, — concordou Dona Benta — porque depois de várias voltas pelo ar a bola parou defronte do armário de Wendy e entrou na gaveta pelo buraco da fechadura.
— E houve um incêndio, já sei! — gritou Emília. — Bola de fogo em gaveta de armário é incêndio certo. A cidade de Londres vai ser destruída...
— Credo! — exclamou tia Nastácia, que estivera cochilando e acordara naquele ponto. — Não fale assim, Emília, que é mau agouro.
— Não houve incêndio nenhum — disse Dona Benta. — Bola de fogo mágica não pega fogo nas coisas.
— Então que aconteceu?
— Nada. A bola ficou na gaveta, e nesse mesmo instante a janela foi erguida pelo lado de fora. A cabeça dum menino apareceu. Apareceu, espiou de todos os lados e pulou para dentro do quarto sem fazer o menor barulho.
— "Sininho, Sininho! Onde está você, Sininho?" — indagou ele em voz baixa.
— "Tlin, tlin, tlin", — foi a resposta da bola de fogo lá dentro da gaveta.
O menino dirigiu-se pé ante pé na direção dos tlins, abriu a gaveta e remexeu-a toda, até encontrar a cabeça da sombra. Pela cara alegre que fez via-se que era o dono dela.
— Que engraçado! — exclamou Emília. — Só agora noto que todos nós temos a nossa sombra, que é só nossa, mas não de gaze, como a desse menino. É de ar preto.
— E que fez ele, vovó, depois de achar a sombra? — perguntou a menina.
— Que fez? Tirou-a da gaveta, desdobrou-a e tratou de emendá-la no resto, porque desde que a Senhora Darling desceu a janela ele ficou com a sombra sem cabeça — ou decapitada. Mas isso de emendar sombra não é coisa fácil. Exige prática. O menino tentou primeiro grudá-la com cuspe. Não grudou.
Lembrou-se de a colar com sabão. Também não colou. O menino sentiu-se atrapalhado.
— Se fosse eu — disse Emília — experimentava uma bisnaga de Cola-tudo. O que cola tudo deve colar sombra também.
— E onde achar a tal bisnaga de Cola-tudo?
— Todas as nurserys devem ter uma bisnaga de Cola-tudo para colar os brinquedos. Eu se fosse a Senhora Darling...
— Está bem, Emília, mas pare de falar. Não atrapalhe mais. Continue vovó.
Dona Benta continuou:
— A. cabeça não colava de jeito nenhum, de modo que o menino foi tomado de grande desespero. Isso de ter sombra sem cabeça parece ser uma coisa terrível; pelo menos o era para aquele menino, pois escondeu a cara nas mãos e, pôs-se a chorar tão alto que Wendy acordou e sentou-se na cama, muito admirada.
— "Por que está chorando?" — indagou ela.
Em vez de responder, o menino enxugou depressa os olhos com as costas da mão e fez um bonito cumprimento com o gorro vermelho. Depois disse:
— "Há muito tempo que eu ando querendo saber qual é o seu nome."
— "Meu nome é Wendy Darling" — respondeu a menina. — "E o seu?"
— "Peter Pan."
— "E onde mora o Senhor Peter Pan?"
— "Moro na rua das casas, número das portas."
Wendy riu-se daquela molecagem e puxou prosa. Conversa vai, conversa vem, ficou sabendo que Peter Pan era um menino sem pai nem mãe, que vivia solto pelo mundo e agora estava muito atrapalhado por ter perdido a cabeça de sua sombra.
— "Não; gruda nem com sabão" — disse ele fazendo bico.
— "Bobo!" — exclamou Wendy rindo-se. — "Com sabão está claro que não gruda. Sabão só gruda nota velha. Sombra tem que ser costurada com retrós, quer ver?" — e sem esperar pela resposta saltou da cama, foi à sua mesinha de costura e trouxe de lá uma agulha já enfiada. Ajeitou a cabeça da sombra no resto da sombra e num instante alinhavou-a com retrós preto. Ficou que ninguém percebia a emenda.
