sexta-feira, 21 de maio de 2021

Bullying na Escola: Como crianças lidam e reagem diante de apelidos pejorativos

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP   

David Sergio Hornblas   Bullying na Escola: 

Como crianças lidam e reagem diante de apelidos pejorativos    

Mestrado em Educação: Psicologia da Educação – 

Material disponível gratuitamente na internet.

CAPÍTULO 1 – 

INTRODUÇÃO 

1.1 O QUE É BULLYING?  

Bullying é uma palavra (expressão) de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o desejo deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão. A expressão foi construída a partir do substantivo bull – touro em inglês – e por derivação  bully  (ou  bullie), com alguns significados tais fortão, tirano, valentão e briguento  (corruptela para gíria). Termo que envolve comportamentos antissociais – preferencialmente nas escolas – utilizado pela literatura psicológica nos estudos sobre a violência (Olweus, 1999)3. O termo Bully como substantivo, é traduzido por valentão, briguento, tirano etc., e como verbo, brutalizar, tiranizar, amedrontar etc. (Fante, 2005). Ainda como substantivo, bullying é definido como um subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. Esses critérios nem sempre são aceitos como universais, mesmo sendo largamente empregados. Alguns pesquisadores consideram serem necessários no mínimo três ataques contra a mesma vítima durante o ano, para sua identificação como bullying (Olweus, 1993). Há desproporção de força, onde o desequilíbrio de poder caracteriza-se pela incapacidade da vítima de se defender: ser mais jovem, menor estatura ou força física; apresentar pouca habilidade de defesa; falta de assertividade e pouca flexibilidade psicológica perante o autor ou autores dos ataques (Fante, 2005). Ainda como verbo, bullying pode ser traduzido como intimidar, agredir, apelidar, ofender, fazer gozações, encarnar, humilhar, causar sofrimento, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, dominar, agredir, bater, 18dar chutes, dar empurrões, causar ferimentos, roubar e ainda quebrar pertences (Fante, 2005). Assim, por convergência entre autores (Fante, 2005; Olweus, 1983; Catini, 2004 e Guareschi, 2008), bullying é definido como um conjunto de atitudes violentas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação aparente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s) causando dor, angústia e sofrimento físico ou psicológico, Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, fofocas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento de bullying. Portanto, as quatro características sempre frequentes nos episódios de bullying segundo Olweus (1993) são: 1. Comportamento violento  2. Produção de danos  3.  Ações repetidas e continuadas com o passar do tempo 4. Relação interpessoal caracterizada por um desequilíbrio de poder ou força. O fenômeno bullying não é novo, por se tratar de uma forma de violência que sempre existiu nas escolas onde valentões  ou briguentos oprimem suas vítimas por motivos banais e de forma sutil, sendo percebida por uma significativa parcela de professores, coordenadores e diretores que pouco fazem, seja por omissão deliberada, seja em decorrência das ameaças às quais também são frequentemente reféns. No entanto, o estudo aprofundado do bullying é recente4 e tem sido objeto de investigação e estudos nas últimas décadas, despertando a atenção da sociedade para suas consequências nefastas, já que se evidenciam pela desigualdade entre iguais, resultando num processo em que “valentões” projetam, algumas vezes, sua  19agressividade com requintes de perversidade e, por vezes de forma oculta, dentro do contexto escolar. O bullying é um tipo de comportamento, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de diversão e prazer através de brincadeiras que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar (Olweus, 1999) e pode ocorrer de diversas formas. As mais comuns, segundo Olweus (1983) são: 52% apelidos pejorativos e discriminatórios 21% ameaças (reais e/ou virtuais) 12% furtos de pertences 9% agressões físicas 5% exclusões do grupo O bullying é um fenômeno universal e os educadores devem estar atentos – dentro dos limites da função e da instituição – à identificação de agressores e agredidos, tendo em vista que estes últimos podem apresentar comportamentos que trafegam desde a angústia e sofrimento intensos até a violência fatal. Os episódios constantes de violência aguda (com graves lesões e mortes) nas escolas de ensino médio, universidades americanas, européias e asiáticas, podem ter explicação no bullying. Alguns dos agressores além de apresentar demandas psicopatológicas estruturais, sinalizam indícios de terem sido vitimados por episódios de bullying em uma determinada fase da vida escolar. Dan Olweus – importante estudioso do fenômeno bullying na Escandinávia – não estabeleceu relação entre jovens vitimizados pelo bullying e condição socioeconômica, ao sugerir que situações semelhantes ocorrem em todas as categorias sociais. Ele atribui este achado à homogeneidade relativa nos países escandinavos onde seus estudos foram conduzidos. No início dos anos 70, Olweus iniciou seus suas investigações nas escolas, embora não se verificasse um real interesse das instituições sobre o assunto.

