As
sapatilhas de Sofia, Frederick Lipp.
Era um dia
de sol muito brilhante na aldeia, e Sofia não conseguia abrir os olhos naquela
luz tão intensa.
Na aldeia
faz sempre muito calor, raramente chove, mas, quando isso acontece, a chuva
cai, ininterruptamente, dias seguidos.
No ar
pairava uma quietude quando, de repente, se ouviu um ruído semelhante ao
zumbido de um enxame de abelhas, que aumentava cada vez mais.
O porco
começou a grunhir e as galinhas a cacarejarem.
Sofia queria
perceber o que se passava e, sentada direita como um pau de vassoura, pôs-se à
escuta. "Deve ser o carro do homem dos números", pensou ela enquanto
esfregava os olhos.
Uma vez por
ano, um homem da cidade chegava à aldeia num carro vermelho. O povo da aldeia
dizia que era o homem dos números. O homem contava as pessoas da aldeia a mando
do governo. Depois de fazer o seu percurso, o homem parou em frente da casa de
Sofia.
— Quantas
pessoas vivem aqui? — perguntou.
— Duas —
respondeu Sofia, — a minha mãe e eu.
— Vejamos,
assim dá um total de 154 pessoas. O ano passado eram…
O homem dos
números tinha ouvido dizer que o pai de Sofia morrera porque não havia médico
na aldeia e não havia nenhum hospital por perto.
Sofia olhava
fixamente para o calçado do homem.
— Ah! Nunca
viste umas sapatilhas?
Sofia ficou
ruborizada. O segredo, que acalentava há tanto tempo, ocupou-lhe por inteiro o
pensamento, que voou para tão longe como os falcões voam em grandes círculos no
azul dos céus. No fundo do coração Sofia sentia que, se algum dia tivesse umas
sapatilhas iguais às daquele homem, o seu desejo se transformaria em realidade.
— Vamos até
à margem do rio? — disse o homem dos números. — Põe os pés nessa lama de barro
fino. Agora sai!
Sofia gostou
da sensação do barro a escorrer por entre os dedos dos pés. O homem tirou a
régua do bolso das calças e mediu as marcas dos pés de Sofia. Enquanto coçava a
barba, fazia contas em voz alta e acabou por dizer:
— Vejamos…
dentro de trinta dias vais receber um presente.
Sofia
contava os dias… Algum tempo depois, o carro dos correios atravessou a aldeia e
deixou-lhe na porta de casa um pacote. Depois de sofregamente abrir o pacote,
gritou:
— Umas
sapatilhas! Calçou-as com muito cuidado
e exclamou:
— Agora, já
posso realizar o meu desejo secreto!
— Que
desejo? — perguntou a mãe.
— Agora já
posso ir à escola, mãe!
— Mas, minha
querida, a escola fica a oito quilômetros e o caminho é muito mau!
— Eu sei
mãe, mas é que eu agora tenho umas sapatilhas… — respondeu Sofia enquanto
saltitava de alegria.
Um sorriso
começou a desenhar-se lentamente na boca da mãe de Sofia. Recordou a filha de
vestido amarelo, cor do sol, a correr ao lado do pai que, com a pequena lousa
preta debaixo do braço, procurava a sombra de um coqueiro. Recordava a filha,
de olhar fixo e sem pestanejar, a olhar a lousa onde o pai fazia só rabiscos a
que chamava letras: "Este aqui é o teu nome e este é o nome da nossa
aldeia", ensinava ele à Sofia.
— Creio que
pode ir à escola — disse então a mãe à Sofia.
No dia
seguinte, ainda o sol não tinha nascido e já Sofia comia uma tigela de arroz
com peixe salgado e se punha a caminho através dos arrozais. As sapatilhas
protegiam-na das pedras aguçadas. E corria como se tivesse asas nos pés!
Com um salto
atravessou riachos e percorreu uma estrada deserta, onde só passava um carro de
longe a longe. Sofia corria e corria, cada vez mais depressa, até que por fim
avistou a escola que tinha apenas uma sala de aula.
As sandálias
dos alunos estavam, em fila alinhada, junto à porta da entrada. Sofia tirou
rapidamente as sapatilhas, colocou-as junto às outras sandálias e entrou
descalça na sala de aula.
— O meu nome
é Sofia e venho à escola para aprender a ler e a escrever!
Na sala,
onde havia só rapazes, começaram logo os risinhos.
— Silêncio!
