domingo, 29 de maio de 2016

A bailarina. Cecília Meireles. Leia poesia para sua criança.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/menina-girando-dan%C3%A7a-rosa-crian%C3%A7a-1378897/

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do
Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.


Cecília Meireles.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

De criança diferente a adulto consciente.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=75218&picture=handprints-coloridos

Nasci e quando comecei a crescer, mamãe descobriu que havia algo diferente em mim. Os sons iam ficando cada vez mais distante e os médicos diziam que um dia eu não poderia mais ouvir o canto dos pássaros, o latido do cachorro, a música e nem mesmo a voz da mamãe.
Fui crescendo como toda criança e um dia minha mãe me ensinou que eu era diferente de outras crianças porque não podia ouvir sons iguais a elas.
Acho que fiquei triste porque ela me pegou pela mão e me falou: “Quando Deus criou as pessoas desejou que cada uma nascesse com uma característica diferente da outra, é isso que faz com que elas sejam únicas e assim Ele as reconheceria facilmente”.
Ela me disse ainda: “Algumas pessoas não podem ver o mundo e são chamadas de cegas ou deficientes visuais, outras não podem andar e são conhecidas como deficientes físicas. Você não pode ouvir e por isso quando alguém a chamar de “surda” ou “deficiente auditiva” não estará desejando-lhe mal, apenas tratando-a por sua característica única”.
Meu papai não acreditava que eu era diferente e meu irmão sempre achou que eu era especial para ele, por isso me levava com ele para todos os lugares aonde ia e me apresentava a todos os seus amigos.
Cresci acreditando que poderia fazer tudo o que meu coração desejasse fazer, pois se não conseguisse era apenas por não ter habilidades para aquilo, sabia bem que ser surda não era desculpa para desistir dos meus ideais.
A escola era meu lugar preferido, os livros, as revistas. Mamãe me ensinou a ler e escrever quando tinha apenas cinco anos e todos ficavam admirados com minha fluência para ler e escrever.
Fiquei muito triste quando virei adolescente porque começaram a me achar diferente e não me convidavam mais para fazer parte da turma. Não me deixavam participar dos grupos de trabalho. Minha mãe disse que quando somos crianças temos um coisa chamada inocência que não nos deixa enxergar as diferenças, para as crianças todas as pessoas são iguais, elas não veem diferenças. Ela me falou que quando começamos a ficar grandes temos dificuldades em aceitar algumas pessoas, mas que eu era perfeita, pois Deus me criou assim então eu deveria me amar como eu era, que se eu gostasse de mim mesma, todos também gostariam.
Superei aquela fase, mas por onde passei as pessoas que me conheceram diziam que eu servia de inspiração para suas vidas, pois estava sempre feliz e sorridente e que eu sempre desafiava as dificuldades.
Quando cheguei à faculdade minha mãe foi estudar junto comigo. Ela sempre falou que foi para me ajudar, mas que eu a ajudei mais do que ela a mim. Ela dizia para as pessoas que eu lhe mostrei que mesmo que pensarmos que somos velhos demais para fazer alguma coisa, devemos tentar, pois não há limites de idade para vivermos.
A profissão que escolhi foi a Pedagogia. Eu queria poder ensinar crianças para mostrar a elas desde pequenas que elas deveriam acreditar que poderiam fazer qualquer coisa desde que desejassem muito isso e que as diferenças não são defeitos ou problemas, mas um jeito novo de realizar as coisas.
Já participei de muitas atividades, viajei, conheci pessoas, lugares… Continuo estudando, faço parte de uma ONG que cuida de crianças com diferenças sociais extremas, faço parte de uma igreja que me aceita como sou e me da oportunidades de cantar, falar e viver como todos os outros ali.
Meu pai entendeu o meu jeito de viver e investiu em mim. Meu irmão continua me amando e me admirando, ele fala que sempre busca inspiração em mim quando acha que as coisas estão difíceis. Minha mãe diz que ele tanto me amou que encontrou uma namorada que tem muitas das minhas características.
Eu nasci e quando comecei a crescer descobri que ser diferente é ser uma pessoa contente.
E você? Como usa suas diferenças?


Fonte: http://www.historias-infantis.com/de-crianca-diferente-a-adulto-consciente/

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Dédalo e Ícaro, os limites para sonhar. Mitologia grega.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=22034&picture=blue-angel

Dédalo e Ícaro, os limites para sonhar.

