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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

João e Maria, a historinha com resumo e análise.

Conheça a história de João e Maria (com resumo e análise)

Imagem: Internet.


João e Maria é uma fábula muito antiga que conta a história de dois irmãos abandonados em uma floresta.

A lenda, que foi transmitida através da oralidade por diversas gerações na época da Idade Média, foi coletada pelos irmãos Grimm no século XIX, e hoje integra um conjunto de contos muito presente no imaginário infantil.

O título original é Hänsel und Gretel, e a história trazia elementos sombrios e um tanto diferentes do que conhecemos atualmente.

Resumo.

As crianças e sua família.

Há muitos anos atrás, havia duas crianças, João e Maria, vivendo com seu pai e sua madrasta próximo a uma floresta. O pai era lenhador e os tempos eram de escassez. A família passava fome e não tinha recursos para alimentar a todos.

Diante dessa situação, a madrasta, que era uma mulher mesquinha e má, elabora um plano horrível de abandonar as crianças na floresta para que fossem devoradas pelas feras. O pai, a princípio, não concorda, mas acaba cedendo e aceita a sugestão de sua esposa.

João e Maria escutam a conversa dos adultos e ficam com muito medo. Entretanto, o menino tem a ideia de recolher pedrinhas brilhantes para marcar o caminho de volta para casa.

Assim, na manhã seguinte, todos saem em direção à floresta com a desculpa de que iriam cortar lenha.

Quando chegam a uma clareira, o lenhador acende uma fogueira e diz para seus filhos ficarem lá até que eles voltem para buscá-los, o que obviamente não acontece.

As crianças ficam certo tempo nesse local, mas depois percebem que realmente não seriam resgatadas. Então eles decidem retornar seguindo as pedrinhas que João havia deixado pelo caminho.

Ao chegarem em casa, João e Maria são recebidos com satisfação pelo pai. A madrasta, entretanto, fica furiosa e decide levá-los para mais longe.

João novamente decide coletar pedrinhas para deixar pelo caminho, mas dessa vez a mulher havia trancado a porta da casa, o que impossibilitou o menino de recolher as pistas.

Então, poucos dias depois, o casal dá um pedaço de pão para cada criança e sai mais uma vez rumo à floresta. Dessa vez, como não havia pedras brilhantes para marcar o trajeto de volta, João e Maria deixam pelo caminho pequenos nacos do pão.

Dessa forma, eles são levados para um local ainda mais remoto e perigoso.

Quando os irmãos tentam voltar para casa, se dão conta de que as migalhas deixadas como marcas tinham desaparecido, provavelmente devoradas pelos pássaros e outros animais da floresta.

Eles não conseguem achar o caminho de volta e se veem perdidos e desamparados na escuridão da mata fechada.

As crianças resolvem perambular em busca de ajuda e, de repente, avistam uma casa. Ao chegarem mais perto, notam que a construção era feita de bolos e outras guloseimas.

 Surpresos com tal descoberta, João e Maria simplesmente não acreditam no que seus olhos veem! Era como um sonho, e eles correm em direção à casa e começam a comer tudo o que suas bocas conseguem engolir, depois de tanta privação de comida.

Mas, como tudo o que é bom dura pouco, logo aparece a dona da casa. Era uma mulher bastante idosa e de aparência estranha. De qualquer forma, ela os recebe com simpatia, convidando-os para entrar.

Os irmãos pensam se tratar de uma senhora solidária, já que é oferecido ainda mais comida a eles. Mas, com o tempo percebem que na realidade a mulher era uma bruxa muito má.

Isso porque a idosa tinha uma gaiola, onde prendeu João com o intuito de alimentá-lo até que ele ficasse gordo o suficiente para ser abatido e assado em um enorme forno. Enquanto isso, Maria era obrigada a realizar todo tipo de trabalho doméstico.

A bruxa, que era meio cega, verificava se o menino estava engordando mandando que ele lhe mostrasse seu dedo para ela apalpar. João, muito esperto, conseguiu enganar a velha lhe mostrando um fino graveto. Por isso, os irmãos permaneceram muito tempo na cabana de doces.

Chega um dia em que a bruxa já está irritada e cansada de esperar que o menino fique "no ponto" para ser devorado. Ela resolve então assá-lo de qualquer maneira.

Maria continuava a trabalhar e a bruxa lhe manda acender o forno. Quando a velha chega perto para verificar a temperatura, a menina rapidamente a empurra para dentro do forno e fecha a tampa, trancando a malvada lá dentro.

Assim, Maria liberta o irmão e eles entram novamente na casa para ver o que a bruxa escondia. As crianças encontram muitas riquezas, pedras preciosas e dinheiro.

Levando o tesouro da feiticeira, voltam para a floresta a fim de procurar o caminho de casa. O retorno é tortuoso e eles se deparam com alguns desafios.

Entretanto, conseguem se situar e encontrar sua antiga casa. Lá dentro estava o pai, que quando os vê chora de felicidade. Ele havia sentido muito remorso e culpa pela covardia de abandonar as crianças indefesas.

A essa altura, a madrasta má já havia morrido e as crianças puderam crescer felizes ao lado do pai. Eles agora já não passavam fome e os tempos de miséria tinham ficado no passado.

Análise do conto.

Nesse conto, muitos elementos psicológicos podem ser analisados. A fábula traça uma narrativa sobre o sentimento de desamparo, a busca por independência, a satisfação, frustração e, por fim, a coragem.

A simbologia do casal de irmãos e da floresta

Os irmãos simbolizam o lado masculino e feminino (yin e yang) de uma mesma pessoa, que quando se depara com uma situação de desamparo, tristeza e abandono, se vê perdida diante do "desconhecido". Essa confusão emocional pode ser representada pela imagem da floresta e seus perigos.

Interessante observar que as crianças, ao serem abandonadas, se preocupam em deixar pistas para achar o caminho de volta, mas mesmo assim, acabam sozinhas e tendo que se reorientar sem nenhum apoio, somente usando suas próprias capacidades.

Satisfação e frustração.

Nessa busca de si, João e Maria acabam por encontrar um momento de satisfação extrema, quando se veem diante de uma casa feita de doces. Eles, que estavam famintos - e a aqui pode-se relacionar à uma "fome existencial" - se empanturram de guloseimas, que na realidade não alimentam de fato.

Assim, essa ilusão de que estavam "à salvo" logo é desfeita, com a figura da bruxa representando as frustrações e decorrências da avidez, gula e ansiedade.

A perda da inocência e a retomada da coragem.