— disse a professora, colocando o dedo sobre os lábios fechados.
— Vem cá, és
muito bem-vinda. Diz-me, de onde vens?
— De Andong
Kralong.
A
professora, apanhada de surpresa, disse em surdina:
— Mas, essa
aldeia fica a oito quilômetros daqui!…
— Pois fica
senhora professora, mas eu tenho as minhas sapatilhas!
Os rapazes
continuavam com as suas risadinhas, tapando a boca com as mãos. Os olhos da
Sofia encheram-se de lágrimas.
— Mas, tu és
uma rapariga! — sussurrou um dos alunos.
Sofia
engoliu toda a raiva que sentia e manteve-se de cabeça erguida e quieta como a
serpente antes de atacar a presa. Em breve chegaria o momento da desforra.
Acabada a
aula, Sofia calçou as sapatilhas e atou os seus cordões, com um triplo nó. Então,
virou-se para os rapazes, olhou-os de frente e disse:
— Já que são
tão espertos, venham agarrar-me!
Os rapazes,
empurrando-se uns aos outros, logo desataram a correr atrás dela. Em vão.
Na manhã
seguinte, Sofia acordou antes do cantar do galo. Sair tão cedo permitiu que
fosse a primeira a chegar à escola. Os rapazes iam chegando de sorriso
envergonhado… É que ainda não tinham esquecido a derrota, na corrida da
véspera. E, a partir daquele dia, Sofia aprendeu muito naquela escola de uma
única sala.
Passou um
ano. Uma manhã, Sofia estava sentada junto da mãe quando, de repente, se
levantou uma nuvem de poeira na encosta. O porco começou a grunhir. As galinhas
a cacarejarem. Era o homem dos números que voltava no seu carro vermelho.
Nesse
momento, as primeiras gotas de chuva começaram a formar pequenos círculos na
superfície da água do rio, círculos que se alargavam cada vez mais. Começava a
monção. Sofia olhou as nuvens que se formavam e pensou que, agora, iria ter
menos calor a caminho da escola.
O homem dos
números contou as pessoas da aldeia e, ao fim do dia, chegou à casa de Sofia. E
olhou para os pés nus da menina.
— Onde estão
as tuas sapatilhas? — perguntou.
Sofia sorriu
e, com ar de desafio e mãos na cintura, disse:
— Só calço
as minhas sapatilhas para ir à escola.
E os dois
começaram a rir.
— Hoje, eu
quero mostrar-lhe uma coisa — disse Sofia. — Venha comigo, por favor.
Caminharam
juntos e em silêncio, até à margem do rio. Chegados aí, Sofia, de cabeça baixa,
disse timidamente:
— Um dia,
quero construir uma escola na minha aldeia, e…
— O quê?
— Também
quero ser professora — afirmou Sofia.
Pegou numa
cana de bambu e agarrando-a com as duas mãos, escreveu na lama de argila:
Muito
obrigada pelas sapatilhas.
Agora, já
sei ler e escrever.
E fez-se um
tal silêncio que se podia ouvir o borbulhar da água a correr por entre os
seixos.
Moral da
história:
muitas vezes precisamos apenas de um estímulo para realizar nossos
sonhos. Sofia acreditou tanto que com sapatilhas conseguiria ir à escola, que
quando ganhou realizou seu sonho.
Perguntas:
- Você acha
que Sofia vai mesmo conseguir construir uma escola em sua aldeia? Por quê?
- Será que
ela vai ser uma professora também como deseja? Ela mostrou determinação
suficiente para conseguir tudo o que quer?
- E você,
tem algum sonho?
- Como você
espera realizar esse sonho? Você precisa de alguma sapatilha – estímulo-,
situação favorável para realizar o seu sonho?
Dinâmica:
Distribuir
as crianças em grupo. Deverão conversar sobre as perguntas:
Os sonhos
são importantes? Por quê?
Sem sonhar e
lutar pelos seus sonhos é possível ter progresso na sociedade?
Cite exemplos
que você conhece de pessoas que atingiram os seus sonhos e como fizeram para
conseguir.
Após o tempo
estipulado, o líder fará um resumo das conclusões do grupo.
Todos os
grupos apresentarão aos demais seu trabalho.
A seguir o
orientador junto com as crianças, irá apontar os resultados em comum, e
finalizar a conclusão sobre a história:
Se não
fossem os sonhos dos grandes inventores, e mesmo de cada um de nós que lutou
para realiza-los, o progresso não teria acontecido.
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