Em Atenas, Dédalo era um artesão e engenheiro famoso. Todos conheciam a sua arte e ele tinha fama em toda Grécia. Os mais poderosos reis queriam adquirir as suas esculturas ou viver nos majestosos palácios e edifícios que ele construía. Com tantas encomendas, Dédalo já não conseguia atender a todos os pedidos e para aliviar a grande sobrecarga, o artista decidiu ter um aprendiz em sua oficina, seu sobrinho Talo.
Dédalo ensinou ao jovem todos os segredos das artes da cerâmica, da arquitetura e da escultura. Aos poucos, Talo mostrou-se um excelente aprendiz e um genial artista, e com sua criatividade inventou o torno de oleiro. Dédalo sentiu uma profunda inveja por não ter sido ele o criador do invento. A cada dia, Talo inventava algo. Certa vez, ao ver os dentes pontiagudos de uma serpente, ele teve a inspiração para inventar o serrote. Passado algum tempo, Talo inventou o compasso e outros inventos para a produção das armas, tijolos e vestimentas dos atenienses.
Quanto mais Talo mostrava a sua criatividade, mais Dédalo o invejava, e Talo começou a adquirir muita fama em Atenas conquistando os antigos admiradores e clientes de Dédalo. Aos poucos Dédalo foi perdendo a genialidade criativa e sua inveja tirava sua inspiração. Os trabalhos de Talo passaram a ser preferidos e Dédalo por se sentir ofendido decidiu eliminar o sobrinho. Dissimulando suas intenções, Dédalo convidou Talo para um passeio ao templo de Atena que ficava no alto e um penhasco. Caminhando inocentemente com o tio, quando passavam pelas muralhas do tempo em um gesto premeditado Dédalo empurrou Talo ao precipício. Ao encontrar a morte, o rosto de Talo apresentava um sorriso nos lábios.
Depois de matar o sobrinho, Dédalo recolheu o corpo de Talo, enfiou em um saco e tentou apagar os vestígios de seu crime. Porém, quando retornava para sua oficina, Dédalo foi surpreendido carregando um saco sujo de sangue. Nervoso, o arquiteto disse ser de uma serpente que matara, mas o nervosismo do arquiteto fez com que as pessoas desconfiassem daquela versão. Dédalo continuou o seu caminho, sem perceber que os curiosos sorrateiramente seguiam os seus passos. Em um terreno vazio, Dédalo depositou o cadáver do sobrinho. Do alto do Olimpo, Atena a deusa da sabedoria, o assistia e transformou a alma de Talo numa perdiz.
Denunciado, Dédalo foi conduzido ao cárcere enquanto a perdiz sobrevoava tribunal assistindo a justiça feita. Alguns dias após a condenação Dédalo conseguiu fugir para Creta onde já tinha chegado a sua fama de artesão, escultor, inventor e engenheiro. Quando Minos, rei de Creta, soube da presença do artista, recebeu-o com honras de Estado e o colocou sob sua proteção, mas exigiu que ele trabalhasse somente para ele. Dédalo passou a criar muitas obras e estátuas para Minos, mas perdeu sua liberdade criadora. Suas criações ficaram restritas aos desejos do monarca e sua arte se tornou prisioneira dos caprichos do Rei Minos.
Sempre à deriva dos caprichos reais, a bela rainha Pasífae, a esposa do rei, tendo se apaixonado por um touro, pediu a Dédalo que criasse uma armadura no formato de uma novilha que lhe permitisse atrair o touro. Dédalo esculpiu uma novilha em madeira e desse amor incomum da rainha e o touro nasceu o Minotauro, uma criatura com corpo de homem e cabeça de touro. Para esconder a vergonha da traição da mulher, Minos ordenou que Dédalo construísse uma prisão para o monstro, um lugar de onde ele jamais pudesse sair. Dédalo construiu um labirinto com becos e caminhos sinuosos, como um enigma.
O Labirinto tornou-se a maior obra arquitetônica de todo o Mediterrâneo gerando a admiração dos povos, inquietando a curiosidade de outros reinos. Aprisionado, o Minotauro se revelou uma violenta fera e exigia ser alimentado de carne humana. Minos que havia conquistado o reino de Atenas exigia do rei Egeu sete rapazes e sete moças para serem sacrificados. Teseu, o filho do rei de Atenas, revoltado com a maléfica exigência, misturou-se com os jovens que seriam enviados para Creta.
Em Creta, Teseu seduziu a bela princesa Ariadne, filha de Minos. Com sua ajuda, penetrou no Labirinto levando um novelo de lã que foi desenrolado desde a porta de entrada. Teseu venceu o Minotauro e conseguiu sair do labirinto seguindo as linhas do novelo. A bela Ariadne esperava-o na saída e apaixonada fugiu com Teseu, levando seu irmão como refém. Perseguidos pelo rei Minos, esquartejaram o filho de Minos, e enquanto Minos recolhia os pedaços do filho no mar, Teseu e Ariadne fugiram. O rei Minos culpou Dédalo por toda tragédia e como castigo, encerrou Dédalo e seu filho Ícaro dentro do Labirinto, fazendo-os prisioneiros perpétuos.
Dédalo se tornou prisioneiro de sua própria criação e passou a viver com seu sonho de liberdade, até que construiu asas que lhe permitiria fugir voando. Juntando penas de aves, Dédalo construiu seu sonho amarrando as penas e colocando uma camada de cera sobre elas. Terminado seu projeto, Dédalo recomendou a seu filho os cuidados para o voo e, movidos de coragem, os dois saltaram para o infinito. Dominando o voo, Dédalo preveniu ao filho que mantivesse uma determinada altura; não tão baixa para não cair no mar e nem tão alta para que não se aproximasse do sol que poderia derreter a cera.
Dédalo e Ícaro alcançam os céus da Grécia, mas Ícaro se deixou deslumbrar pela sensação de liberdade e pela beleza do céu. Voando alto, os raios quentes do sol derreteram a cera das asas e em meio ao seu delírio sonhador, Ícaro se precipitou no mar. Dédalo desceu para apanhar o cadáver do filho e quando caminhava entre os arbustos para sepultá-lo, uma perdiz pairou sobre sua cabeça. Era o espírito de Talo, acentuando a tragédia numa anunciada vingança.
Partindo em um barco pelo mar Dédalo aportou na Sicília. Mesmo sendo recebido com honras pelo rei daquele local, a alma de Dédalo vestia um luto perene e nada estimulava sua alma criadora. Já não sentia nenhuma inveja como no passado e viu perdida sua genialidade. Apesar disso, criava o que lhe instruíam, mas ele já não se importava com os aplausos. Tornou-se um protegido no reino, mas um dia Minos aportou na Trinácria à procura de Dédalo. A fim de proteger Dédalo, o rei Cócalo fingiu receber com honras o rei Minos, convidando-o para um banho quente e um banquete.

Para repousar da fatigante viagem, Minos atendeu ao convite. Entrando na banheira, sentiu a água morna e fechou os olhos para repousar. Mas Cócaro havia premeditado matar Minos, e de repente a água começou a esquentar e ferver e, apesar dos gritos de Minos, ninguém veio a socorrê-lo. O soberano de Creta morreu sufocado pelos vapores e pelo calor. Dédalo estava livre do seu maior perseguidor, porém já não tinha mais sentido a sua liberdade. Dédalo seguiu solitário ensinando sua arte a muitos discípulos. E já muito velho, quando viu a morte chegar, Dédalo realizou seu maior sonho, vendo sua alma sem asas voar...


Para os pequenos a história deve ser reduzida.

Perguntas:

Onde morava Dédalo?

Qual era sua profissão?

Artesão -
substantivo masculino
indivíduo que pratica arte ou ofício que dependem de trabalhos manuais.
artífice que exerce sua profissão em oficina própria.