— "Pronto! Vê como está bem agora?"
Peter Pan pulou de contentamento. Deu várias voltas pela nursery, num verdadeiro namoro com a sua sombra consertada.
— "Eu sou mesmo um danadinho!" — exclamou por fim, todo cheio de si.
Tamanha gabolice espantou Wendy Ela havia consertado a sombra e o prosa chamava para si as honras! Já se viu uma coisa assim?
 "Danado, você?" — disse a menina com ironia. — "Se fui eu quem costurou a sombra, como o danado pode ser você?"
— "Sim" — disse o menino; — "você ajudou um pouco, não nego."
— "Ajudou!..." — repetiu Wendy imitando-lhe o tom de voz. — "Pois nesse caso, passe muito bem! Não gosto de gente gabola."
Disse e pulou para a cama, deitando-se e cobrindo a cabeça com a colcha.
Peter Pan desapontou e fez cara de arrependido.
— "Oh, não se ofenda, Wendy! Eu tenho este defeito. Sou gabola de nascença. Quando qualquer coisa de bom me acontece, ponho-me sem querer a contar prosa. Seja boa. Perdoe-me. Reconheço que uma menina vale mais do que vinte meninos."
— Isso também não! — protestou Pedrinho. — Só se é lá na Inglaterra. Aqui no Brasil um menino vale pelo menos duas meninas.
— Olhem o outro gabola! — exclamou Narizinho. — Vovó já disse que louvor em boca própria é vitupério.
Wendy — continuou Dona Benta — enterneceu-se com o tom daquelas palavras e sentou-se de novo na cama, descobrindo a cabeça. Estava risonha e contente.
— "Peter Pan" — disse ela — "você bem que merece um beijo.
Quer?"
O menino ficou no ar, sem compreender. Menino sem mãe é assim, nem beijo sabe o que é. Beijo! pensou consigo. Que seria isso de beijo? Com certeza era aquele copinho de prata que Wendy tinha posto no dedo quando tomou a agulha para coser a sua sombra. Não podia ser outra coisa.
— "Quero" — respondeu ele, e foi logo tirando o dedal do dedo de Wendy e colocando-o no seu, certo de que beijo queria dizer dedal. Depois, para retribuir a gentileza, perguntou à menina se ela aceitava um beijo dele.
— "Aceito, sim" — respondeu Wendy, que estava achando muito curioso aquilo.
— "Pois tome este" — disse Peter Pan, arrancando um dos botões de seu casaco e apresentando-o com toda a seriedade.
— Já sei — gritou Emília. — Beijo para ele significava presente, um presente qualquer. Que bobíssimo!
— Wendy — continuou Dona Benta — recebeu o botão e ficou de olhos postos em Peter Pan. Súbito, perguntou:
— "Que idade você tem, Peter Pan?"
— "Não sei. Só sei que sou bastante criança. Fugi de casa no mesmo dia em que nasci."
— "No mesmo dia em que nasceu? Que ideia! E por que, meu caro?"
— "Porque ouvi uma conversa entre meu pai e minha mãe sobre o que eu havia de ser quando crescesse. Ora, eu não queria crescer. Não queria, nem quero nunca virar homem grande, de bigodeira na cara feito taturana. Muito melhor ficar sempre menino, não acha? Por isso fugi e fui viver com as fadas."
Wendy quase perdeu a fala de tanto gosto, ao saber que estava diante dum menino conhecedor de fadas. Ela ouvia sua mãe contar histórias de fadas, mas não havia nunca falado com alguém que as conhecesse pessoalmente.
— "É verdade isso, Peter? Há mesmo fadas ou você está a mangar comigo?"
— "Verdade, sim, Wendy. Não muitas, mas há."
— "E de onde vêm elas?"
— "Então não sabe, Wendy? Parece incrível! Não há quem não saiba disso..."
