Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=189406&picture=principe-e-princesa
Em companhia
de vários fidalgos, d. Bias, poderoso príncipe, herdeiro do importante reino de
Avalão, foi uma vez à caça embrenhando-se numa imensa e intrincada floresta,
que havia às portas da cidade. Não conhecendo o caminho, sua alteza, tendo se
afastado de sua comitiva, perdeu-se no mato, e não houve meio de poder dali
sair.
Depois de
andar léguas e léguas, chegou extenuado, a uma caverna aberta numa grande
montanha. Residia aí uma família de gigantes, composta de pai, mãe e filha.
O gigante,
que se chamava Ragarrão, estava fazendo lenha para o jantar.
Arrancava
facilmente com uma só mão, velhas árvores, que nem vinte juntas de bois poderiam
sequer balançar.
Ragarrão,
avistando o príncipe, que lhe pareceu um anãozinho, comparado com ele, por não
lhe chegar nem até os joelhos, exclamou:
– Oh! Que
homem tão miudinho! Que queres aqui, anão?
O príncipe
contou-lhe a sua história; e Ragarrão disse:
– Bem, visto
isso, ficarás aqui, como meu criado. E ficou chamando d. Bias de Miudinho.
Passado
algum tempo, a filha do gigante, Clandira, apaixonou-se por d. Bias, e d. Bias
por ela.
Ragarrão,
desconfiando da coisa, chamou o príncipe, e disse-lhe:
–
Contaram-me que tu te gabavas de ser capaz de edificar, em uma só noite, um palácio
para mim e minha filha. Se tal não fizeres, amanhã, pela manhã, matar-te-ei.
O príncipe
ficou desesperado; e chorava amargamente quando apareceu Clandira que lhe
falou:
– Não te
desesperes, meu querido príncipe. Amanhã, pela manhã, o palácio estará feito.
Assim foi,
porque Clandira era encantada.
Quando
Ragarrão viu aquela obra, não pôs dúvida que houvesse sido feita pela filha, e
disse à mulher:
– Amanhã
matarei Miudinho, antes que ele queira casar com minha filha.
Clandira
ouviu a conversa. Foi ao quarto de Miudinho, fê-lo levantar-se; e, roubando da
estrebaria um cavalo, que, de cada passada, caminhava sete léguas, fugiu com
ele.
Pela manhã,
Ragarrão, dando por falta de Miudinho e da filha, calçou as botas de sete
léguas que haviam pertencido ao célebre Pequeno Polegar, e saiu atrás dos fugitivos.
Quando os ia
alcançando, Clandira transformou-se num regato; Miudinho, num preto velho; o
cavalo, numa árvore; o selim em laranjas, e a espingarda que levavam, num
beija-flor.
Ragarrão,
chegando perto, perguntou ao negro:
– Você viu
passar aqui um moço e uma moça, montados a cavalo?
O africano
riu-se estupidamente, e fez um gesto, dando a entender que era surdo.
Ao mesmo
tempo o beija-flor voou em direção ao gigante, e quis furar-lhe os olhos.
Ragarrão,
aborrecido, voltou para casa, e narrou à mulher o que lhe havia sucedido.
– Ó palerma!
Bradou ela. Pois não sabes que o negro era Miudinho; o regato, nossa filha; a
árvore e as laranjas, o cavalo e o selim; e o beija-flor, a espingarda. Volta de
novo, e agarra-os.
Nesse
entretanto, os fugitivos desencantaram-se, e partiram a todo galope.
Ragarrão,
porém, saiu-lhes outra vez ao encalço; e ia encontrá-los, quando se transformaram
– a moça, numa igreja; Miudinho, em padre; o cavalo e o selim, no sino e no
badalo; e a espingarda no missal.
O gigante
entrou na igreja, e interrogou o cura:
– Vossa
Reverendíssima não viu passar por aqui um moço e uma moça montados a cavalo?
O padre, que
estava dizendo missa, não respondeu e começou a rezar.
Ao cabo de
muito tempo, Ragarrão, aborreceu-se, e retrocedeu.
– Oh tolo! Disse
a mulher, quando ouviu o que de novo lhe sucedera. Volta para trás. O padre é
Miudinho; a igreja, Clandira; o sino e o badalo, o cavalo; e o missal, a espingarda.
O gigante
voltou furioso, fazendo vinte léguas por segundo. Avistou finalmente os fugitivos;
mas, quando ia pegá-los, Clandira atirou para trás um punhado de cinza.
Formou-se
uma neblina muito densa, que Ragarrão não pôde atravessar.
Voltou para
casa, e desistiu da ideia de agarrá-los.
O príncipe
d. Bias chegou, então ao seu reino, e casou-se com Clandira, que se desencantou,
deixando de ser da raça dos gigantes, para vir a ser uma moça lindíssima.
HISTÓRIAS DA AVOZINHA - Domínio Público
Figueiredo Pimentel
Nenhum comentário:
Postar um comentário