 20No entanto, diante de situações agudas, ocorridas na década de 80 – três rapazes entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio (Olweus, 1993) – um maior interesse das instituições de ensino para o problema começou a ser despertado. Olweus pesquisou inicialmente cerca de 84.000 estudantes, 300 a 400 professores e 1.000 pais entre os vários períodos de ensino, concluindo que 28% dos jovens em idade escolar sofreram alguma ação intimidatória. Um fator essencial para a pesquisa, visando à prevenção do bullying,  foi conhecer com profundidade, sua natureza e frequência. Como as técnicas de observação direta ou indireta são demoradas, o procedimento adotado foi a utilização de questionários. Estes serviram para caracterizar e avaliar a dimensão do bullying, além de melhor entender o impacto das intervenções já adotadas. Nos estudos noruegueses desenvolvidos por Olweus (1983), utilizou-se um questionário composto por 25 questões do tipo múltipla escolha5 Com este instrumento foi possível verificar a frequência, tipos de agressão e agressores, locais de maior risco, dentre outras informações para compreensão do bullying. No entanto, Olweus (1983) presume que, em outros países, como os Estados Unidos – onde a estratificação social é mais evidente, assim como o fluxo migratório enlaçando culturas diferentes – as ocorrências de bullying podem estar mais intensamente relacionadas aos indicadores socioeconômicos, embora nenhum padrão tenha sido encontrado que relacione alunos vitimizados e, por exemplo, renda familiar. Um estudo feito pela UNESCO com estudantes entre 14 e 19 anos de cinco capitais brasileiras (Brasília, Fortaleza, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo) apontou que 60% deles disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência (física ou moral) dentro da escola (Abramovay, M. & Rua, 2003). Especialistas e educadores de todo mundo, com o apoio de instituições públicas e privadas, têm proposto às autoridades educacionais a criação de programas especiais de prevenção e combate e ao bullying nas escolas.

Diversas pesquisas e programas de intervenção6 têm sido desenvolvidos na Europa, América do Norte e também no Brasil, visando principalmente conscientizar a comunidade escolar sobre o fenômeno e sensibilizá-la sobre a importância do apoio às vítimas, da necessidade de extinção do problema, além da implantação de programas de prevenção. O educador é uma espécie de terceira visão neste processo silencioso, temperado pelo sofrimento das vítimas que frequentam salas de aula, corredores e pátios de recreação. Assim, a sociedade civil deverá ter seu quinhão de responsabilidade na construção de modelos e procedimentos para controle e extinção do bullying. Em uma decisão judicial inédita, dois adolescentes de classe média, de 15 e 16 anos, foram obrigados a prestar serviços comunitários por seis meses, por terem sido acusados de apelidar e insultar uma colega de classe em uma escola particular de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo). Eles foram também acusados de divulgar os insultos na internet (Coisse, 2008). A vítima, uma garota de 15 anos, disse à promotoria que os insultos começaram há três anos. Um dos garotos colocou-lhe o apelido de bode, mas ela afirmou que os xingamentos iam além: fedida, retardada, idiota, monga e esterco. Ao promotor de justiça local, a estudante afirmou que, “... além de a rotularem de bode, passaram a fazer barulhos com a boca, simulando berros do animal nas aulas...". No início do ano letivo, a vítima reclamou ao pai que continuava a ser ofendida. Ele foi à escola e depois registrou um boletim de ocorrência (BO) por injúria. A decisão de aplicar a prestação de serviços foi do juiz da Infância e Juventude em audiência com os acusados e seus pais. O juiz concedeu remissão judicial, um perdão para evitar que o processo por injúria prosseguisse. Na ocasião a mídia anunciava: A prática de constranger colegas por xingamentos ou violência física é conhecida pelo nome de bullying (Coisse, 2008) Por outro lado, a mãe do menino de 15 anos – da mesma forma o jornalista que subscreveu a matéria – disse que aceitou o acordo na Justiça para que a história tivesse fim (SIC), mas achou um exagero que a situação tenha terminado em uma audiência, declarando: “... Não vou dar razão para o meu filho, ele errou, mas apelido é uma coisa normal, é só levar na brincadeira...” (SIC) Vários episódios de bullying  são minimizados e seus desdobramentos considerados pouco importantes na vida do jovem agredido. Para este estudo, foi considerado especificamente o uso de apelidos pejorativos.  Uma maior atenção sobre esses eventos que alguns consideram aparentemente inofensivos deveria servir como elementos de reflexão visando à implantação de programas de prevenção e extinção a médio e longo prazo, ou seja, ações antibullying. Na escola, alunos intimidando alunos, professores, funcionários e diretores compõem uma realidade de difícil manejo, compreensão e intervenção. Violência e bullying são comportamentos expressamente manifestos, mensuráveis e modificáveis. Contudo, os processos mentais envolvidos são de complexa verificação experimental e portanto, devem compor uma análise multifatorial, levando em conta fatores biologicamente determinados e o processo histórico que explica agressividade e violência. Assim sendo, a psicogênese de Henri Wallon, que contempla fatores genéticos e influências sociais, oferece respostas consistentes no entendimento dos fenômenos aqui apresentados. O foco deste estudo foi o comportamento observável – adquirido ou herdado – e não as inferências e interpretações decorrentes das intrincadas relações do ser com o mundo. Algumas culturas são mais agressivas que outras, incentivando competitividade, determinação e tomada de decisão. Outras são mais passivas, cordatas e menos estimuladoras da competição entre seus pares. Isso significa que, sob condições específicas, determinados comportamentos se fazem mais ou menos presentes.

