domingo, 15 de maio de 2016

Como nasceram as estrelas. Lendas Brasileiras.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=44478&picture=9-estrelas-em-gradiente-cores

Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca pisca. Mas é erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro — e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.
Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para todos terem o que comer.
Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto para moer. Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam de debaixo das copas encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigas murchas e sem graça.
— Vamos voltar e trazer conosco uns curumins.
(Assim chamavam os índios as crianças.) Curumim dá sorte.
E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram reto em frente e numa clareira da floresta — eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga. Mas os gatinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas — e se as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles.
Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.
Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre.
E, como se sabe, “sempre” não acaba nunca.


Clarice Lispector.

14 comentários:

Rúbia Kenes disse...

Parabéns amada pela linda historia! sabe eu não conhecia!está lenda Brasileira, eu também acho que as estrelas são os olhos de Deus! beijinhossssssss
Rúbia

Lucimar da Silva Moreira disse...

Jeanne lindo o conto, amei o final que as estrelas são os olhos de Deus,muito lindo, bjs.

Tania M disse...

oi adorei o post,linda e emocionante história,eu tinha um livro na minha infância que eu adora com história assim,adoro viu,bjus.

Os olhares da Gracinha! disse...

Adorei!!!
Fiquei fascinada...bj

Thally disse...

Nossa, achei a história bem interessante primeira vez que vejo sobre adorei

Rayssa disse...

Minha grande opinião Deus criou as estrelas no dia da criação gostei de saber penso eu de outra forma.

beijinhos

Minda Silva disse...

Achei linda a lenda, jamais teria visto por esse ângulo, sempre vi pelo lado científico da coisa ...
Deu um toque poético, e eu acredito que as estrelas sejam os olhos de Deus nos observando ...

Bjod
Minda ❤ 😍 👍

Vacieni Araújo disse...

Ah que legal, ainda não conhecia esta.
Bjs

Ana Laura disse...

Essa historinha eu ouvi na época do colégio e acho muito legal. Aproveito sempre para contar pra minha filha. Beijos

Magda Moreira disse...

Gostei muito da história amiga!!
Vou copiar e contar para os meus alunos.Parabéns por compartilhar conosco!! Bjss

Rafa Araujo disse...

Adoro ler lendas, pois mostra simplicidade e são momentos raros de ingenuidade, são historinhas verdadeiramente apaixonantes, faz a gente pensar, imaginar e se encantar, muitas vezes algumas delas, me faz lembrar quando a minha avó tão docemente contava para eu dormir ainda pequeno
Deveria voltar a ter essas coisas nas escolas, acho que isso também se perdeu

Beijos
Rafael

Sol Oliveira disse...

Parabéns amiga! Ótimo post com essa historia maravilhosa! Bjs!

Sol Oliveira disse...

Parabéns amiga! Ótimo esse post com essa história maravilhosa!!! Bjs.

Célia Lima disse...

Sempre gostei dos escritos de Clarice...Ela tem uma linguagem muito especial.Parece que esta dialogando com seus leitores quando cria seus escritos.
Bjss