Por que Dédalo matou o sobrinho?  Essa atitude foi certa?  Que acontece em nossos dias com alguém que mata outra pessoa?

Após fugir do cárcere para onde fugiu Dédalo?

Como surgiu o Minotauro?

Por que Dédalo foi preso no labirinto com seu filho?

Qual foi o seu plano de fuga?

Ícaro seguiu os conselhos do pai quando fugiram do labirinto?

Você tem um sonho?

Você acha que para realizar os sonhos podemos ignorar nossas limitações e as dificuldades da vida? Por quê?




Sonho de Ícaro
Byafra
  

Voar, voar
Subir, subir
Ir por onde for
Descer até o céu cair
Ou mudar de cor
Anjos de gás
Asas de ilusão
E um sonho audaz
Feito um balão...

No ar, no ar
Eu sou assim
Brilho do farol
Além do mais
Amargo fim
Simplesmente sol...

Rock do bom
Ou quem sabe jaz
Som sobre som
Bem mais, bem mais...

O que sai de mim
Vem do prazer
De querer sentir
O que eu não posso ter
O que faz de mim
Ser o que sou
É gostar de ir
Por onde, ninguém for...

Do alto coração
Mais alto coração...

Viver, viver
E não fingir
Esconder no olhar
Pedir não mais
Que permitir
Jogos de azar
Fauno lunar
Sombras no porão
E um show vulgar
Todo verão...

Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul...

Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...

Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...

Do alto, coração
Mais alto, coração...

Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...

Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...

Do alto, o coração
Mais alto, o coração...(2x)

terça-feira, 24 de maio de 2016

Rumpelstiltskin. Irmãos Grimm.

Fonte da imagem:Rumpelstiltskin Ilustração de Walter Crane para uma tradução dos Contos de Grimm (1886)

Havia uma vez um moleiro pobre que tinha uma filha muito bela. Um dia aconteceu de ter que ir falar com o rei e, para parecer mais importante, disse:
- Tenho uma filha que pode fiar a palha e convertê-la em ouro. 
- Essa é uma habilidade que me impressiona – disse o rei ao moleiro – se tua filha é tão hábil como dizes, traga-a amanhã ao meu palácio e vamos ver isso. Quando trouxeram a garota, o rei a levou para um quarto cheio de palha, deu-lhe uma roca e uma bobina e disse:
- Trabalha e, se amanhã pela manhã não tiveres convertido toda essa palha em ouro, durante a noite, morrerás. Então ele mesmo fechou a porta à chave e a deixou só. A filha do moleiro e sentou sem poder fazer nada para salvar sua vida. Não tinha a menor ideia de como fiar a palha e convertê-la em ouro, e se assustava cada vez mais, até que por fim começou a chorar. Porém, de repente a porta se abriu e entrou um homenzinho:
- Boa tarde, senhorita moleira, por que estás chorando tanto?
- Ai de mim – disse a garota – tenho que fiar essa palha e convertê-la em ouro, porém não sei como fazê-lo. 
- O que me dás – disse o homenzinho – se fizer isso por ti?
- Meu colar, disse ela. O homenzinho pegou o colar, sentou-se à roca e whirr, whirr, whirr três voltas e a bobina estava cheia. Pôs outra e whirr, whirr, whirr três voltas e a segunda estava cheia também. E seguiu assim até o amanhecer, quando toda palha estava fiada e todas as bobinas cheias de ouro. Ao despertar o dia o rei já estava ali, e quando viu o ouro ficou atônito e encantado, porém seu coração se tornou mais avarento. Levou a filha do moleiro a outra sala, muito maior e cheia de palha e lhe ordenou que fiasse anoite inteira, se apreciava a vida. A garota que não sabia o que fazer, estava chorando quando a porta se abriu de novo. O homenzinho apareceu e disse:- Que me darás se eu converter essa palha em ouro? - perguntou ele.
O anel que levo em meu dedo – disse ela. O homenzinho apanhou o anel e começou outra vez a girar a roca, e pela manhã havia fiado toda a palha e convertido em brilhante ouro. O rei ficou felicíssimo quando viu aquilo. Porém como não tinha ouro suficiente, levou afilha do moleiro a outra sala cheia de palha, muito maior que a anterior, e disse:- Tens que fiar isso durante esta noite, se conseguires, serás minha esposa. - “Apesar de ser a filha de um moleiro, “ pensou, “ não poderei encontrar esposa mais rica no mundo. “Quando a garota ficou só, o homenzinho apareceu pela terceira vez, e disse:
- Que me darás se fiar a palha desta vez?
- Não tenho mais nada para te dar – respondeu a garota. 
- Então me prometa, que se te tornares rainha, me darás teu primeiro filho.
- “Quem sabe se isso ocorrerá alguma vez.“ pensou a filha do moleiro. E não sabendo como sair daquela situação, prometeu ao homenzinho o que ele queria e uma vez mais a palha foi convertida em ouro. Quando o rei chegou pela manhã, e encontrou todo o ouro que havia desejado, casou-se com ela e a preciosa filha do moleiro tornou-se rainha. Um ano depois, trouxe ao mundo um belo menino, e em nenhum momento se lembrou do homenzinho. Porém, de repente, veio ao seu quarto e lhe disse:
- Dá-me o que prometeste. A rainha estava horrorizada e lhe ofereceu todas as riquezas do reino para deixar seu filho. Porém o homenzinho disse:
- Não, algo vivo vale para mim mais que todos os tesouros do mundo. A rainha começou a se lamentar e chorar tanto que o homenzinho se compadeceu dela:
- Te darei três dias - disse – se descobrires meu nome, então ficarás com teu filho. Então a rainha passou toda a noite pensando em todos os nomes que tinha ouvido, e mandou um mensageiro a todos os cantos do reino para perguntar por todos os nomes que havia. Quando o homenzinho chegou no dia seguinte, ela começou: Gaspar, Melquior, Baltazar... 
Disse um atrás do outro, todos os nomes que sabia, porém a cada um o homenzinho dizia:
- Esse não é meu nome. No segundo dia havia perguntado aos vizinhos seus nomes, e ela repetiu os mais curiosos e pouco comuns:
- Seria teu nome Pata de Cordeiro ou Laço Largo?