— "Pois eu não sei. Conte."
— "Foi assim. A primeira fada apareceu no mundo do dia em que a primeira criança nascida deu a primeira risadinha."
— "Oh, nesse caso deve haver uma fada para cada criança no mundo, porque todas as crianças dão uma primeira risadinha" — observou Wendy.
— "Assim devia ser" — confirmou Peter Pan, — "se as fadas não fossem as criaturas mais fáceis de morrer que existem. Morrem como
passarinhos. Cada vez, por exemplo, que uma criança diz que não acredita em fadas, morre uma."
Aqui tia Nastácia interrompeu a narrativa para dizer:
— Para mim esse menino estava empulhando Dona Wendy. Estou velha e só vi fada nas histórias.
— Cale a boca! — berrou Emília. — Você só entende de cebolas e alhos e vinagres e toicinhos. Está claro que não poderia nunca ter visto fada porque elas não aparecem para gente preta. Eu se fosse Peter Pan, enganava Wendy dizendo que uma fada morre sempre que vê uma negra beiçuda...
— Mais respeito com os velhos, Emília! — advertiu Dona Benta. —
Não quero que trate Nastácia desse modo. Todos aqui sabem que ela é preta só por fora.
— É o pigmento — disse o Visconde. — Isso de brancuras e preturas não passa de maior ou menor quantidade de pigmentos nas células da pele.
Emília, que não sabia o significado de pigmento, veio logo com a sua célebre respostinha: — "Pigmento é o seu nariz" — mas Dona Benta apoiou o
Visconde, dizendo que era aquilo mesmo, que os pretos são pretos porque têm muitos pigmentos na pele.
— Mas que é esse tal pigmento, vovó?
— Pigmento é como os sábios chamam qualquer substância colorida que tinge os tecidos duma planta ou dum organismo animal. A rosa vermelha é
vermelha por causa dos pigmentos vermelhos que tem nas pétalas e os negros são negros por causa dos pigmentos negros que possuem na pele.
— Quer dizer — observou Emília — que se os pigmentos de tia Nastácia fossem cor de burro quando foge, ela não seria negra e sim uma burra fugida...
— Chi, meu Deus do Céu! — exclamou Narizinho. — Como a Emília está asneirenta hoje...
— É a lua — disse tia Nastácia. — Já reparei que em tempo de lua cheia Emília dá para espirrar bobagem que nem torneira aberta que a gente quer tapar com a mão.
Emílio botou-lhe a língua e Dona Benta prosseguiu:
— Mas vamos ao caso. Vocês me interrompem tanto que a história não pode chegar ao fim. Peter Pan contou a Wendy como as fadas nascem, e ao falar em fada lembrou-se da bola de fogo que havia entrado na gaveta. Era uma fada, essa bolinha, e muito sua amiga. Uma fada que fazia tudo que as outras
fadas fazem, menos falar. Sua fala não passava daquele tlin, tlin, tlin, de campainha de prata.
Assim que Peter Pan se lembrou da bola de fogo, ou Sininho, como era o seu nome, um tlin, tlin zangado se fez ouvir dentro da gaveta.
— "A pobre!" — exclamou Peter Pan. — "Deve estar furiosa comigo por ter-me distraído com você e esquecido dela. Sininho é ciumentíssima."
De fato. Sininho saiu da gaveta furiosa. Esvoaçou pelo quarto por uns instantes, indo afinal esconder-se num canto, emburrada. Eram ciúmes de Wendy. Mas a menina não deu nenhuma importância àqueles maus modos; continuou a conversar com Peter Pan como se não houvesse visto nada.
— "Vamos, Peter Pan!" — disse ela. "Conte-me mais alguma coisa da sua vida. Conte onde mora, mas de verdade."

A história continua, vamos descobrir onde Peter Pan mora?

Monteiro Lobato - Domínio Público

Nenhum comentário: