Dário era um
bom mocinho, alegre e esperto, estimado por todos que o conheciam.
Um dia
despedindo-se de sua família e de seus amigos, saiu de casa, para ganhar honradamente
a vida. Ele era o mais velho dos cinco filhos que tinha o tio Pedro; e como a
miséria lhes batia à porta, forçoso foi que o moço saísse, para não
sobrecarregar o pai, em prejuízo dos irmãos menores, e também para ver se
melhorava de sorte.
Ao
despedir-se, o pai lhe dera por toda fortuna uma moeda de prata; e ele julgou-se
rico, porque não conhecia o valor do dinheiro.
Caminhava
alegremente pela estrada que conduzia à cidade, quando encontrou um velhinho,
abrigado à sombra de uma árvore, gemendo e chorando.
Dotado de
excelente coração, Dário tratou desveladamente do enfermo, e deu-lhe a sua
única moeda de prata.
O velhinho,
agradecido, disse:
– Já que
foste tão caridoso, vou fazer-te um presente. Aqui tens este violino. Todas as
vezes que o tocares, quem o ouvir não poderá resistir ao desejo de dançar.
Dário saiu
satisfeito com o presente, e pouco adiante, encontrou-se com um judeu, homem
avarento, que espoliava todo o mundo, emprestando dinheiro a altos juros, em
troca de bons e valiosos penhores de prata, ouro e pedras preciosas, que nunca mais
entregava aos respectivos donos.
Naquele
mesmo instante o judeu acabava de perder um vintém, e procurava-o aflitamente,
como se se tratasse de imensa fortuna.
O moço
ofereceu-se para ajudá-lo; e, como tinha boa vista, enxergou a moeda de cobre
caída no meio dos espinhos. Ia apanhá-la, mas o avarento não o consentiu, pensando
que Dário fosse capaz de roubá-la.
– Ah! Judeu,
disse Dário consigo mesmo: desconfias de mim! Deixa estar que me pagarás...
Esperou
sentado; e, assim que viu o miserável dentro dos espinhos, começou a tocar o
violino.
O judeu,
escutando aqueles harmoniosos sons, começou a dançar; e quanto mais Dário
tocava, tanto mais ele saltava, quase sem fôlego, rasgando a roupa, ferindo-se
nos espinhos.
– Para!... Para!...
Cessa esse violino do diabo! Para, que já não posso mais! Berrava o judeu,
desesperado, sempre a dançar.
O rapaz,
porém, continuava sempre a vibrá-lo.
– Pelo amor
de Deus, para com essa música, que te darei uma bolsa de ouro!... Disse, enfim,
o avarento.
– Ah! Isso é
outro modo de falar! Respondeu o mocinho, emudecendo o mágico violino, depois
que o judeu atirou a bolsa.
No dia
seguinte, chegando à cidade, Dário foi preso. O judeu tinha ido queixar-se que
havia sido roubado por ele.
O moço foi
condenado à morte.
No momento
em que subia para a forca, pediu que lhe permitissem tocar pela última vez o
violino.
O avarento,
que estava ao pé do cadafalso, gritou logo:
– Não o
deixem tocar mais!... Não o deixem tocar!...
O juiz,
porém, que não via razões para recusar, acedeu.
Dário
começou a vibrar o violino, e imediatamente todos – juiz, carrasco, soldados,
homens, mulheres, velhos e crianças – todos começaram a dançar.
– Basta! Gritava
o juiz.
– Basta! Gritava
o povo.
Dário cessou
a música. O juiz convenceu-se que o rapaz não era criminoso, perdoou-o, e
mandou enforcar o judeu.
Fim.
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