Porém ele disse:
- Esse não é meu nome. Ao terceiro dia o mensageiro voltou e disse:
- Não encontrei nenhum nome. Porém, quando subia uma grande montanha ao final de um bosque, onde a raposa e a lebre se desejam boas noites, ali vi um homenzinho muito ridículo saltando... 
Deu uma cabriola e gritou: 

“Hoje trago o pão, 
amanhã trarei cerveja 
no outro terei o filho da jovem rainha”. 
Já estou contente de que nada aconteça 
que Rumpelstiltskin me chamo. 

“Podeis imaginar o contentamento da rainha quando escutou o nome”. E quando logo em seguida o chegou o homenzinho e perguntou:
- Bem, jovem rainha, qual é meu nome? A rainha primeiro disse:
- Te chamas Conrado? 
- Não. 
- Te chamas Harry? 
- Não. 
- Quem sabe teu nome é... Rumpelstiltskin? 
- Te contou o demônio! Te contou o demônio! 
Gritou o homenzinho e, na sua raiva, bateu o pé direito na terra tão forte que entrou toda a perna e quando tirou com raiva a perna, com as duas mãos se partiu em dois.

domingo, 22 de maio de 2016

História de Uma Gata. Chico Buarque.



Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/gato-animais-de-estima%C3%A7%C3%A3o-451377/


História de Uma Gata.
Chico Buarque
 
Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram

O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia filé-mignon
Ou mesmo um bom filé...de gato

Me diziam, todo momento
Fique em casa, não tome vento
Mas é duro ficar na sua
Quando à luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite vão cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás

De manhã eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem filé e sem almofada
Por causa da cantoria

Mas agora o meu dia-a-dia
É no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás

Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio

Felino, não reconhecerás.





Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php image=134637&picture=minimalista-desenho-do-gato

Complete o desenho do gatinho e pinte.

A princesa e a ervilha. Hans Christian Andersen.

Fonte da imagem;https://pixabay.com/pt/menina-dan%C3%A7a-vestido-flores-1349272/

Havia uma vez um príncipe que queria se casar com uma princesa, mas não se contentava com uma princesa que não fosse de verdade. De modo que se dedicou a procurá-la no mundo inteiro, ainda que inutilmente, pois todas que via apresentavam algum defeito. Princesas havia muitas, porém não podia ter certeza, ja que sempre havia nelas algo que não estava bem. Assim, regressou ao seu reino cheio de sentimento, pois desejava muito uma princesa verdadeira!
Certa noite, caiu uma tempestade horrível. Trovejava e chovia a cântaros. De repente, bateram à porta do castelo, e o rei foi pessoalmente abrir.
No umbral havia uma princesa. Mas, Santo Céu, como havia ficado com o tempo ea chuva! A água escorria por seu cabelo e roupas, seu sapato estava desmanchando. Apesar disso, ela insistia que era uma princesa real e verdadeira.
"Bom, isso vamos saber logo", pensou a rainha velha.
E, sem dizer uma palavra, foi ao quarto, tirou toda a roupa de cama e colocou uma ervilha no estrado, em seguida colocou vinte colchões sobre a ervilha, e sobre eles vinte almofadas feitas com as plumas mais suaves que se pode imaginar.
Ali teria que dormir toda a noite a princesa.
Na manhã seguinte, perguntaram-lhe como tinha dormido.
-Oh, terrivelmente mal! - disse a princesa. Não consegui fechar os olhos toda a noite. Vá se saber o que havia nessa cama! Encostei-me em algo tão duro que amanheci cheia de dores. Foi horrível!
Ouvindo isso, todos compreenderam que se tratava de uma verdadeira princesa, já que havia sentido a ervilha através dos vinte colchões e vinte almofadões. Só uma princesa podia ter uma pele tão delicada.
E assim o príncipe casou com ela, seguro que sua era uma princesa completa. A ervilha foi enviada a um museu onde pode ser vista, a não ser que alguém a tenha roubado.


sábado, 21 de maio de 2016

Respeitando o tempo para aprender. Linda animação.

O pescador e sua mulher. Um conto de fadas dos Irmãos Grimm.

Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=6455&picture=um-pescador

Era uma vez um pobre pescador e sua mulher. Eram pobres, muito pobres. Moravam numa choupana à beira-mar, num lugar solitário. Viviam dos poucos peixes que ele pescava. Poucos porque, de tão pobre que era ele não possuía um barco: não podia aventurar-se ao mar alto, onde estão os grandes cardumes. Tinha de se contentar com os peixes que apanhava com os anzóis ou com as redes lançadas no raso. Sua choupana, de pau-a-pique era coberta com folhas de palmeira. Quando chovia a água caía dentro da casa e os dois tinham de ficar encolhidos, agachados, num canto.
Não tinham razões para serem felizes. Mas, a despeito de tudo, tinham momentos de felicidade. Era quando começavam a falar sobre os seus sonhos. Algum dia ele teria sorte, teria uma grande pescaria, ou encontraria um tesouro – e então teriam uma casinha branca com janelas azuis, jardim na frente e galinhas no quintal. Eles sabiam que a casinha azul não passava de um sonho. Mas era tão bom sonhar! E assim, sonhando com a impossível casinha azul, eles dormiam felizes, abraçados.
Era um dia comum como todos os outros. O pescador saiu muito cedo com seus anzóis para pescar. O mar estava tranquilo, muito azul. O céu limpo, a brisa fresca. De cima de uma pedra lançou o seu anzol. Sentiu um tranco forte. Um peixe estava preso no anzol. Lutou. Puxou. Tirou o peixe. Ele tinha escamas de prata com barbatanas de ouro. Foi então que o espanto aconteceu. O peixe falou. "Pescador, eu sou um peixe mágico, anjo dos deuses no mar. Devolva-me ao mar que realizarei o seu maior desejo…" O pescador acreditou. Um peixe que fala deve ser digno de confiança. "Eu e minha mulher temos um sonho," disse o pescador. "Sonhamos com uma casinha azul, jardim na frente, galinhas no quintal… E mais, roupa nova para minha mulher…"
Ditas estas palavras ele lançou o peixe de novo ao mar e voltou para casa, para ver se o prometido acontecera. De longe, no lugar da choupana antiga, ele viu uma casinha branca com janelas azuis, jardim na frente, e galinhas no quintal e, à frente dela, a sua mulher com um vestido novo – tão linda! Começou a correr e enquanto corria pensava: "Finalmente nosso sonho se realizou! Encontramos a felicidade!"
Foi um abraço maravilhoso. Ela ria de felicidade. Mas não estava entendendo nada. Queria explicações. E ele então lhe contou do peixe mágico. "Ele me disse que eu poderia pedir o que quisesse. E eu então me lembrei do nosso sonho…" Houve um momento de silêncio. O rosto da mulher se alterou. Cessou o riso. Ficou séria. Ela olhou para o marido e, pela primeira vez, ele lhe pareceu imensamente tolo: "Você poderia ter pedido o que quisesse? E por que não pediu uma casa maior, mais bonita, com varanda, três quartos e dois banheiros? Volte. Chame o peixe. Diga-lhe que você mudou de ideia."
O marido sentiu a repreensão e sentiu-se envergonhado. Obedeceu. Voltou. O mar já não estava tão calmo, tão azul. Soprava um vento mais forte. Gritou: "Peixe encantado, de escamas de prata e barbatanas de ouro!" O peixe apareceu e lhe perguntou: "O que é que você deseja?" O pescador respondeu "Minha mulher me disse que eu deveria ter pedido uma casa maior, com varanda, três quartos e dois banheiros!" O peixe lhe disse: "Pode ir. O desejo dela já foi atendido." De longe o pescador viu a casa nova, grande, do jeito mesmo como a mulher pedira.
"Agora ela está feliz," ele pensou. Mas ao chegar a casa o que ele viu não foi um rosto sorridente. Foi um rosto transtornado. "Tolo, mil vezes tolo! De que me vale essa casa nesse lugar ermo, onde ninguém a vê? O que eu desejo é um palacete num condomínio elegante, com dois andares, muitos banheiros, escadarias de mármore, fontes, piscina, jardins. Volte! Diga ao peixe desse novo desejo!"
O pescador, obediente, voltou. O mar estava cinzento e agitado. Gritou: "Peixe encantado, de escamas de prata e barbatanas de ouro!" O peixe apareceu e lhe perguntou: "O que é que você deseja?" O pescador respondeu "Minha mulher me disse que eu deveria ter pedido um palacete num condomínio elegante…" Antes que ele terminasse o peixe disse: "Pode voltar. O desejo dela já está satisfeito."
Depois de muito andar – agora ele já não morava perto da praia - chegou à cidade e viu, num condomínio rico, um palacete tal e qual aquele que sua mulher desejava. "Que bom," ele pensou. "Agora, com seu desejo satisfeito, ela deve estar feliz, mexendo nas coisas da casa." Mas ela não estava mexendo nas coisas da casa. Estava na janela. Olhava o palacete vizinho, muito maior e mais bonito que o seu, do homem mais rico da cidade. O seu rosto estava transtornado de raiva, os seus olhos injetados de inveja.
"Homem, o peixe disse que você poderia pedir o que quisesse. Volte. Diga-lhe que eu desejo um palácio de rainha, com salões de baile, salões de banquete, parques, lagos, cavalariças, criados, capela."
O marido obedeceu. Voltou. O vento soprava sinistro sobre o mar cor de chumbo. "Peixe encantado, de escamas de prata e barbatanas de ouro!" O peixe apareceu e lhe perguntou: "O que é que você deseja?" O pescador respondeu "Minha mulher me disse que eu deveria ter pedido um palácio com salões de baile, de banquete, parques, lagos…" - "Volte!" disse o peixe antes que ele terminasse. "O desejo de sua mulher já está satisfeito."
Era magnífico o palácio. Mais bonito do que tudo aquilo que ele jamais imaginara. Torres, bosques, gramados, jardins, lagos, fontes, criados, cavalos, cães de raça, salões ricamente decorados… Ele pensou: "Agora ela tem de estar satisfeita. Ela não pode pedir nada mais rico."
O céu estava coberto de nuvens e chovia. A mulher, de uma das janelas, observava o reino vizinho, ao longe. Lá o céu estava azul e o sol brilhava. As pessoas passeavam alegremente pelo campo.
"De que me serve este palácio se não posso gozá-lo por causa da chuva? Volte, diga ao peixe que eu quero ter o poder dos deuses para decretar que haja sol ou haja chuva!"
O homem, amedrontado, voltou. O mar estava furioso. Suas ondas se espatifavam no rochedo. "Peixe encantado, de escamas de prata e barbatanas de ouro!" – ele gritou. O peixe apareceu. "Que é que sua mulher deseja?" ele perguntou. O pescador respondeu: "Ela deseja ter o poder para decretar que haja sol ou haja chuva!"
O peixe falou suavemente. "O que vocês desejavam era felicidade, não era?" - "Sim," respondeu o pescador. "A felicidade é o que nós dois desejamos." - " Pois eu vou lhes dar a felicidade!" O pescador riu de alegria. "Volte," disse o peixe. "Vá ao lugar da sua primeira casa. Lá você encontrará a felicidade…" E com estas palavras desapareceu.
O pescador voltou. De longe ele viu a sua casinha antiga, a mesma casinha de pau-a-pique coberta de folhas de coqueiro. Viu sua mulher com o mesmo vestido velho. Ela colhia verduras na horta. Quando ela o viu veio correndo ao seu encontro. "Que bom que você voltou mais cedo," ela disse com um sorriso. "Sabe? Vou fazer uma salada e sopa de ostras, daquelas que você gosta. E enquanto comemos, vamos falar sobre a casinha branca com janelas azuis… E depois vamos dormir abraçados”.
Ditas essas palavras ela segurou a mão do pescador enquanto caminhavam, e foram felizes para sempre.

Moral da história: 

Mais importante que ter bens materiais é ter um sonho. Podemos realizar nossos sonhos, mas através de nosso esforço. Nada que recebermos de forma fácil será a solução para realizar um sonho.



Os sonhos nos levam a buscar a realização deles, a trabalhar e procurar maneiras de realizá-los. E essa tarefa só compete a cada um de nós. Tudo o que é conquistado com esforço será bem merecido e trará muitas alegrias. Assim, quem tem as coisas que deseja de forma facilitada demais tenderá a não valorizar.
Também devemos evitar o descontentamento. Algumas pessoas nunca estão satisfeitas, sempre desejam o que não possuem. Essas pessoas não serão felizes, pois que cada um tem o que merece e o que lutou para conquistar.
Completar explicando que a verdadeira felicidade não depende apenas dos bens materiais, mas das conquistas espirituais que buscamos através do estudo, bons livros, boa música, boas companhias.
Fazer o bem sempre, porque recebemos de volta o que plantamos.

Dinâmica: 

distribuir as quatro carinhas para cada criança.
Sem falar, as crianças irão circular pela sala com uma carinha escolhida no rosto. Observar quais carinhas vai atrair. Depois trocar as carinhas.
Uma carinha triste pode fazer com que uma criança com a carinha feliz fique na sua frente em uma atitude de “animar” o amigo. Ou dentro do espírito do conto, atrair outra carinha triste.
Deixar as crianças livres para escolher e depois comentarem como se sentiram.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

A porta. Linda poesia de Vinicius de Moraes.

Fonte da imagem:https://pixabay.com/pt/porta-apartamento-entrada-bloqueado-1013738/

Sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Não há nada no mundo

Mais viva que uma porta



Eu abro devagarinho

Pra passar o menininho

Eu abro bem com cuidado

Pra passar o namorado


Eu abro bem prazenteira

Pra passar a cozinheira

Eu abro de supetão

Pra passar o capitão


Eu fecho a frente da casa

Fecho a frente do quartel

Eu fecho tudo no mundo

Só vivo aberta no céu!


Vinicius de Moraes

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Cantigas de roda, cirandas.

Fonte da imagem:
http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=38759&picture=sapo-isolada

Sapo-cururu.

Sapo-cururu,
Na beira do rio,
Quando o sapo canta,
Oh maninha,
É que está com frio

A mulher do sapo
Deve estar lá dentro
Fazendo rendinha
Oh, maninha,
Para o casamento.





Fonte da imagem:http://www.publicdomainpictures.net/view-image.php?image=89710&picture=galo


Meu galinho.

Há três noites que eu não durmo, o-lá-lá!
Pois perdi o meu galinho o-lá-lá!
Coitadinho, o-lá-lá!
Pobrezinho, o-lá-lá!
Eu perdi lá no jardim.

Ele é branco e amarelo, o-lá-lá!
Tem a crista vermelinha, o-lá-lá!
Bate as asas, o-lá-lá!
Abre o bico, o-lá-lá!
Ele faz qui-ri-qui-qui!

Já rodei em Mato Grosso, o-lá-lá!
Amazonas e Pará, o-lá-lá!
Encontrei, o-lá-lá!
Meu galinho, o-lá-lá!
No sertão do Ceará.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Alice no País das Maravilhas.Capítulo 9 - A história da falsa tartaruga.


“Você não pode imaginar como eu estou feliz em vê-la novamente, minha queridinha”, disse a Duquesa, tocando afetuosamente o braço de Alice, passando a caminhar junto com ela.
Alice ficou feliz por encontrá-la de bom humor, e pensou consigo mesma que talvez fosse a pimenta que a deixava tão selvagem como quando as duas se conheceram na cozinha.
“Quando eu for uma Duquesa”, ela disse para si mesma (não em um tom muito esperançoso), “não vou usar pimenta em minha cozinha de jeito nenhum. Sopa cai muito bem sem isso talvez seja a pimenta que deixe as pessoas mal-humoradas”, ela continuou bem feliz de ter descoberto um novo tipo de regra, “e o vinagre as deixa azedas... e a camomila as deixa amargas... e. e as balas de cevada e este tipo de coisas é que deixam as crianças tão doces. Eu queria que as pessoas soubessem disso: então, eles não seriam tão sovinas com doces, sabe...”
 Ela quase se esqueceu da Duquesa nessa hora e levou um pequeno susto quando ouviu sua voz perto dos ouvidos.
“Você está pensando em alguma coisa, minha querida, e isso faz você esquecer-se de falar. Eu não posso lhe dizer agora qual é a moral disso, mas vou lembrar num instante.”
“Talvez não haja nenhuma”, Alice aventurou-se a observar.
“Ora, ora, criança!”, retrucou a Duquesa. “Tudo tem uma moral, se você encontrá-la.” E foi se apertando contra Alice enquanto falava.
Alice não gostou muito de estar tão perto dela, em primeiro lugar porque a Duquesa era muito feia, e em segundo lugar porque era do tamanho exato para apoiar o queixo sobre o ombro de Alice, e possuía um queixo muito pontudo. Entretanto, Alice não queria ser rude e por isso aguentou o quanto pôde.
“O jogo parece estar bem melhor agora”, disse para manter a conversa.
“Perfeito”, respondeu a Duquesa, “e a moral disso é... ‘Oh! é o amor, é o amor que faz o mundo girar!”
“Alguém disse”, Alice murmurou, “que ele gira quando cada um cuida dos seus próprios negócios.”
“Ah! Bem! Isto quer dizer quase a mesma coisa”, disse a Duquesa enfiando o queixo pontudo nos ombros de Alice, completando, “e a moral disso é... ‘Tome conta do sentido e os sons tomarão conta de si mesmos.”
“Como ela gosta de achar uma moral em tudo!”, Alice pensou consigo mesma.
“Aposto como você está pensando porque eu não coloco meu braço na sua cintura”, a Duquesa falou, depois de uma pausa. “A razão é: tenho dúvidas em relação ao humor do seu flamingo. Posso experimentar?”
“Ele pode bicar”, Alice cautelosamente replicou não se sentindo nem um pouco a fim de que ela tentasse.
“Bem verdade”, disse a Duquesa, “flamingos e a mostarda bicam. E a moral disso é... ‘Pássaros da mesma plumagem voam juntos’.”
“Só que a mostarda não é um pássaro”, Alice observou.
“Certo. Como sempre”, disse a Duquesa, “você tem uma maneira muito clara de colocar as coisas!”
“É um mineral, eu acho”, disse Alice.
“É claro que é”, disse a Duquesa, que parecia pronta para concordar com tudo que Alice dissesse. “Há uma grande máquina de mostarda perto daqui. E a moral disso é... ‘Quanto mais tenho para mim, menos sobra para os outros’.”
“Ah! já sei!”, exclamou Alice, que não tinha prestado atenção à última observação da Duquesa. “É um vegetal. Não parece com um, mas é.”
“Eu concordo com você”, disse a Duquesa, “e a moral disso é... ‘Seja o que você parece ser’... ou, se você prefere colocar isso de um jeito mais simples... ‘Nunca se imagine diferente do que deveria parecer para os outros o que você fosse ou poderia ter sido não seja diferente do que você tendo sido poderia ter parecido para eles ser diferente’.”
“Eu acho que poderia entender melhor”, disse Alice polidamente, “se eu tivesse isso por escrito: não consigo seguir com você falando.”
“Isso não é nada em comparação com o que eu poderia dizer se quisesse”, replicou a Duquesa num tom de prazer.
“Por favor, não se dê ao trabalho de dizer isso mais complicado que já disse”, falou Alice.
“Oh, não fale em dar trabalho”, disse a Duquesa. “Dou-lhe de presente tudo o que já falei até agora.”
“Um tipo de presente bem barato!”, pensou Alice. “Fico feliz que as pessoas não costumem dar presentes de aniversário como esses!”. Mas ela não se aventurou a dizer isso em voz alta.
“Pensando novamente?”, perguntou a Duquesa, com outro cutucão do seu queixo pontudo.
“Eu tenho o direito de pensar”, disse Alice asperamente começando a se sentir aborrecida.
“Tem tanto direito”, disse a Duquesa, “quanto os porcos têm de voar, e a mo...”
Mas nesse instante, para grande surpresa de Alice, a voz da Duquesa sumiu, bem no meio da sua palavra favorita, moral, e o braço que estava grudado no seu começou a tremer. Alice olhou para cima e lá estava a Rainha diante dela, com os braços cruzados, franzindo o cenho como uma tempestade de raios e trovões.
“Um belo dia, não é, Majestade?”, a Duquesa começou, com uma vozinha débil, frágil.
“Agora, eu vou lhe dar um aviso sincero”, gritou a Rainha, batendo os pés no chão enquanto falava, “ou você ou a sua cabeça devem sair daqui, e já! Faça sua escolha!”
A duquesa fez sua escolha e sumiu no mesmo instante.
“Vamos continuar com o jogo”, a Rainha disse para Alice, e a menina estava assustada demais para dizer qualquer coisa, por isso seguiu-a lentamente em direção ao campo de críquete.
Os outros convidados tiraram vantagem com a ausência da Rainha e estavam descansando na sombra: entretanto, tão logo a avistaram correram apressados para o jogo, pois a Rainha tinha reforçado que um minuto sequer de atraso iria lhes custar a vida.
Todo o tempo em que eles estiveram jogando a Rainha não parou nem um minuto de discutir com os jogadores e gritar “Cortem a cabeça dele!”, ou “Cortem a cabeça dela!”. Aqueles que eram sentenciados ficavam sob custódia dos soldados, que, é claro, tinham que deixar seus postos de arcos do jogo para isso, daí, lá pelo final da primeira meia-hora de jogo, já não havia mais arcos e todos os jogadores, com exceção do Rei, da Rainha e de Alice estavam presos e sob sentença de execução.
Então a Rainha abandonou o jogo, quase sem fôlego e perguntou para Alice: “Você já viu a Falsa Tartaruga?”
“Não”, respondeu Alice. “Eu nem mesmo sei quem é a Falsa Tartaruga.”
“É com o que se faz a Sopa de Falsa Tartaruga”, completou a Rainha.
“Nunca vi uma, nem mesmo ouvi falar”, disse Alice.
“Venha, então”, disse a Rainha, “e eu vou lhe contar a história dela.”
Como todos caminhavam juntos, Alice ouviu o Rei dizer em voz baixa para os condenados: “Vocês estão todos perdoados.”
“Bem, isso é uma boa coisa!”, Alice disse para si mesma, pois estava se sentindo muito triste com as execuções que a Rainha ordenara.
Logo eles chegaram junto a um Grifo, que jacarezava ao sol. (Se você não sabe o que é um Grifo, olhe a figura).


“Levante-se, preguiçoso!”, disse a Rainha. “E leve esta senhorita para ver a Falsa Tartaruga e ouvir sua história. Eu preciso voltar para verificar algumas execuções que ordenei”, e afastou-se, deixando Alice sozinha com o Grifo.
Alice não gostou muito do visual da criatura, mas ela pensou que no fim das contas estaria mais a salvo ficando com ele do que seguindo com a selvagem Rainha. Pelo menos era o que esperava.
O Grifo sentou-se e esfregou os olhos, olhando a Rainha até que ela sumisse de vista. Então começou a rir por entre os dentes.
“Qual é a graça?”, perguntou Alice.
“Ela”, disse o Grifo. “Tudo é fantasia dela. Eles nunca executam ninguém, sabe. Vamos!”
“Todo mundo diz ‘vamos’ por aqui”, pensou Alice, ao mesmo tempo em que começou a segui-lo lentamente. “Eu nunca fui tão mandada em toda minha vida antes, nunca!”
Eles ainda não tinham ido muito longe, quando avistaram a Falsa Tartaruga ao longe, sentada triste e solitária sobre a pequena saliência de uma pedra e, ao chegarem mais perto, Alice pôde ouvi-la suspirar como se seu coração estivesse partido. Alice sentiu uma grande pena dela.
“Porque ela está triste?”, perguntou ao Grifo. E o Grifo respondeu com quase as mesmas palavras que dissera em relação à Rainha: “É tudo fantasia dela, ela não tem pelo que entristecer, sabe. Vamos!”
Eles foram então na direção da Falsa Tartaruga, que olhou para eles com seus grandes olhos cheios de lágrimas, mas não disse nada.
“Esta jovem”, disse o Grifo, “quer saber sua história, quer sim.”
“Eu vou lhe contar”, disse a Tartaruga, com uma voz profunda, cavernosa. “Sentem-se os dois, e não digam nenhuma palavra até eu terminar.”
Então eles sentaram-se e ninguém falou nada por alguns minutos.
Alice pensou consigo mesma. “Eu não sei como ela pode terminar se nem mesmo começa.”
Mas esperou pacientemente.