A velha senhora, que a princípio se mostrava boa, mais tarde os aprisiona. Assim, quando os irmãos percebem já era tarde demais, João estava preso em cativeiro e Maria era feita de escrava. Aqui, o conto nos fala sobre as consequências de ser demasiado inocente e a confiança cega.

Entretanto, as crianças conseguem se livrar das ameaças e castigos ao acessarem sua força interior, coragem, espírito de equipe e criatividade. Eles ainda saem carregando as riquezas da velha, o que nos aponta para a sabedoria que adquirimos quando passamos por situações difíceis na vida.

Outras considerações

Na história, a bruxa morre e a madrasta também. Esses acontecimentos estão relacionados, pois de alguma maneira, essas personagens estão conectadas pelo mal que causam aos irmãos e pelo forte desejo pelo alimento.

Outro ponto interessante de analisar é sobre o contexto histórico em que o conto surgiu. Na época da Idade Média, a fome era algo que castigava enorme parte da população. Assim, em João e Maria esse é o problema central que ronda toda a narrativa.

Desconfia-se também que na história original, a madrasta não existia, e na realidade quem bolava o plano de abandono era a própria mãe das crianças. Como essa versão pareceu muito cruel, ela foi alterada posteriormente.

Conheça os irmãos Grimm

Os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm nasceram na Alemanha em 1785 e 1786, respectivamente. Os dois foram estudiosos da linguagem, poetas e acadêmicos que dedicaram sua vida, sobretudo, à coleta e escrita de fábulas populares que faziam parte da tradição oral de povos germânicos.

Eles compilaram um grande número de histórias que eram contadas por familiares e pessoas humildes. Acredita-se que boa parte desses contos chegaram até os irmãos através de uma mulher chamada Dorotea Viehmman. Nessa época, as narrativas eram voltadas ao público adulto, não às crianças.

A iniciativa de reunirem as histórias de seu povo impulsionou também a coleta e registro de outros mitos nas demais partes do mundo por outros pesquisadores, a fim de garantir que tais fábulas não se perdessem.

Vale lembrar que as histórias sofreram algumas modificações ao longo dos anos. Geralmente, as versões originais são mais assustadoras e nem sempre possuem final feliz.

Alguns contos famosos escritos pelos irmãos são: Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, O Pequeno Polegar, Cinderela, entre outros.

Jacob veio a falecer no ano de 1863, sendo que Wilhelm havia morrido quatro anos antes, em 1859. Ambos foram de essencial importância para a conservação das tradições que permeavam o inconsciente coletivo e, até hoje, permanecem em nosso imaginário.

Fonte:https://www.culturagenial.com/historia-joao-e-maria/  

domingo, 31 de dezembro de 2023

Cinderela, ou A gata borralheira.

Fonte: Internet.


Era uma vez Cinderela, uma moça muito bonita que morava com seu pai em uma bela casa. Sua mãe havia morrido e o pai resolveu se casar novamente. A nova esposa tinha duas filhas de outro casamento.

A madrasta e as novas “irmãs” tratavam Cinderela muito mal e, depois da morte do patriarca, as três passaram a obrigá-la a dormir no sótão, fazer todo o serviço da casa e vestir-se de farrapos.

Um belo dia, o rei daquela província anunciou que daria uma festa para que seu filho escolhesse uma mulher para se casar.

Assim, todas as moças se apressaram para fazer vestidos lindos e causarem boa impressão no príncipe.

Cinderela se animou, mas a madrasta a proibiu de ir à festa, dizendo que não havia roupa para ela. Enquanto isso, suas irmãs provavam vestimentas maravilhosas e zombavam de Cinderela.

Eis que a bela jovem, lamentando-se de seu azar, recebeu a visita inesperada de uma fada-madrinha, que num passe de mágica a vestiu com o mais belo dos vestidos. Além disso, a fada transformou uma abóbora em carruagem e um ratinho do sótão em cocheiro.

Assim, Cinderela pôde ir ao baile, com a condição de voltar antes da meia-noite, quando o encanto estaria desfeito.

Chegando ao baile, a bela moça logo chamou atenção do príncipe, que encantado dançou a noite toda com ela e acabou se apaixonando.

Ao perceber que já era quase meia-noite, a jovem saiu correndo e, num descuido, deixou um de seus sapatos de cristal pelo caminho.

O príncipe, abalado, manda os seus servos irem de casa em casa para que todas as moças do lugar experimentem o sapatinho e, assim, ele pudesse descobrir sua dona.

Quando chegaram na casa de Cinderela, as irmãs estavam a postos e provaram o sapato, que não serviu.

Cinderela surgiu de repente e quando experimentou o pequeno sapato de cristal, este encaixou perfeitamente em seu pé.

Dessa forma o príncipe descobriu sua amada e se casou com ela. Os dois viveram felizes para sempre.

Fim.

Fonte: https://www.culturagenial.com/historias-infantis-contos-para-criancas/ 

Comentários:

O conto da Cinderela nos revela uma narrativa sobre a superação e o crescimento.

A moça, que é rejeitada pela família, sente-se sozinha e desamparada, mas através de sua busca interior e criatividade consegue criar um mundo novo para si, tornando-se uma personalidade única, e não superficial como suas irmãs.

O sapato que Cinderela deixa cair ao sair do baile simboliza a liberdade de poder caminhar com segurança e é por meio dele que a jovem consegue se encontrar com o príncipe.

É interessante observar que, segundo a psicologia, os contos de fadas são analogias de processos emocionais a que todo ser humano está sujeito. Assim como nos sonhos, cada elemento dessas narrativas representa uma parte da parte da psiquê.

Para colorir:

Fonte: Clique AQUI para ver outras atividades. 

domingo, 21 de agosto de 2022

CONTO DE FADAS – “O REI ESTÁ NU!”

Fonte: Google.
 

CONTO DE FADAS – “O REI ESTÁ NU!”, COMEÇARAM A GRITAR HOMENS E MULHERES


Na primeira metade do século XIX, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen escreveu um conto que por valor simbólico ficou conhecido no mundo todo. Então… Era uma vez um bandido espertalhão e um rei muito vaidoso.

O falsário se apresentou dizendo-se alfaiate que viera de terras distantes e ao perceber uma fraqueza do monarca disse que poderia fazer uma roupa de extraordinária beleza, cara e bonita, e que somente as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei já se imaginou todo formoso diante da corte e na hora propôs que o “alfaiate” executasse essa preciosidade que adornaria seu corpo.

O bandido espertalhão [em algumas versões conta-se que eram dois] logo recebeu materiais exóticos e raros, exigidos para a confecção das roupas, incluindo fios e botões de ouro, seda, e um tear. Mas, havia um porém.

As roupas somente seriam vistas por pessoas de indiscutível inteligência, não por pessoas comuns. E para se manterem dentro dessa qualificação todos os nobres que iam ver a fabricação elogiavam o trabalho de um prodígio do corte e costura, mas na realidade nada existia de fato. Ninguém queria ser tachado de estúpido, pois pegaria mal dentro do palácio.

Um dia, cansado de esperar, o rei convidou seus ministros para ver as obras de arte feitas para vestir. Quando o “alfaiate” mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: Que lindas roupas! Que trabalho magnífico!”, embora não visse nada além de uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de seus súditos que não tinha a capacidade necessária para ser rei. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido.  Nenhum deles, por certo, querendo passar por medíocre ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse suas novas vestes reais.

Ao desfilar, porém, o povo estranhou algo, mas não se encorajou a esboçar nenhuma reação. Um menino, porém, [em outras versões dizem que era uma menina] gritou:

“Coitado do rei, está nu! O rei está nu!”

Os homens e mulheres conhecendo o menino e sabendo que ele não era nem tolo nem falso, começou a murmurar e, em pouco tempo, a bradar:

“O rei está nu!”, “O rei está nu!”

O desfile deveria continuar de qualquer forma, com as pagens segurando a cauda invisível da capa do rei. Após terminado o cortejo, o rei retornou ao castelo de onde, comentou-se na época, não queria mais sair. Grande fora o vexame! Mas, pouco tempo depois, os súditos já haviam esquecido o escândalo e os funcionários do reino tocavam sua rotina, como se nada tivesse ocorrido.

Todos ocupavam seus cargos monótonos distribuídos a algumas poucas famílias e amigos privilegiados. Da mesma forma continuavam sonegando impostos, desviando verbas, indicando que tudo havia voltado ao normal.

O falso tecelão desapareceu, levando consigo muita grana, fios de seda, ouro. Meses depois, um viajante chegou à terra do rei vaidoso e, sabendo da história, informou que o mesmo golpe havia sido aplicado em outro pequeno reino. Dizem que ali se andava de nariz empinado e que eram grandes as hipocrisias.

Moral da história: O conto fala sobre a vaidade humana, mostra como vaidade em excesso pode ser prejudicial. 

Gosto demais desse conto e o autor é excelente! 

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Peter Pan e o caso da sombra.



Dona Benta sentou-se na sua cadeira de pernas serradas, subiu para a testa os óculos de aro de ouro e começou:
— Era uma vez uma família inglesa...
— Espere Sinhá! Não Comece ainda — gritou lá da copa tia Nastácia. — Eu também faço questão de conhecer a história desse pestinha.
Estou acabando de lavar as panelas e já vou.
Dona Benta esperou que a negra chegasse, apesar do protesto da Emília, que disse: — "Bobagem! Para que uma cozinheira precisa saber a história de Peter Pan?"
Tia Nastácia veio e escarrapachou-se no assoalho, entre o Visconde e a menina. Só então Dona Benta começou de verdade.
— Havia na Inglaterra uma família inglesa composta de pai, mãe e três filhos — uma menina de nome Wendy (pronuncia-se Uêndi), que era a mais velha; um menino de nome João Napoleão, que era o do meio; e outro de nome Miguel, que era o caçulinha. Os três tinham o sobrenome de Darling, porque o pai se chamava não sei quê Darling. Esses meninos ocupavam a mesma nursery numa linda casa de Londres.
— Nursery? — repetiu Pedrinho. — Que vem a ser isso?
— Nursery (pronuncia-se nârseri) quer dizer em inglês, quarto de crianças. Aqui no Brasil, quarto de criança é um quarto como outro qualquer e por isso não tem o nome especial. Mas na Inglaterra é diferente. São uma beleza os quartos das crianças lá, com pinturas engraçadas rodeando as paredes, todos cheios de móveis especiais, e de quanto brinquedo existe.
— Boi de chuchu, tem? — indagou Emília.
— Talvez não tenha, porque boi de chuchu é brinquedo de meninos da roça, e Londres é uma grande cidade, a maior do mundo. As crianças inglesas são muito mimadas e têm os brinquedos que querem. Os brinquedos ingleses são dos melhores.
— E os brinquedos alemães, vovó? Ouvi dizer que há na Alemanha uma cidade que é o centro da fabricação de brinquedos.
— E é verdade, meu filho. Nuremberg: eis o nome da capital dos brinquedos. Fabricam-nos lá de todos os feitios e de todos os preços, e exportam-nos para todos os países do mundo.
— E aqui, vovó?
— Aqui essa indústria está começando: Já temos algumas fábricas de bonecas e outras de carrinhos, cavalinhos de pau, trenzinhos de folha, patinhos de celuloide, gaitas de assoprar, etc. etc.
Pedrinho declarou que quando crescesse ia montar uma grande fábrica de brinquedos da maior variedade possível, e que lançaria no mercado bonecos representando o Visconde de Sabugosa, a Emília, o Rabicó etc. Todos gostaram muito da ideia e Dona Benta voltou ao assunto.
— Pois é isso. Aquela nursery era um encanto. Imaginem que quem tomava conta das crianças era a Nana.
Alguma criada?
Não. Uma cachorra muito inteligente. Era Nana quem dava banho nas crianças, quem as vestia para dormir e tudo mais — e muito direitinho.
Na noite em que a nossa história começa, Nana estava cochilando perto da lareira, com a cabeça entre as patas, enquanto no cômodo pegado o Senhor e a Senhora Darling se preparavam para uma visita a uns parentes.
Quando o casal saía de noite quem ficava tornando conta dos meninos era sempre a cachorra. Nisto o relógio bateu oito horas — bem, bem, bem, bem, bem, bem...
— A senhora errou, Dona Benta! — berrou logo Emília, que não deixava escapar coisa nenhuma. — A senhora só bateu seis bens.
Dona Benta riu-se.
— Não faz mal — disse ela. Os dois que faltam ficam subentendidos.
Mas o relógio bateu oito horas e Nana ergueu-se e espreguiçou-se, porque a ordem da Senhora Darling era fazer a criançada ir para a cama a essa hora justa. Depois Nana acendeu a luz elétrica.
— Como?
— Ela sabia agarrar com a boca a chave da luz e torcer. Estava acostumada a fazer isso. Acendeu a luz e foi ver os pijamas de cada um. E foi ao banheiro abrir a torneira de água quente e fria, experimentando a água com a pata para ver se-estava no ponto.
— Que danada! Por que a senhora não nos arranja uma cachorra assim, vovó?
— Porque vocês só querem saber de onças e rinocerontes e bichos esquisitos. Mas deixem estar que ainda ponho um Cachorrinho aqui em casa.
— E há de chamar-se Japi! — gritou Emília, que sempre fora a botadeira de nomes. — Mas continue Dona Benta. A Nana encheu a banheira e que mais?
— Preparou a água do banho e foi buscar o Miguel, que era o menorzinho, e Miguel veio montado nela, dando esporadas. Nana fê-lo apear-se e entrar n’água, e foi fechar a porta para que não houvesse corrente de ar. Depois de acabado o banho, deu o pijaminha para Miguel vestir e levou-o para a cama.
Nesse momento a mãe dos meninos entrou no quarto para ver se estava tudo em ordem. Animou a todos, um por um, prometeu um passeio ao jardim zoológico, para que vissem a enorme goela vermelha do hipopótamo e o pescoço que não acaba mais da girafa. Depois contou uma história linda.
— Que história ela contava? — quis saber Emília.
— Quantas existem. As mesmas que já contei a vocês e muitas outras. Depois distribuiu beijos, dizendo: — "Agora tratem de dormir." Acendeu uma lamparina de luz muito fraca, apagou a luz elétrica e ia saindo na ponta dos pés, quando notou uma sombra esquisita na parede — uma sombra que vinha da rua. Voltou-se de repente e viu do lado de fora o vulto dum menino.
Assustou-se, está claro, porque as boas mães se assustam por qualquer coisinha e correu a fechar a vidraça. Fez isso tão depressa que a sombra não teve tempo de retirar-se e foi guilhotinada. Por essa e outras é que as tais vidraças de subir e descer, como as nossas aqui do sítio, são chamadas "vidraças de guilhotina".
— E que é guilhotina? — perguntou Emília, que pela primeira vez ouvia essa palavra.
Dona Benta explicou que era uma certa máquina de cortar cabeça de gente, inventada por um médico francês de nome Guillotin. Isso durante o terrível período da Revolução Francesa, um tempo em que cortar cabeça de gente se tornou a preocupação mais séria do governo. E Pedrinho, já lido na História do Mundo, lembrou que o próprio Doutor Guillotin teve a sua cabeça cortada por essa máquina.
— Bem feito! — exclamou Emília. — Quem manda...
— Bom, chega de guilhotina — gritou Narizinho. — Continue vovó. A Senhora Darling guilhotinou a cabeça da sombra e que fez depois?
— Ao ver cair no chão a cabeça da sombra, como se fosse um pedaço de gaze negra, ela murmurou: — "Que fato estranho!" — Depois
abaixou-se, pegou a cabeça da sombra e examinou-a a luz da lamparina, com cara de quem diz: — "Nunca ouvi contar dum fato semelhante! São dessas coisas que até parecem invenção". Em seguida dobrou a sombra, bem dobradinha, guardou-a na gaveta de Wendy e retirou-se do quarto, pensativa.
— E os meninos? — indagou Narizinho. — Nada viram?
— Os meninos nada perceberam. Quando a Senhora Darling deu com a sombra na parede, eles já estavam caindo no sono.
O quarto ficou mergulhado em silêncio profundo. Todos dormiam, e até a chama da lamparina parecia cochilar, de tão quietinha. Mas de repente essa luz tremeu três vezes e apagou-se.
— Por quê? — indagou Narizinho.
— Algum besouro — sugeriu Emília.
— Não — disse Dona Benta. — É que havia entrado pela janela uma pequena bola de fogo.
— Como havia entrado pela janela, se a janela estava fechada? — berrou Emília.
— Isso não sei — disse Dona Benta. — O livro nada conta. Mas como fosse uma bola de fogo mágica, o caso se torna possível. Para as bolas de fogo mágicas tanto faz uma janela estar aberta como fechada. Ela acha sempre jeito de entrar. Do contrário não valia a pena ser bola mágica. Entrou e começou a esvoaçar em todas as direções, muito aflitazinha, como quem anda atrás de alguma coisa.
— Já sei — interrompeu Narizinho. — Estava procurando a cabeça da sombra.
— Talvez fosse isso, — concordou Dona Benta — porque depois de várias voltas pelo ar a bola parou defronte do armário de Wendy e entrou na gaveta pelo buraco da fechadura.
— E houve um incêndio, já sei! — gritou Emília. — Bola de fogo em gaveta de armário é incêndio certo. A cidade de Londres vai ser destruída...
— Credo! — exclamou tia Nastácia, que estivera cochilando e acordara naquele ponto. — Não fale assim, Emília, que é mau agouro.
— Não houve incêndio nenhum — disse Dona Benta. — Bola de fogo mágica não pega fogo nas coisas.
— Então que aconteceu?
— Nada. A bola ficou na gaveta, e nesse mesmo instante a janela foi erguida pelo lado de fora. A cabeça dum menino apareceu. Apareceu, espiou de todos os lados e pulou para dentro do quarto sem fazer o menor barulho.
— "Sininho, Sininho! Onde está você, Sininho?" — indagou ele em voz baixa.
— "Tlin, tlin, tlin", — foi a resposta da bola de fogo lá dentro da gaveta.
O menino dirigiu-se pé ante pé na direção dos tlins, abriu a gaveta e remexeu-a toda, até encontrar a cabeça da sombra. Pela cara alegre que fez via-se que era o dono dela.
— Que engraçado! — exclamou Emília. — Só agora noto que todos nós temos a nossa sombra, que é só nossa, mas não de gaze, como a desse menino. É de ar preto.
— E que fez ele, vovó, depois de achar a sombra? — perguntou a menina.
— Que fez? Tirou-a da gaveta, desdobrou-a e tratou de emendá-la no resto, porque desde que a Senhora Darling desceu a janela ele ficou com a sombra sem cabeça — ou decapitada. Mas isso de emendar sombra não é coisa fácil. Exige prática. O menino tentou primeiro grudá-la com cuspe. Não grudou.
Lembrou-se de a colar com sabão. Também não colou. O menino sentiu-se atrapalhado.
— Se fosse eu — disse Emília — experimentava uma bisnaga de Cola-tudo. O que cola tudo deve colar sombra também.
— E onde achar a tal bisnaga de Cola-tudo?
— Todas as nurserys devem ter uma bisnaga de Cola-tudo para colar os brinquedos. Eu se fosse a Senhora Darling...
— Está bem, Emília, mas pare de falar. Não atrapalhe mais. Continue vovó.
Dona Benta continuou:
— A. cabeça não colava de jeito nenhum, de modo que o menino foi tomado de grande desespero. Isso de ter sombra sem cabeça parece ser uma coisa terrível; pelo menos o era para aquele menino, pois escondeu a cara nas mãos e, pôs-se a chorar tão alto que Wendy acordou e sentou-se na cama, muito admirada.
— "Por que está chorando?" — indagou ela.
Em vez de responder, o menino enxugou depressa os olhos com as costas da mão e fez um bonito cumprimento com o gorro vermelho. Depois disse:
— "Há muito tempo que eu ando querendo saber qual é o seu nome."
— "Meu nome é Wendy Darling" — respondeu a menina. — "E o seu?"
— "Peter Pan."
— "E onde mora o Senhor Peter Pan?"
— "Moro na rua das casas, número das portas."
Wendy riu-se daquela molecagem e puxou prosa. Conversa vai, conversa vem, ficou sabendo que Peter Pan era um menino sem pai nem mãe, que vivia solto pelo mundo e agora estava muito atrapalhado por ter perdido a cabeça de sua sombra.
— "Não; gruda nem com sabão" — disse ele fazendo bico.
— "Bobo!" — exclamou Wendy rindo-se. — "Com sabão está claro que não gruda. Sabão só gruda nota velha. Sombra tem que ser costurada com retrós, quer ver?" — e sem esperar pela resposta saltou da cama, foi à sua mesinha de costura e trouxe de lá uma agulha já enfiada. Ajeitou a cabeça da sombra no resto da sombra e num instante alinhavou-a com retrós preto. Ficou que ninguém percebia a emenda.
— "Pronto! Vê como está bem agora?"
Peter Pan pulou de contentamento. Deu várias voltas pela nursery, num verdadeiro namoro com a sua sombra consertada.
— "Eu sou mesmo um danadinho!" — exclamou por fim, todo cheio de si.
Tamanha gabolice espantou Wendy Ela havia consertado a sombra e o prosa chamava para si as honras! Já se viu uma coisa assim?
 "Danado, você?" — disse a menina com ironia. — "Se fui eu quem costurou a sombra, como o danado pode ser você?"
— "Sim" — disse o menino; — "você ajudou um pouco, não nego."
— "Ajudou!..." — repetiu Wendy imitando-lhe o tom de voz. — "Pois nesse caso, passe muito bem! Não gosto de gente gabola."
Disse e pulou para a cama, deitando-se e cobrindo a cabeça com a colcha.
Peter Pan desapontou e fez cara de arrependido.
— "Oh, não se ofenda, Wendy! Eu tenho este defeito. Sou gabola de nascença. Quando qualquer coisa de bom me acontece, ponho-me sem querer a contar prosa. Seja boa. Perdoe-me. Reconheço que uma menina vale mais do que vinte meninos."
— Isso também não! — protestou Pedrinho. — Só se é lá na Inglaterra. Aqui no Brasil um menino vale pelo menos duas meninas.
— Olhem o outro gabola! — exclamou Narizinho. — Vovó já disse que louvor em boca própria é vitupério.
Wendy — continuou Dona Benta — enterneceu-se com o tom daquelas palavras e sentou-se de novo na cama, descobrindo a cabeça. Estava risonha e contente.
— "Peter Pan" — disse ela — "você bem que merece um beijo.
Quer?"
O menino ficou no ar, sem compreender. Menino sem mãe é assim, nem beijo sabe o que é. Beijo! pensou consigo. Que seria isso de beijo? Com certeza era aquele copinho de prata que Wendy tinha posto no dedo quando tomou a agulha para coser a sua sombra. Não podia ser outra coisa.
— "Quero" — respondeu ele, e foi logo tirando o dedal do dedo de Wendy e colocando-o no seu, certo de que beijo queria dizer dedal. Depois, para retribuir a gentileza, perguntou à menina se ela aceitava um beijo dele.
— "Aceito, sim" — respondeu Wendy, que estava achando muito curioso aquilo.
— "Pois tome este" — disse Peter Pan, arrancando um dos botões de seu casaco e apresentando-o com toda a seriedade.
— Já sei — gritou Emília. — Beijo para ele significava presente, um presente qualquer. Que bobíssimo!
— Wendy — continuou Dona Benta — recebeu o botão e ficou de olhos postos em Peter Pan. Súbito, perguntou:
— "Que idade você tem, Peter Pan?"
— "Não sei. Só sei que sou bastante criança. Fugi de casa no mesmo dia em que nasci."
— "No mesmo dia em que nasceu? Que ideia! E por que, meu caro?"
— "Porque ouvi uma conversa entre meu pai e minha mãe sobre o que eu havia de ser quando crescesse. Ora, eu não queria crescer. Não queria, nem quero nunca virar homem grande, de bigodeira na cara feito taturana. Muito melhor ficar sempre menino, não acha? Por isso fugi e fui viver com as fadas."
Wendy quase perdeu a fala de tanto gosto, ao saber que estava diante dum menino conhecedor de fadas. Ela ouvia sua mãe contar histórias de fadas, mas não havia nunca falado com alguém que as conhecesse pessoalmente.
— "É verdade isso, Peter? Há mesmo fadas ou você está a mangar comigo?"
— "Verdade, sim, Wendy. Não muitas, mas há."
— "E de onde vêm elas?"
— "Então não sabe, Wendy? Parece incrível! Não há quem não saiba disso..."
— "Pois eu não sei. Conte."
— "Foi assim. A primeira fada apareceu no mundo do dia em que a primeira criança nascida deu a primeira risadinha."
— "Oh, nesse caso deve haver uma fada para cada criança no mundo, porque todas as crianças dão uma primeira risadinha" — observou Wendy.
— "Assim devia ser" — confirmou Peter Pan, — "se as fadas não fossem as criaturas mais fáceis de morrer que existem. Morrem como
passarinhos. Cada vez, por exemplo, que uma criança diz que não acredita em fadas, morre uma."
Aqui tia Nastácia interrompeu a narrativa para dizer:
— Para mim esse menino estava empulhando Dona Wendy. Estou velha e só vi fada nas histórias.
— Cale a boca! — berrou Emília. — Você só entende de cebolas e alhos e vinagres e toicinhos. Está claro que não poderia nunca ter visto fada porque elas não aparecem para gente preta. Eu se fosse Peter Pan, enganava Wendy dizendo que uma fada morre sempre que vê uma negra beiçuda...
— Mais respeito com os velhos, Emília! — advertiu Dona Benta. —
Não quero que trate Nastácia desse modo. Todos aqui sabem que ela é preta só por fora.
— É o pigmento — disse o Visconde. — Isso de brancuras e preturas não passa de maior ou menor quantidade de pigmentos nas células da pele.
Emília, que não sabia o significado de pigmento, veio logo com a sua célebre respostinha: — "Pigmento é o seu nariz" — mas Dona Benta apoiou o
Visconde, dizendo que era aquilo mesmo, que os pretos são pretos porque têm muitos pigmentos na pele.
— Mas que é esse tal pigmento, vovó?
— Pigmento é como os sábios chamam qualquer substância colorida que tinge os tecidos duma planta ou dum organismo animal. A rosa vermelha é
vermelha por causa dos pigmentos vermelhos que tem nas pétalas e os negros são negros por causa dos pigmentos negros que possuem na pele.
— Quer dizer — observou Emília — que se os pigmentos de tia Nastácia fossem cor de burro quando foge, ela não seria negra e sim uma burra fugida...
— Chi, meu Deus do Céu! — exclamou Narizinho. — Como a Emília está asneirenta hoje...
— É a lua — disse tia Nastácia. — Já reparei que em tempo de lua cheia Emília dá para espirrar bobagem que nem torneira aberta que a gente quer tapar com a mão.
Emílio botou-lhe a língua e Dona Benta prosseguiu:
— Mas vamos ao caso. Vocês me interrompem tanto que a história não pode chegar ao fim. Peter Pan contou a Wendy como as fadas nascem, e ao falar em fada lembrou-se da bola de fogo que havia entrado na gaveta. Era uma fada, essa bolinha, e muito sua amiga. Uma fada que fazia tudo que as outras
fadas fazem, menos falar. Sua fala não passava daquele tlin, tlin, tlin, de campainha de prata.
Assim que Peter Pan se lembrou da bola de fogo, ou Sininho, como era o seu nome, um tlin, tlin zangado se fez ouvir dentro da gaveta.
— "A pobre!" — exclamou Peter Pan. — "Deve estar furiosa comigo por ter-me distraído com você e esquecido dela. Sininho é ciumentíssima."
De fato. Sininho saiu da gaveta furiosa. Esvoaçou pelo quarto por uns instantes, indo afinal esconder-se num canto, emburrada. Eram ciúmes de Wendy. Mas a menina não deu nenhuma importância àqueles maus modos; continuou a conversar com Peter Pan como se não houvesse visto nada.
— "Vamos, Peter Pan!" — disse ela. "Conte-me mais alguma coisa da sua vida. Conte onde mora, mas de verdade."

A história continua, vamos descobrir onde Peter Pan mora?

Monteiro Lobato - Domínio Público

sábado, 9 de fevereiro de 2019

O bicho Manjaléu. - Histórias de Tia Nastácia - Monteiro Lobato



Pedrinho, na varanda, lia um jornal. De repente parou, e disse a Emília, que andava rondando por ali:
— Vá perguntar a vovó o que quer dizer folclore.
— Vá? Dobre a língua. Eu só faço coisas quando me pedem por favor.
Pedrinho, que estava com preguiça de levantar-se, cedeu à exigência da ex-boneca.
— Emilinha do coração — disse ele — faça-me o maravilhoso favor de ir perguntar à vovó que coisa significa a palavra folclore, sim, teteia?
Emília foi e voltou com a resposta.
— Dona Benta disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria, ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de pais a filhos — os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria popular, etc. e tal. Por que pergunta isso, Pedrinho?
O menino calou-se. Estava pensativo, com os olhos lá longe. Depois disse:
— Uma ideia que eu tive. Tia Nastácia é o povo. Tudo que o povo sabe e vai contando, de um para outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar o leite do folclore que há nela.
Emília arregalou os olhos.
— Não está má a ideia, não, Pedrinho! Às vezes a gente tem uma coisa muito interessante em casa e nem percebe.
— As negras velhas — disse Pedrinho — são sempre muito sabidas.
Mamãe conta de uma que era um verdadeiro dicionário de histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi escrava de meu avô. Todas as noites ela sentava-se na varanda e desfiava histórias e mais histórias. Quem sabe se tia Nastácia não é uma segunda tia Esméria?
Foi assim que nasceram as Histórias de Tia Nastácia.

O bicho Manjaléu.

Era uma vez um velho que tinha três filhas muito bonitas, mas um velho muito pobre, que vivia de fazer gamelas. Uma vez passou pela sua casa um lindo moço a cavalo; parou e declarou que queria comprar uma das moças. O velho se ofendeu; disse que por ser pobre não era nenhum malvado que andasse vendendo as filhas; mas diante das ameaças do moço teve que aceitar o negócio.

Lá se foi a sua primeira filha na garupa do cavaleiro, e o velho ficou olhando para o ouro recebido.
No dia seguinte apareceu outro moço, ainda mais lindo, montado num cavalo ainda mais bonito e propôs-se a comprar a filha do meio. O velho, bastante aborrecido, contou o que se tinha passado com a primeira, e não quis aceitar o negócio. O moço ameaçou matá-lo, e também lá se foi com a segunda moça na garupa, deixando com o velho dois sacos de dinheiro.

No dia imediato apareceu terceiro moço e depois da mesma discussão lá se foi com a derradeira moça na garupa, deixando em troca três sacos de dinheiro.
O velho ficou muito rico, mas sem as filhas, e começou a criar com grandes mimos um filhinho que havia nascido fora de tempo. Quando já estava na escola esse menino teve uma briga com um companheiro, o qual lhe disse: "Você está prosa por ter pai rico, mas saiba que ele já foi um pobre diabo que vivia de fazer gamelas. Está rico porque vendeu as filhas."
O menino voltou pensativo para casa, mas nada disse. Só quando ficou moço é que pediu ao pai que lhe contasse a história das três irmãs vendidas. O pai contou tudo e ele resolveu sair pelo mundo em procura das irmãs.
No meio do caminho encontrou três marmanjos brigando por causa duma bota, duma carapuça e duma chave. Indagando do valor daquilo, soube que eram uma bota, uma carapuça e uma chave mágicas. Quando alguém dizia à bota: "Bota, bote-me em tal parte!" a bota botava. E se diziam à carapuça: "Carapuça, encarapuce-me!" a carapuça encarapuçava, isto é, escondia a pessoa. E se diziam à chave: "Chave, abre!" a chave abria qualquer porta.
O moço ofereceu pelos três objetos o dinheiro que trazia e lá se foi com eles.
Logo adiante parou e disse: "Bota, bote-me em casa de minha primeira irmã." Mal acabou de pronunciar tais palavras, já se achou na porta de um palácio maravilhoso. Falou com o porteiro. Pediu para entrar, dizendo que a dona do palácio era sua irmã. A irmã soube da sua chegada, acreditou em suas palavras e o recebeu muito bem.
— Mas como conseguiu chegar até aqui, meu irmão?
— Por meio da bota mágica — respondeu ele.
E contou toda a história da sua partida e do encontro dos três objetos mágicos.
Tudo correu bem, mas assim que começou a entardecer a irmã pôs-se a chorar.
— Por que chora, minha irmã?
— Ah — respondeu ela — choro porque sou casada com o rei dos Peixes, um príncipe muito bravo que não quer que eu receba ninguém neste palácio. Ele não tarda a chegar, e mata você, se enxergar você aqui...
O moço deu uma risadinha, dizendo:
—Não tenha medo de nada. Com a carapuça mágica saberei esconder-me.
O rei chegou e logo levantou o nariz para o ar, farejando: — "Sinto cheiro de gente de fora!" mas a rainha mostrou que não havia por ali ninguém e ele sossegou. Tomou um banho e se desencantou num lindo moço.
Durante o jantar a rainha fez esta pergunta:
— Se aparecesse por cá um irmão meu, que faria Vossa Majestade?
— Recebia-o muito bem — disse o rei — porque o irmão da rainha, cunhado do rei é. E se ele está por aqui, que apareça.
O irmão encarapuçado apresentou-se, sendo muito bem recebido.
Contou toda a sua história, mas não aceitou o convite de ficar morando ali por ter de continuar pelo mundo em procura das outras irmãs. O rei olhou com inveja para as botas mágicas, dizendo: "Se eu as pilhasse, iria ver a rainha de Castela."
Na hora da partida o rei deu-lhe uma escama. "Quando estiver em apuros, pegue nesta escama e diga: Valha-me, rei dos Peixes!"
O moço agradeceu o presente e lá se foi depois de dizer à bota: "Bota, bote-me na casa de minha segunda irmã", e imediatamente se achou defronte de outro palácio, onde foi recebido pela segunda irmã, que era a esposa do rei dos Carneiros. "Meu marido logo chega por aí, a dar marradas a torto e a direito, e você não escapa."
— Com a minha carapuça escapo — respondeu o rapaz, rindo-se. E contou a virtude da carapuça encantada. E de fato foi assim, correndo tudo direitinho como lá no palácio do rei dos Peixes. Na hora da partida o rei dos Carneiros disse: "Tome este fio de lã. Quando estiver em apuros, basta que pegue nele e diga: Valha-me, rei dos Carneiros." Em seguida olhou com inveja para as botas mágicas. "Se as pilhasse, iria ver a rainha de Castela."
Logo que o moço se viu na estrada, parou e disse à bota. "Bota, bote-me em casa da minha terceira irmã", e a bota botou-o no portão dum terceiro palácio ainda mais belo que os outros. Era ali o reino do rei dos Pombos, onde tudo aconteceu como no reino do rei dos Peixes e no reino do rei dos Carneiros. Foi muito bem recebido e festejado, até que na hora da partida o rei dos Pombos suspirou olhando para as botas, e disse: "Se eu pilhasse essas botas, iria ver a rainha de Castela." Em seguida deu ao moço uma pena, dizendo:
"Quando estiver em apuros, pegue nesta pena e diga: Valha-me, rei dos Pombos."
Logo que o moço se viu na estrada, pôs-se a pensar na tal rainha de Castela que os três príncipes queriam visitar, e disse à bota mágica: "Bota, bote-me no reino da rainha de Castela!" E num instante a bota o botou lá.
Soube que era uma princesa solteira, tão linda que ninguém passava pela frente do seu palácio sem erguer os olhos, na esperança de vê-la à janela — mas a princesa tinha jurado só se casar com quem passasse pelo palácio sem erguer os olhos.
O moço então passou pela frente do palácio sem erguer os olhos e a princesa imediatamente casou com ele. Depois do casamento a princesa quis saber para que serviam aqueles objetos que ele sempre trazia consigo— e o que mais a interessou foi a chave de abrir todas as portas.
A razão disso era haver no palácio uma sala sempre fechada, onde o rei não permitia que ninguém entrasse. Nela morava o Manjaléu — um bicho feroz, que por mais que o matassem revivia sempre. A princesa andava ardendo de curiosidade de ver o bicho Manjaléu, e certa vez, em que o rei e o marido foram à caça, pegou a chave e abriu a porta da sala do mistério. Mas o bicho feroz pulou e agarrou-a, dizendo: "Era você mesma que eu queria!" E lá se foi para a floresta com a pobre moça ao ombro Quando o rei e o marido da princesa voltaram da caça e souberam do acontecido, ficaram desesperados. Mas o dono das botas mágicas prometeu consertar tudo. Agarrou-as e disse: "Bota, bote-me onde está minha esposa".
E a bota botou-o.
O moço encontrou a princesa sozinha, pois que o Manjaléu andava pelo mato caçando.
— Minha querida esposa — disse ele — precisamos dar cabo desse monstro feroz, mas para isso é necessário que eu saiba onde é que ele tem a vida. A vida do Manjaléu está tão bem oculta que todas as tentativas para matá-lo têm falhado. Trate de saber onde ele tem a vida.
A princesa prometeu que assim faria, e quando o Manjaléu voltou deu jeito da conversa recair naquele ponto.
Manjaléu desconfiou.
— Ahn! Quer saber onde eu tenho a vida para me matar, não é? Não conto, não.
Mas a princesa, teimosa, tanto insistiu durante dias e dias que o bicho Manjaléu resolveu contar tudo. Antes disso ele amolou bem amolado, um alfanje, dizendo: "Vou contar onde está minha vida, mas se perceber que alguém quer dar cabo de mim corto sua cabeça com este alfanje, está ouvindo?"
A princesa aceitou a proposta. Ele que contasse tudo que ela ficaria com o pescoço às ordens do alfanje, no caso de alguém atentar contra vida do monstro. E o bicho Manjaléu então contou: "Minha vida está no mar. Lá no fundo há um caixão; nesse caixão há uma pedra; dentro da pedra há uma pomba; dentro da pomba há um ovo; dentro do ovo há uma velinha, que é a minha vida. Quando essa vela apagar-se, eu morrerei".
No dia seguinte, quando o bicho Manjaléu saiu novamente a caçar, o marido da princesa, que estivera escondido pela carapuça, apresentou-se.
"E então?" — perguntou. A princesa contou-lhe direitinho tudo que ouvira ao monstro.
O moço dirigiu-se à praia do mar e pegou na escama, dizendo:
"Valha-me, rei dos Peixes!" E imediatamente o mar se coalhou de peixes que indagavam do que ele queria.
— Quero saber em que ponto do fundo do mar há um caixão assim e assim.
— Eu sei — respondeu um enorme baiacu.
— Ainda há pouquinho esbarrei nele. Esse caixão está em tal e tal parte.
— Pois quero que me tragam aqui esse caixão.
Os peixes saíram na volada; logo depois apareceram empurrando um caixão para a praia. O príncipe abriu-o e encontrou a pedra. Como quebra-la?
Lembrou--se do fio de lã. Pegou no fio de lã e disse: "Valha-me, rei dos Carneiros!" Imediatamente apareceram inúmeros carneiros, que deram tantas marradas na pedra que a partiram.
Enquanto isso, lá longe, o Manjaléu, com a cabeça no colo da princesa e o alfanje na mão, ia sentindo coisas esquisitas.
— Minha princesa — disse ele — estou me sentindo doente. Alguém está mexendo na minha vida.
E sua mão apertou o cabo do alfanje.
A princesa engambelou-o como pôde, para ganhar tempo. Ela sabia que seu marido estava em procura da vida do monstro.
Assim que os carneiros quebraram a pedra, uma pombinha voou de dentro e lá se foi pelos ares. O moço lembrou-se da pena, pegou-a e disse:
"Valha-me, rei dos Pombos!" Imediatamente o ar se encheu de pombos, que o moço mandou voarem em perseguição da pombinha. Os pombos foram atrás dela e a pegaram. O moço tomou-a, espremeu-a e fez sair um ovo.
Lá longe o Manjaléu se sentia cada vez pior. Começava a desfalecer; e como não tivesse dúvidas sobre o que era aquilo, foi levantando o alfanje para degolar a princesa. Mas não teve tempo. O moço havia quebrado o ovo e assoprado a velinha. A mão do Manjaléu moleou — e seus olhos fecharam-se para sempre.
Estava o reino de Castela livre daquele horrendo monstro. O moço levou a princesa para o palácio, onde o rei a recebeu com lágrimas nos olhos. E para comemorar o grande acontecimento decretou uma semana inteira de festas. E acabou-se a história.

Histórias de Tia Nastácia – Monteiro Lobato.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

O festim celestial Um conto de fadas dos Irmãos Grimm.

Imagem Google.

Certo dia, na igreja da aldeia, um pobre camponesinho ouviu o padre dizer no sermão:
- Quem deseja entrar no reino dos céus, deve andar sempre direito.
Não compreendendo o sentido figurado da frase, o camponesinho meteu-se a caminho, andando sempre para a frente, sem nunca se desviar, atravessando montes e vales.
Por fim, chegou a uma grande cidade, no centro da qual havia esplêndida igreja, justamente na hora em que se celebrava a missa.
Entrou nela e, ao ver toda aquela magnificência, julgou que tinha chegado ao céu e, cheio de intensa felicidade, deixou-se ficar lá sentado.
Terminada a missa, o sacristão ordenou-lhe que se retirasse, pois ia fechar a igreja, mas ele respondeu:
- Não, não sairei daqui; sinto-me muito feliz por estar finalmente no céu.
O sacristão foi procurar o vigário e contou-lhe que na igreja estava um rapazinho que não queria sair, porque julgava encontrar-se no Reino dos Céus.
- Se ele julga isso, sinceramente, - respondeu o padre, - deixemo-lo na sua ilusão.
Em seguida, foi ter com o rapazinho e perguntou-lhe se queria trabalhar.
O pequeno campônio respondeu que sim. Estava habituado a trabalhar, mas não queria sair do céu.Portanto, ficou na igreja, fazendo pequenos serviços de limpeza. E quando viu os fiéis chegar e ajoelhar- -se com grande devoção diante da imagem, esculpida em madeira, de Nossa Senhora com o Menino Jesus, ele pensou consigo mesmo: "Esse é o bom Deus!" Aproximo use-lhe e disse:
- Ouve, bom Deus: como estás magro! Esta gente, por certo, deixa-te padecer fome. Mas eu hei de repartir contigo, diariamente, meu pão.
E, desse dia em diante, levava, diariamente, metade da refeição à estátua, e a imagem comia-a.
Decorridas algumas semanas, os fiéis notaram que a imagem crescia; estava engordando e ficando bem robusta. Todos se espantaram. Até o pobre vigário, que não entendia o que se passava, resolveu averiguar. Escondeu-se na igreja e seguiu os movimentos do menino. Então viu, com grande assombro, que ele repartia pão com a Virgem Maria e esta o comia.
Algum tempo depois, o rapazinho caiu doente e durante oito dias não saiu do leito. Mas, assim que se levantou, como primeira coisa, foi levar comida à Virgem. O vigário seguiu-o e ouviu dizer:
- Meu bom Deus, não fiques zangado se durante todos estes dias não te trouxe nada. Estive doente; não podia levantar-me!
A estátua da Virgem, então, respondeu-lhe:
- Tenho visto tua boa vontade em me seres agradável e isso me basta. No domingo próximo, virás comigo ao festim celestial.
O rapaz ficou radiante de alegria e foi contar ao padre; este pediu-lhe que perguntasse à imagem se, também, podia ir junto. O rapaz ajoelhou-se e fez a pergunta.
- Não, - respondeu a estátua, - só tu virás.
O vigário pôs-se então, a prepará-lo para a comunhão, com grande contentamento do rapaz.
E, no domingo seguinte, no momento em que recebia a Hóstia Sacrossanta, expirou. Deus levava-o a participar do festim celestial.

Atividades:

Colorir ou colar pedacinhos bem coloridos de revistas, as letra e as flores devem ser pintadas, bem com o rosto e as mãos da Virgem.


Montar o oratório de Nossa Senhora com cartolina e as  partes coloridas podem ser com colagem ou pintadas.