 23Nas sociedades mais utilitaristas, o fenômeno se agrava. Pela pressão do consumo, alguns jovens em especial, não medem esforços para alcançar seus objetivos, sejam eles legais ou ilegais. Nos países com índices de desigualdade mais acentuados, o problema parece ser mais grave, embora Olweus (1980) não tenha identificado relação entre condição socioeconômica e bullying.  Esse utilitarismo cria um padrão comportamental onde em alguns casos, são mais ou menos agressivos, mas em outros, por demais violentos. Os altos índices de criminalidade nos centros urbanos são a prova inconteste do que aqui se afirma Outro desdobramento das sociedades que se organizam desta forma é a determinação de padrões de comportamento, de constituição física (daí o aumento dos transtornos alimentares, por exemplo), do belo e do feio, do bem e do mal, ou seja, políticas maniqueístas do que deve e do que não deve ser aceito. Neste universo, o bullying é mais um evento encontrado neste enquadramento.

1.2 OS APELIDOS PEJORATIVOS  As ofensas repetidas, sob a forma de exposição ao ridículo por meio de apelidos pejorativos, configuram mecanismo perverso de discriminação identificado na literatura psiquiátrica e jurídica como modalidade de assédio moral 7. Foi observado em uma pesquisa específica, que os apelidos pejorativos são percentualmente os eventos de bullying mais frequentes entre jovens (Olweus, 1983), correspondendo a 52% do universo total dessas ações intimidatórias. Tal constatação culminou na decisão de aprofundar o estudo destes dados em um formato diferente, qual seja, o qualitativo. Essa metodologia permitiu uma análise mais detalhada deste processo, visando a entender como crianças se sentem e lidam com o apelido pejorativo. Esses apelidos são na opinião deste pesquisador, o começo do bullying.

 

 27ameaçando-os, perseguindo-os e intimidando-os. Não são poucos os professores que, ao se referirem a alguns alunos, usam os apelidos (que, às vezes, eles mesmos colocam), como Cascão, Tampinha, Fantasminha, Lunático, Esquisito, Burraldo, fomentando assim, a vitimização desses alunos (p. 98-69). Alguns professores não atribuem o uso de apelidos como um aspecto relevante relacionado ao bullying, sendo que eles próprios afirmaram que muitas vezes referem-se aos alunos dessa forma e também aceitam apelidos que os alunos lhes colocam. Alguns pais também concordam com esta postura, alegando que jovens, como num ritual de passagem, colocam mesmo apelidos nos outros. Da mesma forma, introduzem-se na vida social adulta que incluí comportamentos transgressores (Szymansky, 2008). Tendo em vista as considerações acima, este estudo procurou verificar, o que os alunos sentem e como reagem diante do apelido pejorativo recebido. Esses eventos levaram à construção de inúmeras iniciativas para estudar e combater a prática de bullying no Brasil e no mundo.  No Brasil, o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais lançou uma campanha educativa para combater o bullying nas escolas privadas e públicas do estado, durante o I Fórum Paraibano Sobre Bullying Escolar e Incentivo à Cultura da Paz, realizado no Centro de Convenções Cidade Viva, em João Pessoa e organizado pela Curadoria da Infância e Juventude. Os temas debatidos foram Bullying Escolar, Construção da Cidadania, Causas e Consequências do Fenômeno do Bullying - Implicações Psicológicas, Jurídicas e Legislação Pertinente.  Além desses fóruns, a ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência – aparece como centro de referência ao estudo e pesquisas sobre bullying.

 28O Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar-CEMEOBES, com sede em Brasília, foi criado em maio de 2006, com o objetivo de disseminar uma Cultura de Paz e Não-Violência. É uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que se dedica exclusivamente ao estudo e orientação sobre o Bullying Escolar, por considerá-lo questão de saúde pública, cujos prejuízos incidem na aprendizagem, na socialização e na saúde emocional de crianças e adolescentes envolvidos. Seu foco principal é atuar junto às instituições de ensino, para que sejam capazes de identificar e intervir nas situações embrionárias de Bullying e interromper seu processo reprodutivo e epidêmico, através de estratégias promotoras da educação para a paz, da cidadania e dos direitos humanos – Programa Antibullying – Educar para a Paz.

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3 comentários:

Porventura escrevo disse...

É um problema dos tempos modernos.
Não gosto muito de pensar nele, por ter um filho qiue ainda pode ser vítima. Felizmente até agora não foi, e espero que nujnca vneha a ser
Gostei

Unknown disse...

Thanks for sharing

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nice disse...

nice info,thankyouu!!
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