“Uma vez”, disse a Falsa Tartaruga afinal, com um suspiro profundo. “Eu era uma Tartaruga de verdade!”
Estas palavras foram seguidas de um grande silêncio, quebrado apenas por uma ocasional exclamação “Hjckrrh!”, vindo do Grifo e os constantes e fortes soluços da Falsa Tartaruga. Alice já estava a ponto de levantar e dizer “Obrigada, Senhora, pela sua interessante história”, mas ela não podia deixar de pensar que deveria haver mais algo a ser dito e então ficou sentada e não disse nada.
“Quando nós éramos pequenos”, a Falsa Tartaruga continuou afinal, mais calmamente, embora ainda soluçando um pouquinho, íamos para a escola no mar. O professor era uma velha Tartaruga. Nós costumávamos chamá-la Tartenruga****.
“E por que chamá-la de Tartenruga se ela era uma Tartaruga?”, perguntou Alice.
“Nós a chamávamos assim porque tinha rugas”, a Falsa Tartaruga respondeu com irritação. “Você é mesmo muito tonta!”
“Você deveria envergonhar-se de fazer uma pergunta tão boba”, completou o Grifo, e então os dois sentaram-se e ficaram em silêncio olhando para a pobre Alice, que se sentiu a ponto de enfiar a cabeça no chão de vergonha. Finalmente o Grifo disse para a Falsa Tartaruga:
“Vai em frente, velha amiga! Não vamos ficar aqui o dia inteiro!”.
Ela então prosseguiu:
“Sim, nós íamos para a escola no mar... mas parece que você não acredita mesmo...”
“Eu não disse nada!”, interrompeu Alice.
“Disse sim!”, retrucou a Falsa Tartaruga.
“Segure sua língua”, completou o Grifo, antes que Alice pudesse retrucar. A Falsa Tartaruga continuou:
“Nós tivemos a melhor educação... na verdade, nós íamos à escola diariamente...”
“Eu também ia à escola todos os dias”, falou Alice, “você não tem porque ficar orgulhosa disso.”
“Com aulas extras?”, perguntou a Falsa Tartaruga um pouco ansiosa.
“Sim”, respondeu Alice, “nós aprendíamos Francês e música.”
“E lavagem?”, mais uma vez perguntou a Falsa Tartaruga.
“É claro que não”, disse Alice indignadamente.
“Ah! Então a sua escola não era realmente boa”, acrescentou a Falsa Tartaruga em um tom de grande alívio. “Agora, na nossa tinha, afinal, ‘Francês, música e lavagem’... extra.”
“Vocês não precisavam muito disso”, retomou Alice, “vivendo no meio do mar.”
“Eu não tinha recursos para pagá-los”, insistiu a Falsa Tartaruga com um suspiro. “Eu só frequentava os cursos regulares.”
“E quais eram?” indagou a menina.
“Enrolação e Contorção, é claro, para começar”, a Falsa Tartaruga replicou, “e depois os diferentes ramos da Aritmética: Ambição, Distração, Enfeiação e Derrisão.”
“Eu nunca ouvi falar em ‘Enfeiação’”, Alice atreveu-se a dizer. “O que é isso?”
O Grifo levantou as patas em sinal de surpresa. “Nunca ouviu falar em ‘Enfeiação’!”, exclamou, “Você sabe o que é embelezamento, acredito eu!”
“Sim”, respondeu Alice sem muita certeza, “significa... fazer... alguma coisa... mais bonita...”
“Bem, então”, o Grifo continuou, “se você não sabe o que é enfeiação, você é muito boba mesmo.”
Alice não teve coragem de perguntar mais nada sobre o assunto. Virou-se então para a Falsa Tartaruga e disse:
“O que mais você aprendeu?”
“Bem, havia Mistério”, e a Falsa Tartaruga começou a enumerar as matérias nas patas. “Mistério antigo e moderno, com Marografia: também Arrastamento... o professor de Arrastamento era um velho congro, que vinha uma vez por semana. Ele nos ensinava Arrastamento, Esticamento e ainda Desmaios em Bobinas.”
“E como é isso?”, disse Alice.
“Bem, eu não vou poder mostrar para você”, completou a Falsa Tartaruga. “Ando meio fora de forma. E o Grifo não aprendeu isso.”
“Não tive tempo”, disse o Grifo. “Eu estudei com o mestre das Clássicas. Ele era um velho caranguejo, se era.”
“Nunca tive aulas com ele”, retomou a Falsa Tartaruga com um suspiro. “Ele ensinava Risando e Desgosto, dizem.”
“É isso mesmo, isso mesmo” disse o Grifo, suspirando também. Os dois esconderam as caras nas patas.


“E quantas horas vocês estudavam por dia?”, perguntou Alice, apressando-se em mudar de assunto.
“Dez horas no primeiro dia”, respondeu a Falsa Tartaruga, “nove no segundo e assim por diante.”
“Que coisa estranha!”, exclamou Alice.
“É por isso que chamávamos as aulas de lições (lessons)”, o Grifo explicou, “porque elas diminuíam (lessen) cada dia.”
Aquela era uma ideia nova para Alice, e ela parou para pensar um pouco antes da sua próxima observação. “Então o décimo-primeiro dia tinha que ser feriado?”
“Claro que era”, respondeu a Falsa Tartaruga.
“E como era no décimo-segundo?”, perguntou com vivacidade Alice.

“Chega de lições”, o Grifo interrompeu em um tom decidido. “Conte a ela sobre os jogos agora.”

Alice no País das Maravilhas.
Lewis Carroll.

Ilustrações de John Tenniel.